terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

"Animal Vestido"


- Seu Animal Vestido !

Essa era a expressão que meu pai costumava soltar quando alguém era imprudente e não pensava nas consequências de seus atos.  Na estrada, quando alguém lhe dava uma “fechada” era certo ouvir um: “SEU ANIMAL VESTIDO”. 


Apesar de italiano ele não xingava a mãe dessa pessoa nem a “Madonna” (Nossa Senhora).

Como filhas, eu e minhas irmãs nos acostumamos a ouvir esta expressão, mas, só agora, passados 23 anos de sua morte que percebi como era cheia de sabedoria e verdade essa expressão e como ele a usaria com mais frequência nos dias de hoje.


Nós, serem humanos, temos um comportamento chamado de “variável”, pois temos a capacidade de mudar nosso comportamento diante de diferentes situações devido à existência do encéfalo no sistema nervoso... É assim que funciona para aqueles que escolhem “pensar” e colocar em uso esse aparato do sistema nervoso.

Já nos animais o comportamento é instintivo. É o chamado comportamento hereditário. Ou seja, eles simplesmente repetem sem variações o comportamento de todos da sua espécie.  Eles não pensam, não conseguem pensar, simplesmente seguem o comportamento que a genética marcou neles.  Eles não conseguem aprender nada... Claro há algumas deliciosas e divertidas exceções no reino animal como os cães, baleias e outros.

Voltando a expressão de meu pai: ANIMAL VESTIDO

Então, o Animal Vestido seria aquela pessoa, ser humano em pleno gozo de suas faculdades mentais, que mesmo convivendo em sociedade, mesmo estando apto para pensar e agir de forma inteligente não consegue modificar suas atitudes nem em prol da sociedade e muitas vezes nem de si mesmo colocando em risco os outros e a si próprio.

Me pergunto:

Diante da situação atual do Brasil quantos “ANIMAIS VESTIDOS” têm por ai hoje em dia?  

- Com que frequência absurda ele iria usar essa expressão?


Saudades meu querido pai! Fique com Deus!

(psiu :  Hoje em dia chamar uma pessoa de "Animal Vestido", em muitos casos é um grande elogio).

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Porque Italianos e Tiroleses vieram para o Brasil ?


O que levou famílias inteiras a deixarem seu país naquele tempo?

Atualmente temos noticias de milhares de pessoas que são obrigadas a deixar sua cidade, seu pais por causa da disputa religiosa e de poder. 

O ser humano sempre foi nômade. Sempre se movimentou e viajou de um lado para outro, misturando seu DNA, sua cultura e transformando a terra.

Somos o sal da terra!  Aquilo que dá sabor e sentido a existência da terra. Alguns dizem que o homem é na verdade um virus que destrói o planeta. Concordo quanto à destruição que o homem causou a terra, mas se não fosse o homem quem iria admirar a beleza que a "Terra" tem? Por isso concordo com a frase:

 O homem é o sal da terra!

A família de minha mãe morava numa pequena localidade nos Alpes Europeus conhecida como "Faida di Piné", Trento. Hoje a região é considerada uma das mais belas do mundo mas  há 150 anos ela era uma região muito fria e com difícil relevo para se viver. A modernidade transpôs as dificuldades do terreno e do clima e a transformou num lugar cheio de charme e belezas onde se vive muito bem. 

Trento desenvolveu se a partir de um assentamento rético e seu nome é, provavelmente, de origem céltica, fazendo referencia ao "tridente" de Netuno com suas três colinas ao redor da cidade: Doss Trent, Doss Sant'Ágata e Doss di San Rocco.  Sempre foi uma Importante rota de passagem para diversos povos. Foi conquistada pelos romanos em 81 AC.

Entre 1545 a 1563 abrigou o famoso "Concilio de Trento" que foi uma reação da Igreja Católica a Reforma Protestante. Deste Concilio saíram diversas medidas para combater as doutrinas protestantes e reafirmar os dogmas católicos. É desta época a proibição do casamento para os membros do clero, a indissolubilidade do casamento entre tantas outras decisões.

Trento viveu todas as grandes transformações europeias em sua plenitude. 

A partir de 1867 a região de Trento passou a pertencer ao império Austro-Hungaro e logo em seguida entrou em uma crise profunda. A agricultura dava sinais de desgaste, a população aumentava, a área de cultivo diminuía e a alimentação era escassa.

