sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Um Pouco sobre a Imigração Italiana - 140 ANOS - 28/08/2015

No Tirol Italiano (Trento), no Veneto e em toda Itália, havia se espalhado a noticia que no Brasil a terra era mais generosa. 

Que no Brasil seus filhos seriam respeitados e que nas terras do Brasil o ouro escorria em pequenas pepitas de ouro.
Era a terra da fartura, a “Terra da Cucagna”!

Existem relatos de imigrantes que acharam pepitas de ouro após grandes chuvas torrenciais em algumas cidades do Brasil pôr era uma exceção. O ouro não brotava tão facilmente do chão e para que a terra desse frutos tiveram que trabalhar muito.

Os jornais da época assim noticiavam:

“Mais 171 pessoas estão em Trento para partirem desta vez para o Brasil. O jornal suspeita que o futuro de todos eles não seja fácil como estão prometendo.”

E no dia seguinte,

“Continua a emigração do Trentino para o Brasil apesar das noticias pessimistas que chegam daquela terra distante. De Trento partiram mais de 800 pessoas de Fornace. Outra centena de emigrantes partiram alguns dias depois.”

Hoje, 28/08 fazem exatos 140 anos que a primeira leva partiu de Trento para uma aventura de vida ou morte.

Logo em seguida vieram também os bisavós de minha mãe.

Fugindo da pobreza ou da miséria, da exploração, das doenças e das guerras eles venderam o “quase nada” que tinham e partiram para o desconhecido e exótico Brasil.

Não foi a Terra da "Cucagna" que encontraram!

Durante a viagem, nos navios sujos e abarrotados de gente, dos piolhos, das doenças, as pessoas morriam. Mães perdiam filhos. Filhos perdiam seus pais e eles viam seus entes queridos serem jogados ao mar!

Sofrendo mas não podendo desistir da aventura na qual haviam entrado, eles recobravam as esperança quando a noite olhavam para o alto do céu:
  
- Uma terra que tem uma Cruz desenhada no seu céu só pode ser uma terra abençoada! E é para lá que estamos indo.

(Eles se referiam à constelação do "Cruzeiro do Sul" que só pode ser vista no hemisfério sul do nosso planeta.).

Apesar de todo o sofrimento eles mantinham sua esperança e fé na nova terra.

Não era só a viagem e a despedida dos entes queridos que os faria sofrer. O que os aguardava no desembarque também não seria fácil.

Após a chegada, trocavam de navio para chegarem a Itajaí. De lá eram transferidos em carroças para um paiol sujo, infecto e lotado na Colônia de Blumenau.

Amontoadas as famílias aguardavam que o governo imperial apontasse qual porção de terra lhes seria designada para trabalharem e pagarem por ela.

Sim, Eles pagaram pelas terras!
O programa contemplava os estrangeiros, mas também os brasileiros que quisessem se aventurar naquelas terras.

As terras não eram caras como também não eram boas e tiveram muitas dificuldades.  Eles iam desbravaram terras que não eram "habitadas", onde a vegetação imperava soberba e soberana e onde habitavam livres as feras... E os índios, os donos da terra.

Em 1875, enquanto ainda estavam no paiol aguardando uma resposta das autoridades, uma certa noite, eles viram encantados uma grande estrela que viajava no céu.

Seria um sinal? Só podia ser!

E mais uma vez a esperança foi renovada.

Quando finalmente fizeram a demarcação das terras eles perceberam que teriam de desbravar uma floresta onde habitavam os índios, que eram os moradores da região e que estes não a entregariam sem luta.

Nenhum deles podia perder essa guerra!

Nenhum deles podia voltar atrás!

Foi uma luta de vida e morte para ambos!

Lutas, guerra, sofrimento, morte! Para ambos!

Os homens foram na frente para abrirem as estradas e construírem as primeiras cabanas feitas de madeira com teto de folhas de palmito que iriam abrigar essas famílias nos primeiros anos.

Assim começaram meus antepassados neste pais!

Primeiro foram convidados a vir viver uma aventura na terra da Cucagna...
Depois, tiveram que lutar muito para que pudessem sobreviver nela.  

