No Tirol Italiano (Trento), no Veneto e
em toda Itália, havia se espalhado a noticia que no Brasil a terra era mais
generosa.
Que no Brasil seus filhos seriam respeitados e que nas terras do Brasil o ouro escorria em pequenas pepitas de ouro.
Que no Brasil seus filhos seriam respeitados e que nas terras do Brasil o ouro escorria em pequenas pepitas de ouro.
Era a terra da fartura, a “Terra da Cucagna”!
Existem relatos de imigrantes que acharam
pepitas de ouro após grandes chuvas torrenciais em algumas cidades do Brasil
pôr era uma exceção. O ouro não brotava tão facilmente do chão e para que a terra
desse frutos tiveram que trabalhar muito.
Os jornais da época assim noticiavam:
“Mais 171 pessoas estão em Trento para
partirem desta vez para o Brasil. O jornal suspeita que o futuro de todos eles
não seja fácil como estão prometendo.”
E no dia seguinte,
“Continua a emigração do Trentino para o
Brasil apesar das noticias pessimistas que chegam daquela terra distante. De
Trento partiram mais de 800 pessoas de Fornace. Outra centena de emigrantes
partiram alguns dias depois.”
Hoje, 28/08 fazem exatos 140 anos que a
primeira leva partiu de Trento para uma aventura de vida ou morte.
Logo em seguida vieram também os bisavós
de minha mãe.
Fugindo da pobreza ou da miséria, da
exploração, das doenças e das guerras eles venderam o “quase nada” que tinham e
partiram para o desconhecido e exótico Brasil.
Não foi a Terra da "Cucagna" que
encontraram!
Durante a viagem, nos navios sujos e
abarrotados de gente, dos piolhos, das doenças, as pessoas morriam. Mães
perdiam filhos. Filhos perdiam seus pais e eles viam seus entes queridos serem
jogados ao mar!
Sofrendo mas não podendo desistir da aventura na qual haviam entrado, eles recobravam as esperança quando a noite olhavam para o alto do céu:
- Uma terra que
tem uma Cruz desenhada no seu céu só pode ser uma terra abençoada! E é para lá
que estamos indo.
(Eles se referiam à
constelação do "Cruzeiro do Sul" que só pode ser vista no hemisfério
sul do nosso planeta.).
Não era só a viagem e a despedida dos entes
queridos que os faria sofrer. O que os aguardava no desembarque também não
seria fácil.
Após a chegada, trocavam de navio para chegarem
a Itajaí. De lá eram transferidos em carroças para um paiol sujo, infecto e
lotado na Colônia de Blumenau.
Amontoadas as famílias aguardavam que o
governo imperial apontasse qual porção de terra lhes seria designada para
trabalharem e pagarem por ela.
Sim, Eles pagaram pelas terras!
O programa contemplava os estrangeiros,
mas também os brasileiros que quisessem se aventurar naquelas terras.
As terras não eram caras como também não
eram boas e tiveram muitas dificuldades.
Eles iam desbravaram terras que não eram "habitadas", onde a
vegetação imperava soberba e soberana e onde habitavam livres as feras... E os índios,
os donos da terra.
Em 1875, enquanto ainda estavam no paiol
aguardando uma resposta das autoridades, uma certa noite, eles viram encantados
uma grande estrela que viajava no céu.
Seria um sinal? Só podia ser!
E mais uma vez a esperança foi renovada.
Quando finalmente fizeram a demarcação das
terras eles perceberam que teriam de desbravar uma floresta onde habitavam os
índios, que eram os moradores da região e que estes não a entregariam sem luta.
Nenhum deles podia perder essa guerra!
Nenhum deles podia voltar atrás!
Foi uma luta de vida e morte para ambos!
Lutas, guerra, sofrimento, morte! Para
ambos!
Os homens foram na frente para abrirem as
estradas e construírem as primeiras cabanas feitas de madeira com teto de
folhas de palmito que iriam abrigar essas famílias nos primeiros anos.