Segundo dados de 1879 milhares de italianos viviam em cabanas ou grutas. As terras pertenciam ao "Signori". Quem trabalhava os campos eram os servos. Nas propriedades burguesas os colonos eram explorados e não tinham nenhum vinculo com a terra. E assim a esperança de possuir um pedaço de terra e de conquistar sua dignidade aumentava a vontade de emigrar. Por este motivo acolheram com entusiasmo as ideias de Giuseppe Garibaldi. Esperavam a distribuição das terras, mas foram barrados. Ao tentarem a sorte nas "Américas" diziam assim:

"Tentiamo la sorte. Peggio non sará. E gia che abbiamo di morire presto o tarde, tanto vale lasciare la nostra pelle in América como chi in Europa. Viva l´America ! Morte ai signori! Noi andiamo in Brasile. Ora i padroni devono lavorare la terra"

(Tentaremos a sorte. Pior não será. Já que cedo ou tarde temos de morrer, tanto faz deixar a nossa pele na América como na Europa. Viva a América. Morte aos Senhores. Nos vamos para o Brasil”. Agora os patrões que irão trabalhar na terra”.


Trento assim como todo o Tirol estava dividida entre aqueles que apoiavam a anexação de seu território a Itália e aos que queiram pertencer a Áustria. Naquele momento o território Trentino pertencia a Áustria e nesta disputa a Itália criou um forte embargo aos produtos tiroleses, ocasionando a crise no campo que culminou com a grande imigração Trentina a partir de 1875.
Apesar da imigração não ser apoiada pela monarquia austríaca o temor de uma nova guerra no Tirol fez com que famílias inteiras abandonassem sua terra natal. 

Em 1874 o governo brasileiro autoriza o Sr. Joaquim Caetano Pinto a importar 100.000 imigrantes europeus para o Brasil a fim de substituir a mão de obra escrava.

Em 1871 o Império do Brasil já havia decretado a "lei do ventre livre" a qual dava liberdade a todo filho de escravo que nascesse a partir daquela data. O fim da escravidão no Brasil era uma questão de tempo e os fazendeiros não sabiam quem iria substitui los.  Os imigrantes pobres europeus foram a solução para o Brasil.

Imigrantes alemães, colonos, já estavam no Brasil desde 1850 a convite de D. Pedro II.  

Foi assim que em 18/06/1875, levados pelas esperanças semeadas pelo Sr. Caetano Pinto que meus trisavós maternos partiram da pequena "Faida di Piné" junto com seus quatro filhos rumo ao Sul do Brasil.
Vieram no navio "Belgrano" e desembarcaram no Rio de Janeiro em 1/10/1875. Fizeram parte da terceira leva que se dirigiu a cidade de Rodeio- SC. 

 Aqui no Brasil, novos desafios os aguardavam... Tinham um território a conquistar... Tinham matas a derrubar... Índios a vencer... Casa a construir. 

Sorte tiveram os que conseguiram um terreno para plantar como meus antepassados. Muitos imigrantes foram enganados e enviados para fazendas de café para substituir a mão de obra escrava onde os senhores das fazendas os tratavam como propriedades assim como suas filhas. Muitos conflitos surgiram. 

A historia brasileira esqueceu, mas a entrada maciça de imigrantes acabou incentivando ações violentas nativistas contra os imigrantes italianos. Eles os viam como competidores no mercado de trabalho. 
Se na região Sudeste o conflito era a disputa pelo mercado de trabalho, no Sul, onde os imigrantes conseguiram a chance de comprar terrenos para sua subsistência a situação não foi melhor. O governo dizia que trazia os imigrantes para ocupar os "vazios demográficos", mas essas áreas estavam ocupadas por povos indígenas. Os conflitos sangrentos foram inevitáveis. 

Para os imigrantes italianos a situação se complicou mais quando a área destinada a eles era pior além de estar muito próxima das colônias alemãs. As rixas da Europa vieram junto.

A colônia alemã do Dr. Blumenau era protestante e os italianos (tiroleses) em sua maioria eram católicos. Dr. Blumenau chamava os italianos de "incorrigíveis vagabundos".
Essa animosidade só foi esquecida depois da segunda guerra mundial e em 1975 tanto os alemães como os italianos foram colocados juntos como elementos civilizadores da região.

