Neste tempo de covid 19 eu acabei me
lembrando de uma historia da infância de meu pai que ele sempre nos contava.
Para os que não me acompanham, eu
esclareço que ele nasceu no Norte da Itália, num pequeno lugarejo chamado Palú
na comunidade de Caiolo, Província de Sondrio, Lombardia, região atualmente
assolada drasticamente pela pandemia do Covid 19.
Eu não sei bem em que data... Acredito
que tenha sido em 1937 ou 1938, quando ele tinha por volta de 13 anos de idade
que o lugarejo foi acometido por um surto de tifo e muitas pessoas ficaram
doentes e várias morreram.
Meu pai assim como alguns amigos também
adoeceu de “tifo”. Ficou tão doente que achavam que ele iria morrer. Todos os
sintomas vieram muito fortes. Deste período
ele só se lembrava da febre e de seus pais muito preocupados com seu
estado:
“febre
alta, persistente e difícil de controlar, dor de cabeça muito forte,
prostração. Com o agravamento do quadro, eles evoluem para delírio e estupor
(inconsciência profunda)."(2)
Enfim depois de vários dias a febre foi
embora e ele recobrou a consciência e começou a sentir uma fome e uma sede
brutal, mas seus pais não o deixavam comer ou beber, restringiram drasticamente sua alimentação. Na verdade essa era a crença naquele tempo: Após a febre o convalescente não podia se
alimentar pois o tifo é um tipo de infecção intestinal que lesa muito o
intestino. Assim, para proteger o doente ele restringiam a alimentação daqueles
que apresentavam uma melhora. Hoje sabemos que o excesso dessa restrição
alimentar neste período causou a morte de muitas pessoas que podiam ter
sobrevivido.
E isso estava acontecendo com aquele
menino... Meu pai.
Ele já havia superado a febre, a pior
fase da doença mas, agora, a sede e a fome o estavam matando. Era questão de
dias, poucos dias.
Seus pais eram colonos. Moravam numa
pequena, modesta e típica casa da região, ou seja: A casa tinha um sótão onde
colocavam para secar o excedente das colheitas que tinham e durante o surto de
tifo o sótão estava cheio de... MAÇAS! Deliciosas maças secando no sótão. O
aroma descia pela tosca e íngreme escada e perfumava a pequena casa.
Enlouquecido pela fome e pela sede ele
não resistiu e desobedeceu as
recomendações do médico e de seus pais. Esperava a noite chegar e todos irem dormir
e no silencio da noite, o fraco menino se arrastava até o sótão onde se fartava
de comer maças: uma, duas, três, dez maças e depois de saciado ele retornava
feliz para a sua cama, em silencio, não contando sua aventura para ninguém.
Assim começou a dormir durante o dia e a
noite voltava ao sótão para se saciar de maças.
Os dias foram passando e ele se
recuperando e então sob recomendação médica começaram a lhe dar sopa e agua...
Enfim...ele se recuperou.
Só contou a historia das maças para seus
pais depois de passado muito tempo. Para nós
suas filhas, ele contava essa historia rindo e não entendia bem o porque
ele se “safou” do tifo.
Já era avô quando ele contou essa historia a um
médico. Esse médico lhe disse que na verdade essa sua desobediência de comer as
maças que lhe salvou a vida pois elas lhe forneceram agua e possuiam os nutrientes necessário, ideais para sua recuperação.
Maças como sabemos hoje são ótimas para
o intestino... E o salvou.
Ele dizia então: Que foi a Cura das Maças