quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

CAPITULO III – ALGUMAS HISTORIAS DE SINOS E OS HOMENS CARVÃO


 
NAVIO CORRIENTES

Não tinha negociação. Hora de almoço e jantar era todos juntos á mesa, almoçando e jantando na mesma hora. 
Claro que tentávamos fugir do ritual da mesa afinal era jovem e tínhamos muito para ver, fazer ou mesmo não fazer nada: só ver TV. Eu já era magérrima e isto deixava meus pais preocupados porque eu mal me sentava á mesa e já queria sair. Mesmo assim, foi em volta da mesa que conversei muito com ele e foi ali sentada que deve ter nascido essa minha vontade de ficar procurando historias da família. Era em volta da mesa que ele contou a sua historia. . Não é que tínhamos uma vida social agitada, mas nossa casa era frequentada por amigos, parentes distantes e próximos e como uma boa família italiana era em volta dela que a conversa se desenrolava. Muitas vezes, após o jantar ou o almoço do domingo, saiamos dela e íamos para a sala, conversar, ouvir musica e às vezes dançar.
Naquele tempo, e nem é tão distante, tínhamos o costume de ouvir musica e dançar na sala das casas. 
Quantos aniversários e réveillons eu fiquei de “DJ” ao lado do toca disco para fazer o povo dançar.  Era divertido.
Meu pai chegou ao Brasil em 1952. Veio a bordo do navio “Corrientes”.
Lembro-me dele contando das recomendações feitas pelos amigos com relação à alimentação no Brasil, no caso Rio de Janeiro: não beba água a não ser a mineral, não coma em qualquer restaurante, não coma feijoada.
Assim que chegou ao Rio de Janeiro ele foi apresentado à famosa “feijoada”. Ele se sentiu enojada com aquela “gororoba” preta e gosmenta, mas foi só comer uma vez e ficou um eterno apaixonado pela iguaria brasileira.
Antes de chegar ao Brasil meu pai havia morado por uns três anos na Bélgica trabalhando nas minas de carvão em Liége.  Hoje esta mina foi fechada e contam historias terríveis sobre ela de como era perigosa e como sofriam os que lá trabalhavam.  Ele contava que tinham um sistema de proteção que para a época era bem moderno porem também dizia que a mina era terrivelmente perigosa, pois era muito grande e funda. Ele trabalhou nas minas logo depois da guerra para juntar dinheiro que começou a mandar para seus pais. Com esse dinheiro seu pai pode comprar uma vaca que fez historia na família: La Muca Perla. A tal vaca era uma vaca premiada, mas que havia tido uma infecção em uma das tetas e por esse motivo foi vendida muito abaixo do preço. Essa vaca recebeu atenção especial na casa de meu Nono Daniele pois ele pode voltar a fazer manteiga e queijo para família e vender o excedente.
Para ela foi separada uma grande “campana” (sino) com um largo cinto de couro e com uma fivela feita de estanho e prata toda trabalhada.
Quando estive na Itália visitando meu tio Evelino ele me deu de presente a tal “campana” dizendo que por mérito era de meu pai, pois foi ele quem mandou o dinheiro para comprar a “Perla”. 
Fiquei muito contente com o presente e resolvi vir com ele numa sacola de mão juntamente com vários itens proibidos para viagem como queijos, salames, funghi, bresaola etc..
Tentando dar uma de esperta eu coloquei sobre todos estes itens que queria esconder uns absorventes higiênicos, pensando que o policial que fosse me revistar ia se sentir incomodado em colocar a mão em itens tão femininos... 
Que vergonha passei achando que estava sendo esperta... Não lembrei que deveria passar pelo raio-X na hora de fazer o check-in e assim que minha sacola começou a rolar pela esteira um alarme disparou. Eu fiquei nervosíssima, já estava preocupada, pois havia entrado com um dinheiro a mais na Itália e não havia declarado... Estava retornando com ele, mas como provar? A sirene caiu como um raio em mim. Fiquei desnorteada e a funcionaria me perguntava o que eu levava de metal na sacola. Apesar do peso absurdo do sino eu só me lembrava dos itens “proibidos” que carregava.
Como viam que eu não respondia um “carabinieri” armado foi chegando perto de mim de forma ameaçadora... E eu ficando mais bamba. Resolvi então abrir a sacola e tentar descobrir o que havia lá dentro e comecei a colocar todos aqueles absorventes para fora da sacola... Morrendo de vergonha! Foi então que lembrei do tal sino. Então, comentei com a funcionaria:
- É uma Campana! Mi há rigalata mio zio! (É um sino, meu tio me deu de presente).
A funcionaria olhou para tela onde havia a imagem de um objeto que estava dentro da sacola e que ela tentava identificar. Começou a rir... Mandou fechar a sacola e me deixou passar com tudo o que havia lá dentro e ela não viu.
Fui me sentar no salão de embarque e para relaxar resolvi acender um cigarro. Ah! Era outro tempo. Podia se fumar em todos os lugares: nos salões, bares, ônibus e aviões. Era outro tempo em parte... As coisas começavam a mudar.
Acendi o cigarro e o tal “carabinieri” que me ameaçou na hora do check-in voltou novamente para perto de mim e se instalou á minha frente me olhando fixamente: tudo tenso, muito tenso. Até que ele se chega perto de mim e me pede para parar de fumar. Ufa! Era só apagar o cigarro.
Mais tarde descobri que eles ficaram “cismados” comigo porque no dia anterior uma brasileira havia tentado passar com uma “arma”. Acho que pensaram que era uma quadrilha e eu devia fazer parte... Só que não!
O tal sino ainda esta comigo e sempre que o vejo me lembro da historia da família.
Ele tem toda uma historia de reconstrução e sacrifício.
Ir para as minas de carvão depois da guerra era a única opção de emprego para os jovens daquele tempo e a Itália exportou o tal “uomo carbono” - homem carvão, aos milhares.   Para os italianos este tempo é conhecido como: La schiavitu degli italiani – a escravidão dos italianos.


