quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

CAPITULO III – ALGUMAS HISTORIAS DE SINOS E OS HOMENS CARVÃO


 
NAVIO CORRIENTES

Não tinha negociação. Hora de almoço e jantar era todos juntos á mesa, almoçando e jantando na mesma hora. 
Claro que tentávamos fugir do ritual da mesa afinal era jovem e tínhamos muito para ver, fazer ou mesmo não fazer nada: só ver TV. Eu já era magérrima e isto deixava meus pais preocupados porque eu mal me sentava á mesa e já queria sair. Mesmo assim, foi em volta da mesa que conversei muito com ele e foi ali sentada que deve ter nascido essa minha vontade de ficar procurando historias da família. Era em volta da mesa que ele contou a sua historia. . Não é que tínhamos uma vida social agitada, mas nossa casa era frequentada por amigos, parentes distantes e próximos e como uma boa família italiana era em volta dela que a conversa se desenrolava. Muitas vezes, após o jantar ou o almoço do domingo, saiamos dela e íamos para a sala, conversar, ouvir musica e às vezes dançar.
Naquele tempo, e nem é tão distante, tínhamos o costume de ouvir musica e dançar na sala das casas. 
Quantos aniversários e réveillons eu fiquei de “DJ” ao lado do toca disco para fazer o povo dançar.  Era divertido.
Meu pai chegou ao Brasil em 1952. Veio a bordo do navio “Corrientes”.
Lembro-me dele contando das recomendações feitas pelos amigos com relação à alimentação no Brasil, no caso Rio de Janeiro: não beba água a não ser a mineral, não coma em qualquer restaurante, não coma feijoada.
Assim que chegou ao Rio de Janeiro ele foi apresentado à famosa “feijoada”. Ele se sentiu enojada com aquela “gororoba” preta e gosmenta, mas foi só comer uma vez e ficou um eterno apaixonado pela iguaria brasileira.
Antes de chegar ao Brasil meu pai havia morado por uns três anos na Bélgica trabalhando nas minas de carvão em Liége.  Hoje esta mina foi fechada e contam historias terríveis sobre ela de como era perigosa e como sofriam os que lá trabalhavam.  Ele contava que tinham um sistema de proteção que para a época era bem moderno porem também dizia que a mina era terrivelmente perigosa, pois era muito grande e funda. Ele trabalhou nas minas logo depois da guerra para juntar dinheiro que começou a mandar para seus pais. Com esse dinheiro seu pai pode comprar uma vaca que fez historia na família: La Muca Perla. A tal vaca era uma vaca premiada, mas que havia tido uma infecção em uma das tetas e por esse motivo foi vendida muito abaixo do preço. Essa vaca recebeu atenção especial na casa de meu Nono Daniele pois ele pode voltar a fazer manteiga e queijo para família e vender o excedente.
Para ela foi separada uma grande “campana” (sino) com um largo cinto de couro e com uma fivela feita de estanho e prata toda trabalhada.
Quando estive na Itália visitando meu tio Evelino ele me deu de presente a tal “campana” dizendo que por mérito era de meu pai, pois foi ele quem mandou o dinheiro para comprar a “Perla”. 
Fiquei muito contente com o presente e resolvi vir com ele numa sacola de mão juntamente com vários itens proibidos para viagem como queijos, salames, funghi, bresaola etc..
Tentando dar uma de esperta eu coloquei sobre todos estes itens que queria esconder uns absorventes higiênicos, pensando que o policial que fosse me revistar ia se sentir incomodado em colocar a mão em itens tão femininos... 
Que vergonha passei achando que estava sendo esperta... Não lembrei que deveria passar pelo raio-X na hora de fazer o check-in e assim que minha sacola começou a rolar pela esteira um alarme disparou. Eu fiquei nervosíssima, já estava preocupada, pois havia entrado com um dinheiro a mais na Itália e não havia declarado... Estava retornando com ele, mas como provar? A sirene caiu como um raio em mim. Fiquei desnorteada e a funcionaria me perguntava o que eu levava de metal na sacola. Apesar do peso absurdo do sino eu só me lembrava dos itens “proibidos” que carregava.
Como viam que eu não respondia um “carabinieri” armado foi chegando perto de mim de forma ameaçadora... E eu ficando mais bamba. Resolvi então abrir a sacola e tentar descobrir o que havia lá dentro e comecei a colocar todos aqueles absorventes para fora da sacola... Morrendo de vergonha! Foi então que lembrei do tal sino. Então, comentei com a funcionaria:
- É uma Campana! Mi há rigalata mio zio! (É um sino, meu tio me deu de presente).
A funcionaria olhou para tela onde havia a imagem de um objeto que estava dentro da sacola e que ela tentava identificar. Começou a rir... Mandou fechar a sacola e me deixou passar com tudo o que havia lá dentro e ela não viu.
Fui me sentar no salão de embarque e para relaxar resolvi acender um cigarro. Ah! Era outro tempo. Podia se fumar em todos os lugares: nos salões, bares, ônibus e aviões. Era outro tempo em parte... As coisas começavam a mudar.
Acendi o cigarro e o tal “carabinieri” que me ameaçou na hora do check-in voltou novamente para perto de mim e se instalou á minha frente me olhando fixamente: tudo tenso, muito tenso. Até que ele se chega perto de mim e me pede para parar de fumar. Ufa! Era só apagar o cigarro.
Mais tarde descobri que eles ficaram “cismados” comigo porque no dia anterior uma brasileira havia tentado passar com uma “arma”. Acho que pensaram que era uma quadrilha e eu devia fazer parte... Só que não!
O tal sino ainda esta comigo e sempre que o vejo me lembro da historia da família.
Ele tem toda uma historia de reconstrução e sacrifício.
Ir para as minas de carvão depois da guerra era a única opção de emprego para os jovens daquele tempo e a Itália exportou o tal “uomo carbono” - homem carvão, aos milhares.   Para os italianos este tempo é conhecido como: La schiavitu degli italiani – a escravidão dos italianos.


