terça-feira, 9 de agosto de 2016

AS DUAS PRIMAVERAS DE 1875 ( Marcelo Moser)


Familia Antonio Moser - Esta é a foto mais antiga que possuimos. Aqui o patricarca, pai  de "Toni "já havia falecido e todos os irmão estão casados
Porque duas primaveras?
Para meus bisnonos que moravam em "Faida de Piné" - (Trento - Tirol do Sul - Itália), aquele ano foi um ano decisivo: Imigraram para o Brasil e essa decisão fez com que pudessem apreciar a primavera na Itália e depois no Brasil. 

Marcelo Moser, meu primo, num belo trabalho de imaginação e pesquisa escreveu um relato precioso de como poderia ter sido as emoções e os dias que antecederam a imigração de nosso bisavô “Antônio Moser”.

Com o intuito de comemorar os 140 anos da saída desse nosso antepassado da pequena localidade de “Faida DI Piné” em Trento, ele refez os preparativos e os prováveis trajetos que estes imigrantes fizeram.

Fica aqui o link para a leitura de todos. Tenho certeza que irão gostar!

(autorizado pelo autor)







"Em 2015 comemoramos os 140 anos da Imigração Trentina em Rodeio(SC).
Como homenagem pessoal a esse evento, apresento, de maneira ficcional, o que teria sido um blog postado por meu bisavô (o blogger Toni Pinaitro) caso existisse a internet e suas ferramentas à época.
Com base em alguns documentos familiares preservados e informações disponíveis e verídicas (*), vou tentar construir um enredo narrando as aventuras e vicissitudes que a imaginação me sugere tenham ou possam ter acontecido. As datas dos posts tentam seguir as mesmas datas de 1875, inclusive os dias da semana, para dar uma idéia do desenrolar dos acontecimentos ao longo de 2015.
Se gostarem, divulguem. Comentários são bem-vindos, mas serão publicados apenas os que "entrarem no clima" da época.
Saluti,

Marcelo A. Moser

(*) Obras consultadas: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE RODEIO, Iracema M Moser Cani, e VINCERE O MORIRE, Renzo M Grosselli."

Uomo Carboni – Homens Carvão



Com o fim da segunda guerra mundial a Itália estava em frangalhos.

Não havia emprego, a comida era artigo raro, de luxo e contrabandeada.

Grande parte das familias,  principalmente as familias de camponeses (boscaiolos) estavam passando por muitas necessidades e precisavam do trabalho para sobreviver.

 Haviam perdido suas vacas, suas terras estavam abandonadas e viviam com muitas dificuldades. Os jovens não tinham onde trabalhar.

O carvão sempre foi produto necessário para as indústrias  e a Bélgica o possuía em grande quantidade, mas não tinha mão de obra suficiente para extrair o mineral e tambem,  não era qualquer homem que se atrevia a trabalhar no interior de uma mina, pois quando o homem desce numa mina,  dentro de uma gaiola de ferro, ele se sente como Adão se sentiu quando perdeu o Paraíso.

Em 1946 a Bélgica e a Itália fizeram um acordo. A Itália deveria mandar a cada semana para a Belgica 2000 mineiros com até 35 anos para trabalhar nas minas de carvão em contrapartida uma percentagem da produção das minas  de carvão Belgas seria destinada à Itália.

Assim milhares de italianos foram atraídos para a Bélgica para trabalhar nas minas de carvão.

Meu Tio Vitor foi trabalhar nas minas de Bruxelas em 1946 e meu pai somente em 1949, pois até 1948 servia o exercito italiano.  

Tio Vitor na realidade não é meu tio, ele é meu padrinho, mas como nasceu no mesmo “paese” de meu pai eles devem ter algum grau de parentesco.

Tio Vitor e sua família sempre estiveram presentes em nossas vidas. Primeiro na vida de meu pai na Itália, depois aqui no Brasil. Para nós eles fazem parte de nossa familia, pois além da amizade que começou na infância, ambos se casaram com mulheres de uma pequena cidade de Santa Catarina (Rodeio) e que são primas em segundo grau. Os dois sempre moraram nas mesmas cidades.

 O trabalho nas minas de carvão sempre foi um trabalho muito duro e perigoso. As condições das minas eram instáveis.

Muitos morriam soterrados ou adoeciam por causa da silicose, doença causada pelo pó que se acumula nos pulmões. 

Deve se ter coragem para descer a 400 metros de profundidade, dentro de uma gaiola de metal,  cheia de homens que levavam lamparinas de gás para iluminar a escuridão das minas.



Essas mesmas lamparinas que iluminavam o caminho podiam trazer a morte ao provocar explosões.

Acrescente a isso um calor infernal, o suor, a poeira negra do carvão, o medo e a instabilidade.

Não era qualquer homem que tinha a coragem de se aventurar a trabalhar em uma mina.

Quando os homens saiam das minas a única coisa que podia se ver neles eram os olhos. Estavam completamente impregnados da fuligem...

Por outro lado eles pagavam bem e eles precisavam de dinheiro para reconstruir suas casas e de seus pais. As escolhas eram poucas...

Assim, cheios de coragem, meu tio e mais cinco ou seis amigos foram para Bruxelas trabalhar nas minas de carvão.

Na entrada da mina, em frente ao elevador que levava os homens para as entranhas da terra, dois dos amigos de meu tio já desistiram da empreitada e foram embora.

Os outros entraram na gaiola que os levaria até as profundezas. Quando a gaiola se abriu no fundo da mina todos os amigos desistiram.

Daquele grupo de amigo, somente ele teve coragem de entrar na mina e começar a trabalhar nela.

- Eu não tinha escolha. Éramos sete irmãos, mais o pai e a mãe. Todos sem trabalho.

Ele não teve escolha.

Trabalhou nas minas de carvão por quatro anos quando finalmente em 1950 após enviar grande parte do fruto do seu trabalho para os pais e irmãos (re) construírem suas casas ele dá um novo rumo a sua vida.

Resolve então viajar para a Argentina onde viviam muitos italianos, mas faria uma escala... Brasil.

Os tempos da negra fuligem ficariam para traz...  Rumo ao dourado sol do Brasil.



Cinco anos depois que eles deixaram a Belgica um grande desastre aconteceu :

“O desastre de Marcinelle ocorreu na manhã de 08 de agosto de 1956 na mina de carvão “Bois du Cazier Marcinelle”, Bélgica. Foi de um incêndio, causado pela combustão de óleo de alta pressão provocado por uma faísca eléctrica. O fogo, que se desenvolveu inicialmente no duto de entrada de ar principal, cheio de fumaça por toda a instalação subterrânea, matando 262 das 274 pessoas presentes, em sua maioria imigrantes italianos. O incidente é o terceiro para o número de vítimas entre os italianos no exterior após o desastre Monongah e Dawson. O site Bois du Cazier, agora abandonado, faz parte do património intemporal da UNESCO [1].”




(...) No charco das galerias,
Suntuosas catacumbas
Enxofradas de pirita,
Aspiro a nuvem maldita,
Que penetra disfarçada
Levando a morte aos pulmões.

Há mil tosses abafadas,
Mil soluços sufocados,
Quando a rafa faz o corte
Entre gemidos de morte,
Que perpassam como espectros
No rumor das explosões (...)
(Monsenhor Agenor Neves Marques)




https://it.wikipedia.org/wiki/Disastro_di_Marcinelle
file:///C:/Users/User/Desktop/mina.pdf

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