Eles iam por livre vontade, mas é porque não tinham outra opção. O pós-guerra deixou a Itália em estado de penúria. A família de meu pai havia sido saqueada pelos dois exércitos. Levaram toda a criação e a terra só dava o suficiente para se alimentarem. Não passaram fome, mas não tinham dinheiro para comprar nada e o que não produziam precisava ser comprado.
Meu pai me falou que foi um tempo difícil porem quem me fez entender o desespero de se subjugar a ir às minas foi meu tio Vitor Bernardara.
Ele era primo de meu pai e um ano mais velho. Foi ele o primeiro da turma a ir para a Bélgica nas minas.
Ele contou que foi porque tinha muitos irmãos e eles não tinham como comprar sapatos e outros itens. Era uma família com vários filhos. Ele se armou de coragem e juntamente com uns 10 amigos foram para a Bélgica. Ele contou que assim que a “gaiola” da mina se abriu para eles entrarem uns três amigos já desistiram. Antes de a gaiola chegar ao fundo da mina outros três já tinham desistido e quando a gaiola se abriu na profundeza da terra ele ficou sozinho. Nenhum amigo teve coragem de trabalhar no lugar. Ele disse: Eu não tinha opção. Tinha que ir em frente.
O trabalho na mina era perigoso e insalubre e não era a toa que eram bem pagos.
Foi como dinheiro que recebeu nas minas de carvão que ele comprou a vaca “Perla” e pode ajudar os pais por um bom tempo. Ele sempre ajudou seus pais e irmãos.
A verdade é que esses “uomo carboni” eram generosos.  Ficavam o dia inteiro debaixo da terra correndo risco de vida com os rostos suados e cobertos por uma fuligem negra que também era inalada, mas tinham um prazer enorme em presentear as namoradas e gastar seu dinheiro com bons tecidos, relógios, perfumes. Nos finais de semana se vestiam com elegantes ternos. Esta paixão eles levaram para toda a vida: Sabiam escolher um terno elegante. Isto quando resolviam colocar um terno pois aqui no Brasil o clima nunca foi propicio para essa elegância belga e gostavam mesmo é de tecidos leves e camisas de manga curta.
CHIARI, DONATO OU FERRUCIO, ADOLFO, VITOR E FABIO


Meu pai foi para as minas e ficou por uns dois meses quando então resolveu voltar para sua cidade mas como não achou um bom emprego e detestava a vida no campo ele resolveu voltar. Entre “idas e vindas” trabalhou nas minas da Bélgica de 1948 até a época de imigrar para o Brasil, começo de 1952. Seu primo Vitor já estava no Brasil há alguns meses e chamou os amigos para participarem de mais essa aventura:
Andiam Fare l´América! (Vamos fazer a América)

Fotos das minas na Bélgica: 