Eles iam por livre vontade, mas é porque não tinham outra opção. O pós-guerra deixou a Itália em estado de penúria. A família de meu pai havia sido saqueada pelos dois exércitos. Levaram toda a criação e a terra só dava o suficiente para se alimentarem. Não passaram fome, mas não tinham dinheiro para comprar nada e o que não produziam precisava ser comprado.
Meu pai me falou que foi um tempo difícil porem quem me fez entender o desespero de se subjugar a ir às minas foi meu tio Vitor Bernardara.
Ele era primo de meu pai e um ano mais velho. Foi ele o primeiro da turma a ir para a Bélgica nas minas.
Ele contou que foi porque tinha muitos irmãos e eles não tinham como comprar sapatos e outros itens. Era uma família com vários filhos. Ele se armou de coragem e juntamente com uns 10 amigos foram para a Bélgica. Ele contou que assim que a “gaiola” da mina se abriu para eles entrarem uns três amigos já desistiram. Antes de a gaiola chegar ao fundo da mina outros três já tinham desistido e quando a gaiola se abriu na profundeza da terra ele ficou sozinho. Nenhum amigo teve coragem de trabalhar no lugar. Ele disse: Eu não tinha opção. Tinha que ir em frente.
O trabalho na mina era perigoso e insalubre e não era a toa que eram bem pagos.
Foi como dinheiro que recebeu nas minas de carvão que ele comprou a vaca “Perla” e pode ajudar os pais por um bom tempo. Ele sempre ajudou seus pais e irmãos.
A verdade é que esses “uomo carboni” eram generosos.  Ficavam o dia inteiro debaixo da terra correndo risco de vida com os rostos suados e cobertos por uma fuligem negra que também era inalada, mas tinham um prazer enorme em presentear as namoradas e gastar seu dinheiro com bons tecidos, relógios, perfumes. Nos finais de semana se vestiam com elegantes ternos. Esta paixão eles levaram para toda a vida: Sabiam escolher um terno elegante. Isto quando resolviam colocar um terno pois aqui no Brasil o clima nunca foi propicio para essa elegância belga e gostavam mesmo é de tecidos leves e camisas de manga curta.
CHIARI, DONATO OU FERRUCIO, ADOLFO, VITOR E FABIO


Meu pai foi para as minas e ficou por uns dois meses quando então resolveu voltar para sua cidade mas como não achou um bom emprego e detestava a vida no campo ele resolveu voltar. Entre “idas e vindas” trabalhou nas minas da Bélgica de 1948 até a época de imigrar para o Brasil, começo de 1952. Seu primo Vitor já estava no Brasil há alguns meses e chamou os amigos para participarem de mais essa aventura:
Andiam Fare l´América! (Vamos fazer a América)

Fotos das minas na Bélgica: 