Antônio Moser, sua mulher e seus quatro filhos estavam nesta jornada.

Também estava Bernardo Fiamoncini, Vitória Sardagna e outros que foram chegando com o passar dos anos.

Muitos brasileiros, bisnetos de imigrantes hoje se perguntam se não teria sido melhor eles terem ficado em Trento, na Itália, e não terem imigrado. Afinal a região é linda, de uma natureza exuberante. Hoje em dia, os descendentes desses imigrantes querem ir para lá morar!
Eles se esquecem, ou talvez não saibam que a cidade de Trento de hoje não é a mesma da qual nossos imigrantes saíram... Não!

As dificuldades eram enormes! Eles eram camponeses. Pobres! Explorados! A maioria deles era obrigada a lutar em guerras que não acreditavam!

Naquele tempo praticamente não existia esperança para um camponês melhorar sua vida. Seu destino era trabalhar nas terras, pastorear o gado... No inverno e no verão... E não tinham esperança de estudarem e se formarem... ! Seu destino era ser para sempre um camponês, trabalhando na terra.
Por este motivo vieram para o Brasil... Aqui esperavam que seus filhos pudessem estudar e ter um futuro melhor.
Com o passar dos anos, a cidade de Trento e região se tornou um lugar turístico, aprazível para se viver e cobiçado para se morar. Mas isso foi depois... Muito depois dos nossos italianos partirem de lá. 
Se eles não tivessem partido de lá, poderíamos não estar aqui! Seu ancestral poderia ter morrido numa guerra pelo Império Austro Húngaro, ou na Primeira guerra mundial... Ou na segunda grande guerra. 
Já pensou?

Hoje, há exatos 140 anos desta partida, eu estou aqui a rezar por todos aqueles que lutaram e perderam (e ganharam) suas vidas a fim de que eu pudesse estar aqui escrevendo.

Por aqueles que com o coração constrangido deixaram seu lugar e sua gente.

Por aqueles que superando todo o medo e a insegurança que sentiam, venderam todos os seus parcos pertences e embarcaram nos convés de navios apinhados de gente. Sem conforto! Como bichos!


Obrigada velho imigrante, obrigado Toniol de Miola, (Antônio Moser).

 Bernardo Fiamoncini,

 Sardagna...

Obrigada por todos aqueles que lutaram e venceram.

Obrigada a todos aqueles que lutaram e pereceram nesta aventura!
Meu respeito aos valorosos índios que lutaram pela posse 
de suas terras!

Em nossa memória vão ficar vivos para sempre!
  
Canção do Imigrante 

 “O imigrante italiano que na América chegou,
Com um saco sobre as costa,
Sozinho seguiu em frente.

Devagar sua família ele criou,

Dia e noite a trabalhar, mas o trabalho jamais o cansou.
E agora que o imigrante é velhinho,

com os filhos criados na América,
Ele não esquece sua pequena cidade,

Onde espera retornar um dia.

“A América é terra de liberdade,

Lá você terá seus filhos que serão respeitados.
A América se deve honrar!

Só que para a nossa bela Itália não podemos mais voltar”


Pontes, estradas, minas, ferrovias,

Conhecem o suor do imigrante italiano.
Cada filho de italiano aqui na América chegou,
Se hoje é um doutor ou  se é um advogado, tudo o que conseguiu,
Deve a ele ao Imigrante!
E você, meu velho Imigrante, bem sabes,

que o vosso nome sempre adiante irá.
A sua juventude deu frutos,
nessa terra de felicidade.


  
(tradução livre da letra O Imigrante Italiano) 
http://italiasempre.com/verpor/limmigranteita2.htm





Casa que pertenceu a Antonio Moser em Faida di Piné - Trento

2 comentários:

  1. Parabéns amiga por ser descendente de pessoas tão corajosas e merecedoras da nossa admiração, carinho e gratidão. Esses valorosos imigrantes contribuíram muito para o progresso do nosso País. Obrigada por você existir e ter nas veias o sangue de pessoas admiráveis e também por repartir conosco um pouco da história de seus antepassados.

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  2. Obrigada Salete por suas palavras sempre tão lindas ! Voce é uma pessoa muito generosa !

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