MINHAS HISTÓRIAS - CAPITULO II - A FAMILIA



Não sei desde quando meu avô Daniele ou seus pais se fixaram em Palú. Talvez não tenha sido há tantos anos. Talvez há três ou quatro gerações.
Emília Ceserina Zamboni foi minha avó, mãe de meu pai. Nasceu num paese próximo ao Palú conhecido como “Colorina”. Também não sei quando sua família chegou na região.  O que constatei na minha pesquisa é que os sobrenomes Bonini e Zamboni também são comuns no Tirol e provavelmente vieram de mais ao Norte. Áustria, Suíça ou arredores.
O paese de Colorina é conhecido pelo excelente leite que suas vacas produzem e com certeza os pais de Emília trabalhavam com a terra e com as vacas.
Atualmente ainda existe na região um moinho de farinha de propriedade de um parente não muito distante. O moinho está lá desde 1853: Mulino Zamboni
Meu pai se chamava “Adolfo Bonini” no registro civil e “Adolfo Mario Bonini” era seu nome de batismo. 
Um fato interessante para o ano de 1925 quando a medicina não estava tão evoluída: Minha avó teve meu pai com a idade de 45 anos. Depois dele ainda houve outro filho, Guilherme Bonini que morreu ainda criança.
Existe um relato que não sei ao certo, mas que Guilherme teria morrido vitima de uma árvore que caiu em cima dele. A região era de lenhadores e casos assim eram comuns.

GENEALOGIA DE ADOLFO BONINI

Seu Pai – Daniele Bonini (*30/06/1872 / + 16/06/1955)

Sua Mãe – Emília Ceserina Zamboni Bonini (* 09/03/1882 / + 09/02/1975)

Seus irmãos:

Romeo Bonini (* 23/12/1916 / + 09/05/1991) – Ele foi casado com Pierina e não tiveram filhos.

Evelino Bonini (* 19/08/1919 / + 19/06/1985) – Casou se com Tulia e tiveram dois filhos: Mario e Germano

Luigina Bonini (* 31/12/1921 / + 02/10/1940) – Morreu solteira

Guilherme Bonini – morto ainda criança

Antônio Bonini – morreu idoso / Era filho de Daniele Bonini com sua primeira esposa. Antônio se casou com Elvira Giapona, mas não tiveram filhos.

Avós Maternos: Battista Zamboni (* 30/10/1844)
Celerina Maria Gavazzi Zamboni (30/06/1849)

Avós Paternos: Basílio Bonini
Domenica Bonini

Bisavós maternos (pais de seu avó materno): Giovanni Battista Zamboni
Maria Platti



Evelino e Tulia. Sentada Emilia com
os netos : Mario e Germano

Romeu e Pierina


Avós maternos de Adolfo : Zamboni Battista e Caterina Gavazzi



Antonio e Elvira


Nona Emilia gravida aos 45 anos de meu pai Adolfo, Luigina,
Nono Danielle, Evelino, Romeu e Antonio .


Meu pai Adolfo no centro com os amigos Sereno e Nelo. 

MINHAS HISTORIAS - CAPITULO I - IL PALÚ


Meu pai era italiano. Nasceu em uma pequena localidade no norte da Itália perto da fronteira com a Suíça. Eles chamam essas pequenas localidades de “paese” ou “frazione”.  Então para se localizar diz se que Palú é um “paese” que pertence à comuna de “Caiolo” na província de “Sondrio”, na “Baixa Valtellina”, Lombardia, Itália. 
 A Valtellina é o coração dos Alpes italianos e apresenta diversas paisagens com vales, maravilhosas montanhas cobertas de neve durante todo o ano, geleiras, parques naturais, vinhas, cidades antigas, aldeias, castelos medievais etc... Atualmente é conhecida como região de resorts para a prática de esqui, com vários spas termais. Possui montanhas que vão de 278 a 2.663 metros.
Há séculos a região da Valtellina é terra de deliciosos queijos, vinhos, “bresaola”, da famosa “Polenta Taranha”, castanhas, amêndoas, avelas e especialmente são montanhas onde se encontra com facilidade os famosos e aromáticos “funghi porcini”.
Se hoje a região é de resorts e turismo no passado era um local de gente muito humilde que trabalhava muito para conseguir um pouco do que a terra produzia.
Localizada as margens do Rio Adda sempre foi estratégico ponto de passagem entre o norte da Itália e a Suíça com o típico ar puro de montanha.
A região tem origem muito antiga. Escavações encontraram no local uma faca usada pelos gauleses nos ritos de sacrifício além de moedas romanas.   Pertenceu ao bispo de Como, a família Capitanei de Sondrio e só em 1446 se tornou uma cidade livre sob o domino do Sforza.  Em 1487 foi travada uma grande batalha conhecida como “Batalha de Caiolo”.  A população de Caiolo atingiu seu ápice em 1589, quando contava cerca de 1500 habitantes (hoje tem 1.507).  Em 1600 uma grande praga chegou a dizimar quase metade de sua população. Em 1700 Caiolo e os territórios vizinhos foram afetados pela fome, pois seu gado era frequentemente ameaçado por ataques de lobos e ursos que eram inúmeros na região e só foram extintos no século passado devido à caça. 
Nessa época as únicas fontes de subsistência foram os cereais, como trigo, centeio, trigo mourisco (grão sarraceno) e produtos importados da como América, assim batatas e culturas de milho que ainda estão presentes. O consumo excessivo destes grãos determinou o “flagelo da pelagra” somente erradica em 1930.  Na segunda metade do século XIX, a população diminuiu devido à imigração na América, Oceania e na Suíça e devido a doenças como bócio e intermitentes febres causadas pelo trabalho nos pântanos onde eles se reuniram para a colheita do cânhamo. O problema foi resolvido apenas depois de quase um século, quando a área foi recuperada e os diques foram construídos para conter o rio Adda.
Palú esta localizada na encosta de uma colina aonde em certas épocas do ano a luz do sol não chega de forma suficiente...
 O único recurso dos habitantes do Palú sempre foi a terra.