Enfim, a fome, a guerra, a busca de dignidade fez com que milhares de imigrantes deixassem sua terra natal e é por isso que ainda hoje nós os lembramos cantando assim:

“L'imigrante italiano che in América arrivo,
(imigrante italiano que na América chegou)
Con un saccheto sulle spalle solamente si portó,
(Com um saco nas costas, sozinho)
Piano, piano, poveretto, la famiglia sua fondó,
(devagarinho coitado ele formou sua familia)
notte e giorno a lavorare ma il lavor mai lo stancó.
(dia e noite a trabalhar mas o trabalho jamais o cansou)

E or che l'imigrante é vecchiarello,
(e agora que o imigrante e velhinho)
coi filgli che in America ci há,
(com os filhos que tem na América)
senza dimenticare il paesello,
(não  esquece de seu país)
dove spera un giorno ritornar.
( onde um dia espera retornar)

L'América, l'América, terra di libertá,
(América, terra de liberdade)
ognuno che ci ha i fligli si deve rispettar
(onde qualquer um tem filhos que são respeitados)
L' Amércia, l'América, si deve aver l'onor.
(América se deve honrar)
Sol la bella nostra Itália non possiamo mai scordar,
( Só a nossa bela Itália não esquecemos)
Sol la bella nostra Itália non possiamo ritornar.
(Só na nossa bela Itália não podemos mais voltar)


Ponti, strade, le miniere, ferrovie, egli impiantó.
(pontes, estradas, minas, ferrovias ele implantou)
Del vecchietto italiano ne conoscono il sudor.
(do velho italiano tudo conhece seu suor)
Ogni figlio d'italiano chi in América lo sá,
(cada filho de italiano que existe na América)
sia dottore, sia avvocato tutto deve al suo papá
(seja doutor, seja advogado devem tudo ao seu pai).

E voi vecchierelli lo sapete.
(E você velhinho, bem sabe)
Che i vostri nomi sempre avanti vá.
(que o seu nome sempre vai para adiante)
La vostra gioventu é andata bene,
( os seus jovens se sairam bem)
in questa terra di felicitá.
    (nesta terra de felicidade)”

Passaporte de Antonio Moser


As Casas que os Imigrantes Deixaram

 Esta é a casa que meu pai imigrante italiano deixou para trás para imigrar para o Brasil em 1952

Antes ele foi campones, lenhador, lutou na segunda guerra mundial e trabalhou nas minas de carvão.

A casa agora reformada ainda esta lá na pequena localidade de Palu ( Caiolo - Sondrio). 

As casas eram grudadas uma a outra e permitia que os moradores se locomovessem entre elas sem a necessidade de sair na rua. Tudo isso para evitar encontrar algum lobo ou urso andando por lá a noite ou nos rigorosos invernos de então.

Hoje já não existem mais tantos lobos e as casas são recordações de um tempo de muito trabalho, dificuldades e sofrimentos mas que deixaram saudade.









 Minha mãe em visita a terra de meu pai, abraça "Bina" que com a enxada mostra como se trabalhavam no campo no começo do século XX. 




Uma foto tirada da estrada que passa em frente a pequena "frazione" del Palu.

Esta foto da decada de 1980, mostra casas mais modernas mas ao fundo ainda existem inumeras casas antigas, feitas de pedra, conhecidas como "baita".
A Frazione fica ao pé de uma montanha onde em muitas épocas do ano o sol não consegue cobrir com seus raios. 











Casa de "Bina Balgera".
Devotos como eram tinham sempre o costume de pintarem em frente das casas afrescos com imagens de Nossa Senhora ou um Santo. 
Os afrescos vão se deteriorando cada vez mais uma pena pois estão lá há muitos anos contando historias de fé e esperança. 










Esta casa é dos bisavós de minha mãe.
Fica perto de Trento em "Faida di Piné".
Região do Tirol.
Eles venderam essa casa para parentes a fim de angariar recursos para fazerem a travessia para o Brasil em 1875. Chegando aqui ajudaram a fundar um nova colonia hoje conhecida como "Rodeio". 
Nessas casas o andar térreo era reservado aos animais, o primeiro andar aos moradores e o sotão era o local onde armazenavam alimentos.







Casa de minha avó paterna na pequena cidade de "Colorina", Norte da Itália.

Toda feita em pedra ela mais parece uma gruta que desce para as profundezas da terra. Dizem que a construção tem mais de 500 anos... Eu me pergunto... Será que já estava ali quando o Brasil foi descoberto ? O antigo para nós é muito recente para os europeus acostumados com histórias e construções milenares.

A devoção a "La Madonna" se nota no afresco em frente da casa.
Esta foto tambem é da década de 80 e ainda era a mesma familia a proprietaria da casa. 

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