Assim começaram meus antepassados neste
pais!
Primeiro foram convidados a vir viver uma
aventura na terra da Cucagna...
Depois, tiveram que lutar muito para que
pudessem sobreviver nela.
Antônio Moser, sua mulher e seus quatro
filhos estavam nesta jornada.
Também estava Bernardo Fiamoncini, Vitória
Sardagna e outros que foram chegando com o passar dos anos.
Muitos brasileiros, bisnetos de imigrantes
hoje se perguntam se não teria sido melhor eles terem ficado em Trento, na
Itália, e não terem imigrado. Afinal a região é linda, de uma natureza
exuberante. Hoje em dia, os descendentes desses imigrantes querem ir para lá
morar!
Eles se esquecem, ou talvez não saibam que
a cidade de Trento de hoje não é a mesma da qual nossos imigrantes saíram...
Não!
As dificuldades eram enormes! Eles eram
camponeses. Pobres! Explorados! A maioria deles era obrigada a lutar em guerras
que não acreditavam!
Naquele tempo praticamente não existia
esperança para um camponês melhorar sua vida. Seu destino era trabalhar nas
terras, pastorear o gado... No inverno e no verão... E não tinham esperança de
estudarem e se formarem... ! Seu destino era ser para sempre um camponês,
trabalhando na terra.
Por este motivo vieram para o Brasil...
Aqui esperavam que seus filhos pudessem estudar e ter um futuro melhor.
Com o passar dos anos, a cidade de Trento
e região se tornou um lugar turístico, aprazível para se viver e cobiçado para
se morar. Mas isso foi depois... Muito depois dos nossos italianos partirem de
lá.
Se eles não tivessem partido de lá, poderíamos
não estar aqui! Seu ancestral poderia ter morrido numa guerra pelo Império
Austro Húngaro, ou na Primeira guerra mundial... Ou na segunda grande guerra.
Já pensou?
Hoje, há exatos 140 anos desta partida, eu
estou aqui a rezar por todos aqueles que lutaram e perderam (e ganharam) suas
vidas a fim de que eu pudesse estar aqui escrevendo.
Por aqueles que com o coração constrangido
deixaram seu lugar e sua gente.
Por aqueles que superando todo o medo e a
insegurança que sentiam, venderam todos os seus parcos pertences e embarcaram
nos convés de navios apinhados de gente. Sem conforto! Como bichos!
Obrigada velho imigrante, obrigado Toniol
de Miola, (Antônio Moser).
Bernardo Fiamoncini,
Sardagna...
Obrigada por todos aqueles que lutaram e venceram.
Obrigada a todos aqueles que lutaram e
pereceram nesta aventura!
Meu respeito aos valorosos índios que
lutaram pela posse
de suas terras!
Em nossa memória vão ficar vivos para
sempre!
Canção do Imigrante
“O
imigrante italiano que na América chegou,
Sozinho seguiu em frente.
Devagar sua família ele criou,
Dia e noite a trabalhar, mas o trabalho
jamais o cansou.
E agora que o imigrante é velhinho,
com os filhos criados na América,
Ele não esquece sua pequena cidade,
Onde espera retornar um dia.
“A América é terra de liberdade,
Lá você terá seus filhos que serão respeitados.
A América se deve honrar!
Só que para a nossa bela Itália não
podemos mais voltar”
Pontes, estradas, minas, ferrovias,
Conhecem o suor do imigrante italiano.
Cada filho de italiano aqui na América
chegou,
Se hoje é um doutor ou se é um advogado, tudo o que conseguiu,
Deve a ele ao Imigrante!
E você, meu velho Imigrante, bem sabes,
que o vosso nome sempre adiante irá.
A sua juventude deu frutos,
nessa terra de felicidade.
(tradução livre da letra O Imigrante Italiano)
http://italiasempre.com/verpor/limmigranteita2.htm
http://italiasempre.com/verpor/limmigranteita2.htm
![]() |
Casa que pertenceu a Antonio Moser em Faida di Piné - Trento |