Pesquisa em:
 (1) – Wikipédia

(2)        - http://www.cellartours.com/italy/italian-wine-regions/valtellina.html


Traje Tipico da Valetllina


Eram trajes de trabalho com aventais que protegiam as roupas do dia a dia. 

Luigi Zamboni - Um Heroi Italiano


Esta não é uma postagem da família, mas como compartilhamos o mesmo sobrenome resolvi postar algo sobre Luigi Zamboni e a bandeira italiana.
Ele foi um dos primeiros mártires em nome da unificação italiana e, segundo alguns historiadores ele foi o criador da bandeira italiana e suas cores.
Foi encontrado morto no cárcere. Alguns dizem que foi executado a mando de alguém, outros, que se enforcou.
Tinha 23 anos.
Sua casa pode ser vista em Bologna na Via Strazzacappe.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Noivado Rompido



Carolina percorria assustada a distancia entre a casa de seus pais e a de seu irmão. Olhava para os lados a procura de algum perigo. Temia que algum índio da região pudesse estar por ai escondido no mato ou temia algo pior!
Ele havia dito que a mataria!
Que ela não escaparia! Que se não se casasse com ele, não casaria com outro.
Apesar do medo sentou se numa pedra pois o calor estava insuportável. Era um  daqueles dias de calor úmido que sufocava. O suor encharcava suas roupas e as gotas caiam sobre a sua face e a vontade era de gritar ou chorar; isto se tivesse força ou escolha, mas não podia se dar a esses tipos de “luxo”. Era filha de imigrantes que desbravaram aquelas terras do Caminho dos Tiroleses. Seus nonos e tambem seus pais tiveram que derrubar a vegetação, domesticar aquela terra paludosa, plantar sementes, e lutar contra os indios que eram os donos da terra.  
Recostou numa pedra que brotava do chão e que estava causticante de tão quente. No mesmo instante arrependeu-se se da escolha, mas não tinhas forças para continuar. O medo, o calor, as recordações a fizeram estancar!
As recordações...
Fechou os olhos e reviu em sua mente as cenas que a acompanhavam desde que Bepe havia incendiado seu lindo enxoval.
Lembrou então do tempo perdido na feitura do enxoval que há anos era seu balsamo. Tomara seu pouco tempo disponível e preenchera seus dias. Ela costumava se distrair do trabalho estafante nas roças  pensando em qual tecido comprar, qual motivo bordar, que cores usar.  O tempo passado a bordar, enfiando o fio das linhas em agulhas para bordar e rebordar nos tecidos. Era neste tecido que bordou muito dos seus sonhos e de moça de 17 anos... (1)

Seu sonho era a continuação do sonho de seus pais que imigraram da Itália para o Brasil em busca de uma vida mais tranquila, mais digna, mais livre, mais justa pois no tempo que seus pais imigraram para o Brasil, a situação politica e econômica na Itália não andava muito boa... Guerras, pobreza e a igreja...

- La chiesa... Ora mai sempre a decidere la nostra vitta!

Mas eram catolicos. Seguiam tudo o que o padre mandava...

O olhar de Carolina vai para o rio que passa ali perto e ao longe vê a terra  revolvida para receber as semente de arroz onde trabalham homens e mulheres. O sol brilha na água que escorre mansa no seu curso e o cheiro forte das flores dos aguapés deixa um forte aroma doce no ar. Ela fecha e abre os olhos e dando um longo suspiro chega a coragem para seguir adiante.
De repente um presente. Sob o sol quente uma brisa ligeira, fresca bate em seu rosto e novamente ela para a caminhada para poder respirar.  Respira e sente com mais intensidade o perfume das flores e do mato e começa a se sentir mais confiante quando ouve ao longe um barulho, um trote veloz, um cavalo! Como se tivesse sido atingida por um relâmpago o medo toma conta novamente de seus pensamentos. Sentimentos misturados: medo, pavor, esperança que não seja Bepe e sim um de seus irmãos que chega para a proteger...
O barulho se aproximava e ela sente as pernas tremerem quando  vê um homem montado num cavalo tordilho se aproximando. É ele! São aqueles olhos, aqueles lindos olhos que a fazem sonhar... Olhos que parecem um sol dourado, brilhante, navegavando entre torres negras de cílios e a pele queimada de sol, do trabalho no campo.
Soltou então um suspiro de resignação, rendição! Seria o fim ? Ele iria mesmo mata la ?
E tirando forças do proprio medo  pergunta ao cavaleiro que chegou:

- E Adesso cosa voi far ? Vero che avrai il coraggio di amassar-mi ?

- No, Carolina, non lo faro. Respondeu ele.

- Non ti amasso! Non ho il coraggio per fare chesto. Sono rimasto tutta la note a rivolvere in letto. Non sapevo cosa fare. Lo só che tu non sei la risponsabilie per chesto mas si quelli padri maledetti. La sola ocupazione che hanno é vedere roba bruta per tutti i posti e tengono in mano la nostra vitta!
Ma te lo dico ancora una volta: io ho avuto niente con quelli done. Sono stato a lavorare tutta la domenica. Quegli doni sono state a  casa per via di Aldo e Giovanni. Io nemiga ero a cá e é per chesto che sono rivoltato... Io non posso essere culpavele per havere amici cosi... Il tuo padre nemiga ha voluto parlare con mé. Ero  dietro a lavorare in casa dei miei padroni. Suo padre Ha soltanto ascoltado le ordine del Frei che a detto che figlia di Fiamoncini non si sposa con un uomono che porta putane a casa... Eravamo fidanzati... Eravamo per spozarci... e adesso i nostri sogni sono cenere davanti alla sua finestra... Ehh... ho fatt una bell FUOCO...

Carolina pensou em falar algo, mas ele soltava as palavras sem interrupção. Não estava furioso como na noite anterior e resolveu que era melhor não interromper aquela enxurrada de palavras que brotavam como um rio desembestado fora de seu leito. As palavras saiam de sua boca de forma bruta e vinham acompanhadas de caretas, gestos e um olhar fixo no seu!
Ele continuou...
- Sente Carolina... Io me ne vado... Vado via.... Per sempre... Non ritorno piu in chesta terra... ma te lo giuro... non mi spozero mái...mái... non hai bisogna di paura... ma tu non mi vedi piu...

Ao terminar seu desabafo Bepe tinha os olhos mais úmidos... Carolina olhou para ele e viu que nada mais podia ser dito ou falado. Estava ali no meio do caminho, entre sua casa e a casa de seu irmão... Se acaso um de seus irmãos chegasse e a vissem conversando com Bepe uma tragédia poderia acontecer e, além disso, continuava com medo de que algum índio aparecesse... Bepe virou o cavalo e ela o seguiu com o olhar... O sol a impediu de ver seu rosto, o que via era uma sombra delineada pela claridade ofuscante do sol que se distanciava...
Um homem sobre um cavalo que partia para nunca mais voltar.

Carolina preocupada retomou o seu caminho. Mentalmente reviu a cena da noite  quando Bepe chegou em sua casa e soube da decisão de seus pais.  

Bepe em uma pensão que ficava bem em frente à igreja da cidade. Ele morava com tres amigos, era uma “republica de jovens”.  No domingo anterior ficara o dia inteiro na fazenda de seus patrões a trabalhar. Seus amigos convidaram algumas mulheres de fora. Mulheres sem família... Mulheres de vida fácil... Putane... O padre da cidade ao terminar a missa e passando em frente à casa viu a bagunça que eles faziam e não gostou nada do fato... Foi logo contar para Vitoria e Giovanni.

A verdade porem pode ter sido um pouco diferente do que a Nona Carolina me relatou. O motivo do rompimento não deve ter sido somente a presença de mulheres na pensão com os amigos de Bepe, mas sim outro fato agravado com o  que aconteceu em Rio dos Cedros: um atentado a casa paroquial.

É fato que todos andavam muito tensos na região com o que havia acontecido em Rio dos Cedros quando alguns “Anarquistas” explodiram a casa paroquial.

No dia 29 de abril, na noite de sábado para domingo, lá “Pelas 11 horas da noite, quando todos os moradores da casa haviam se deitado, explodiu a bomba, que fora detonada por meio de um pavio... O assoalho do quarto foi arrancado e a cama, na qual o padre Modestino dormia, foi arremessada até o teto. No quarto ao lado dormia Frei Policarpo, superior do Convento de Rodeio que havia vindo ao Rio dos Cedros para auxiliar o pároco”, pois no domingo estava marcada a primeira comunhão de cerca de 180 crianças.
A verdade é que já faziam alguns anos que a região estava atormentada. Desde 1895 quando Giovanni Rossi (Cardias), líder comunista havia morado em Rio dos Cedros diziam que muitos imigrantes haviam sido totalmente descristianizados por ele... Entre eles estaria o Carlos Dorigatti, Andrea Largura e o Lensi e outros mais do Caminho dos Tiroleses. Eram partidários do amor livre, do aborto, enfim, de tudo o que a Igreja combatia.

Frei Policarpo Schuhen, o superior do convento de Rodeio, era um homem severo e exigente. Para alguns era um anjo na terra, um homem de bondade. Rustico, precipitado, mas extremamente zeloso como vigário da Paroquia de Rodeio. Sempre preocupado com a vida espiritual da cidade e em como encaminhar aquelas almas para o “camino di Dio”. Não queria que esses seus fiéis se deixassem levar pela bebida após um dia de trabalho tenebroso... Ou pior serem infiéis.  E ele frequentava com assiduidade a casa dos pais de Carolina; Giovanni e Vitoria, todos vindos da região de Trento em 1875.
E foi ele, Frei Policarpo que determinou que Carolina não devia se casar com Bepe! Giovanni ( Nono Titi) e Vitoria obedeceram... Carolina também.
Quando Bepe soube da decisão, veio enfurecido. Recolheu alguns moveis que havia comprado, entrou em casa e tirou o enxoval que ela estava preparando e pôs fogo em tudo, bem de frente a janela de Carolina.
Dentro da casa Carolina  olhava e chorava. Viu seus sonhos se transformarem em cinzas, foram embora com a fumaça...

Carolina com seus 17 anos ainda não podia saber mas poucos anos se passariam e ela se casaria com um grande amigo da família: o viúvo Marcelo Moser e teria muitos filhos. Somente iria rever Bepe novamente muitos anos mais tarde. Já viúva, idosa, voltando de uma viagem que faria para visitar sua filha Miriam em Juiz de Fora. Ao pegar o ônibus em Blumenau com destino a Rodeio um senhor idoso se sentara ao seu lado e eles se reconhecerão...

Carolina, Nona Vitoria e Rosa
(Esq para Direita)
Terão então uma breve conversa.

- Sei tu Carolina ?

- Si Bepe sono io !

Então ele com os olhos embaçados da idade e umidos da emoção,  lhe dirá que estava voltando para rever o local onde passou uma parte da sua juventude. Dirá também que viveu junto a uma mulher mas não se casou e nem teve filhos.

O pequeno trajeto não dará muito tempo para conversarem ( Talvez o trajeto tenha sido Timbo/Ascurra). E se despedirão...
Haverão passados 58 anos...
(1)     – Muitos, muitos anos depois, já em seu leito de morte Carolina receberia a visita de uma neta, Cátia, com também 18 anos e lhe diria:  Eu também já tive 18 anos... Como passou depressa.
(2)    -  Em 29 04 1911 ocorreu um atentado com bomba de dinamite em Rio dos Cedros. Segundo a historia um tal de Emembergo  Pellizzetti teria colocado a bomba na casa paroquial sob o quarto onde dormiam Frei Modestino e Frei Policarpo (de Rodeio) para impedi los de realizarem a primeira comunhao de 180 crianças
FATO HISTORICO
A historia acima é um pouco da verdade por ela mesmo me contada. Um pouco de romance e uma pesquisa cruzando as datas dos fatos acontecidos.
Nona Carolina me contou que estava noiva de um rapaz que não lembro o nome e aqui na historia coloquei como Bepe. Mamãe e Tia Cema dizem que pode ser um tal de: Trevizani que não morava em Rodeio. (David Trevizani. Era de Rio do Sul ou Rio do Oeste).
A Nona havia contado esse fato há poucas pessoas. Na realidade a própria tia Cema me contou que só soube do caso depois que ela (Nona) me contou.  
Segundo a Nona ela tinha quase 18 anos quando estava noiva e teve o noivado rompido porque o padre da cidade havia estado na sua casa e falado com seus pais que ela não poderia se casar com o noivo, pois o mesmo andava em más companhias. Eu perguntei a nona e ela me disse que deve ter sido por causa das mulheres que iam visitar os amigos na pensão.
Ela me contou que ele realmente chegou à frente da janela e gritando a chamou para em seguida colocar fogo em alguns pertences dos dois.
Também disse que um dia a partir desse dia ficou sendo vigiada pela família a fim de não encontra-lo e um dia indo levar o almoço para os irmãos, ela parou no meio do caminho para descansar e sentou numa pedra. Enquanto descansava viu surgir o ex-noivo que disse para ela que ia embora e que nunca mais se casaria.
O ex-noivo trabalhava numa fazenda perto ou em Rodeio.
Nunca mais teve noticias dele até no dia que retornando de uma viagem a Juiz de Fora para nos visitar ela vê um senhor idoso sentado ao lado dela. Era ele. Eles se reconheceram e tiveram a conversa que relato acima.
O atentado a casa paroquial aconteceu e foi exatamente quando ela tinha 17 anos. Acredito que este tenha sido o fato que motivou o rompimento do noivado.
(2)     – Muitos, muitos anos depois, já em seu leito de morte Carolina receberia a visita de uma neta, Cátia, com também 18 anos e lhe diria:  Eu também já tive 18 anos... Como passou depressa.
Bibliografia:

Familia Viuva Carolina Margarida Fiamoncini Moser - Decada 1950 

Carolina M. Fiamoncini Moser - Decada 1970
Na casa da Tia Cema 


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Honorato F. ou Fra Benedetto

Irmão da Nona Carolina. 
Foi para Salvador - Bahia, no convento dos Franciscano para se tornar padre.

Diziam que ele tinha uma grande vontade de se tornar padre.
Nasceu em Rodeio em 25/10/1896 e morreu de febre amarela em 04/1919 - Salvador – Bahia.
Está enterrado no cemitério da Ordem do Franciscano na Bahia.

Fra Benedetto morreu aos 23 anos e contam que sua mãe, a Nona Vitória teve um pressentimento na noite que ele morreu.

Naquele tempo as pessoas não tinham banheiros dentro de casa e durante a noite eram obrigadas a fazer suas necessidades em “pinicos" o que deixava o quarto com um cheiro nada agradável.
Nona Vitória acordou durante a noite para esvaziar pinico, jogando seu conteúdo no córrego que passava bem ao lado da casa, dentro do quintal. Ao sair teve uma visão de um padre que andava, se equilibrando em cima da cerca.
Assustada voltou para dentro de casa e preocupada contou o fato ao Nono Titi (Giovanni Batista Fiamoncini) e temerosa falou:
- Acho que aconteceu algo ao nosso filho!
Na época a comunicação se dava de forma mais lenta. As noticias não chegavam na velocidade de hoje. Foi assim que alguns dias depois de ter tido essa "visão", nona Vitoria recebeu uma carta enviada por Dom Eduardo Herberhold, Ministro Provincial dos Franciscanos avisando da morte de Fra Benedetto, ou seja, Honorato.
 Abaixo a carta que a família recebeu relatando a morte de Fra Benedetto.


“PROVINCIALADO DOS PADRES FRANCISCANOS
BAHIA – BRASIL
Bahia, 21 abril 1919
Paz benção e consolação em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Como já sabeis por um telegrama, aprouve a Deus chamar para o céu sem ninguém esperar o vosso santo filho, nosso mui amado Frei Benedicto. Chorei e como uma criança que perde a mãe porque não quis por na (?) perder o meu Frei Benedicto. Fizemos promessas sobre promessas, fomos de altar em altar para pedir de braços abertos a Deus que no lo conservasse, mas Deus achou melhor chama lo a si, frei Benedicto conformou se com a vontade divina com uma tranquilidade de espirito que todos admiramos. Tendo feito o seu retiro espiritual, Frei Benedicto recebeu no dia 5 deste mês a sagrada ordem de Diácono. Foi um dia de alegria em casa. Eu me achava fora do convento pregando numa pequena missão. Quando voltei dia 6 Frei Benedicto apresentou se radiante de alegria, agradecendo-me a caridade de o ter apresentado ao Exmo. Sr Arcebispo D. J      para a adoração.
Respondi lhe que agradecesse a Deus a dita de já pertencer aos números dos diáconos da Igreja, com Santo Estevão, São Lourenço, S. Eufrásio (Efraim?), e São Francisco. Ele sorriu e pediu a benção. Como Diácono deu... A Santa Comunhão para levar uma... há um doente. Na quarta feira dia 9 de abril começou a sentir se incomodado.
No dia seguinte manifestou se com uma febre que o vitimou com dor e espanto de todos que o conheciam e já amavam aqui. O irmão enfermeiro, os superiores os irmãos (?) tudo tentaram tudo fizeram para conservar lhe a vida. Fizemos promessas sobre promessas, celebramos missas e prometemos outras às almas, mais parece à febre atacou o coração. Até terça feira de manha tinha alguma esperança, mas Frei Benedicto disse-nos que seu Deus o queria no céu.
Ele mesmo pediu os santos sacramentos e os recebeu com a piedade e tranquilidade de sempre. O irmão enfermeiro lhe havia dito que nos últimos tempos (desde 1912 para cá) não havia morrido nenhum religioso na Bahia. Frei Benedicto respondeu sorrindo eu (?).

- Serei o primeiro meu irmão. E é bom que eu vá agora. Agora é mais fácil, sou diácono, com mais responsabilidade e tenho medo do sacerdócio.
- Frei Benedicto quisera trocar com você!
- Não meu irmão não troca com ninguém! “Fiat volutas Deu”
- Vamos rezar Frei Benedicto para você ficar bom.
- Sim, mas se Deus quiser (também está bom?).

O Superior da casa, Frei Mauro, não mais se afastou da cama de Frei Benedicto.
Quando fui vê lo pouco depois do meio dia e contar lhe quantas promessas eu tinha feito por ele, ouviu e me beijou a mão.
Eu esperava (...)? Contra toda a esperança...
Mas o mal agravava se e às 6 horas da tarde o nosso querido Frei Benedicto foi transferido para o céu.
Embora desde a manha estivesse prevenido para receber este golpe não pude conter-me diante da realidade de perder aqui o melhor de meus religiosos estudantes. Era tão (?), tão humilde, tão amável e ajudava muito na direção da adoração Mariana?() que ficaram sem sentidos.
Chorei em soluços e só depois de algumas horas me Consolei com o pensamento de termos mais um lá no céu que (Santo?). Frei Benedicto o era.
Lá poderá fazer mais do que aqui em favor da nossa Província Franciscana de Santo Antonio que tanto ele (apoiava/amava?).
Na quarta feira de trevas, levamos o nosso querido Frei Benedicto ao nosso cemitério que é próprio da nossa ordem onde descansa junto com 18 franciscanos que já foram adiante preparar-nos um lugar no céu.
A sepultura é perpetua e tratada para sempre com religioso cuidado. Nós costumamos fazer com os nossos irmãos falecidos a mesma missa da quinta feira santa. Ofereci por ele e depois já foram (...) serão celebradas.
Envio, pois um abraço de condolências aos queridos pais e parentes do nosso saudoso frei Benedicto e peço que se consolem em Jesus e Maria. Rezem por mim.
Fr. Eduardo Herberhold
Ministro Provincial”

Frei Benedicto morreu no em abril de 1919 as 18:00 horas, provavelmente de febre amarela.
Foi enterrado dia 16. 04. 1919
5/4 / 1919 – Recebeu ordem de Diácono
6/4 / 1919 – Levou hóstia a um doente
9/4 / 1919 –  Sintomas da doença
20/4/1919 – Páscoa de 1919

Obs.: A PROVA DA CRUZ
A febre amarela que assolou os Estados da Bahia e de Pernambuco foi a prova da cruz pela qual passou Província Franciscana de Santo Antônio.

Os documentos históricos dão conta de que foram 14 as vidas ceifadas de jovens frades, entre 20 e 30 e poucos anos, nove na Bahia e cinco em Pernambuco.
http://freimilton-ofm.blogspot.com.br/
Abaixo alguns dados de Dom Eduardo Herberhold recolhidos na internet.
1°Bispo Auxiliar de Santarém -(1928-1931) – Governo de Dom Amando Bahlmann.
Nasceu em Lippstadt, (Westfália) – Alemanha a 28 de junho de 1876. Filho de Henrique e Tereza Utzel Herberhold.  Faleceu em Salvador, Bahia em 24 de junho de 1939. Esta sepultado em Ilhéus na Catedral construída sob seu governo.
Ingressou na Ordem dos Frades menores a 4 de maio de 1890. Somente depois de muitas orações e meditações é que tomou a decisão de seguir a carreira eclesiástica
Chegou ao Brasil, (Recife-PE) a 10 de julho de 1894.  Ordenado em Salvador, Bahia a 18 de agosto de 1895. Eleito Ministro Provincial, a primeira vez em 1913, a segunda em 1926.
Nomeado Bispo Titular de Hermópolis-Maior e Auxiliar do Prelado de Santarém a 7 de janeiro de 1928. Sagrado Bispo em Salvador em 6 de maio de 1928. Tomou Posse como bispo auxiliar em Santarém a 10 de setembro de 1928. Transferido para a Diocese de Ilhéus a 30 janeiro de 1931.
Foi um dos que trabalharam para a construção da Catedral. A construção da Catedral de São Sebastião foi iniciada por ele, dando inicio ao fantástico projeto do arquiteto Salomão da Silveira. A Catedral é o mais esplêndido templo Católico do Sul da Bahia, com estilo eclético, religiosos, romântico e renascentista e a sua inauguração ocorreu em 1967.  




Porque Coelhos e Ovos São Símbolos da Páscoa?

            ( Por: Dóris Bonini) Existem muitas explicações sobre "ovos" e "coelhos" como símbolos da Páscoa mas,  para ...