MINHAS HISTÓRIAS - CAPITULO II - A FAMILIA



Não sei desde quando meu avô Daniele ou seus pais se fixaram em Palú. Talvez não tenha sido há tantos anos. Talvez há três ou quatro gerações.
Emília Ceserina Zamboni foi minha avó, mãe de meu pai. Nasceu num paese próximo ao Palú conhecido como “Colorina”. Também não sei quando sua família chegou na região.  O que constatei na minha pesquisa é que os sobrenomes Bonini e Zamboni também são comuns no Tirol e provavelmente vieram de mais ao Norte. Áustria, Suíça ou arredores.
O paese de Colorina é conhecido pelo excelente leite que suas vacas produzem e com certeza os pais de Emília trabalhavam com a terra e com as vacas.
Atualmente ainda existe na região um moinho de farinha de propriedade de um parente não muito distante. O moinho está lá desde 1853: Mulino Zamboni
Meu pai se chamava “Adolfo Bonini” no registro civil e “Adolfo Mario Bonini” era seu nome de batismo. 
Um fato interessante para o ano de 1925 quando a medicina não estava tão evoluída: Minha avó teve meu pai com a idade de 45 anos. Depois dele ainda houve outro filho, Guilherme Bonini que morreu ainda criança.
Existe um relato que não sei ao certo, mas que Guilherme teria morrido vitima de uma árvore que caiu em cima dele. A região era de lenhadores e casos assim eram comuns.

GENEALOGIA DE ADOLFO BONINI

Seu Pai – Daniele Bonini (*30/06/1872 / + 16/06/1955)

Sua Mãe – Emília Ceserina Zamboni Bonini (* 09/03/1882 / + 09/02/1975)

Seus irmãos:

Romeo Bonini (* 23/12/1916 / + 09/05/1991) – Ele foi casado com Pierina e não tiveram filhos.

Evelino Bonini (* 19/08/1919 / + 19/06/1985) – Casou se com Tulia e tiveram dois filhos: Mario e Germano

Luigina Bonini (* 31/12/1921 / + 02/10/1940) – Morreu solteira

Guilherme Bonini – morto ainda criança

Antônio Bonini – morreu idoso / Era filho de Daniele Bonini com sua primeira esposa. Antônio se casou com Elvira Giapona, mas não tiveram filhos.

Avós Maternos: Battista Zamboni (* 30/10/1844)
Celerina Maria Gavazzi Zamboni (30/06/1849)

Avós Paternos: Basílio Bonini
Domenica Bonini

Bisavós maternos (pais de seu avó materno): Giovanni Battista Zamboni
Maria Platti



Evelino e Tulia. Sentada Emilia com
os netos : Mario e Germano

Romeu e Pierina


Avós maternos de Adolfo : Zamboni Battista e Caterina Gavazzi



Antonio e Elvira


Nona Emilia gravida aos 45 anos de meu pai Adolfo, Luigina,
Nono Danielle, Evelino, Romeu e Antonio .


Meu pai Adolfo no centro com os amigos Sereno e Nelo. 

MINHAS HISTORIAS - CAPITULO I - IL PALÚ


Meu pai era italiano. Nasceu em uma pequena localidade no norte da Itália perto da fronteira com a Suíça. Eles chamam essas pequenas localidades de “paese” ou “frazione”.  Então para se localizar diz se que Palú é um “paese” que pertence à comuna de “Caiolo” na província de “Sondrio”, na “Baixa Valtellina”, Lombardia, Itália. 
 A Valtellina é o coração dos Alpes italianos e apresenta diversas paisagens com vales, maravilhosas montanhas cobertas de neve durante todo o ano, geleiras, parques naturais, vinhas, cidades antigas, aldeias, castelos medievais etc... Atualmente é conhecida como região de resorts para a prática de esqui, com vários spas termais. Possui montanhas que vão de 278 a 2.663 metros.
Há séculos a região da Valtellina é terra de deliciosos queijos, vinhos, “bresaola”, da famosa “Polenta Taranha”, castanhas, amêndoas, avelas e especialmente são montanhas onde se encontra com facilidade os famosos e aromáticos “funghi porcini”.
Se hoje a região é de resorts e turismo no passado era um local de gente muito humilde que trabalhava muito para conseguir um pouco do que a terra produzia.
Localizada as margens do Rio Adda sempre foi estratégico ponto de passagem entre o norte da Itália e a Suíça com o típico ar puro de montanha.
A região tem origem muito antiga. Escavações encontraram no local uma faca usada pelos gauleses nos ritos de sacrifício além de moedas romanas.   Pertenceu ao bispo de Como, a família Capitanei de Sondrio e só em 1446 se tornou uma cidade livre sob o domino do Sforza.  Em 1487 foi travada uma grande batalha conhecida como “Batalha de Caiolo”.  A população de Caiolo atingiu seu ápice em 1589, quando contava cerca de 1500 habitantes (hoje tem 1.507).  Em 1600 uma grande praga chegou a dizimar quase metade de sua população. Em 1700 Caiolo e os territórios vizinhos foram afetados pela fome, pois seu gado era frequentemente ameaçado por ataques de lobos e ursos que eram inúmeros na região e só foram extintos no século passado devido à caça. 
Nessa época as únicas fontes de subsistência foram os cereais, como trigo, centeio, trigo mourisco (grão sarraceno) e produtos importados da como América, assim batatas e culturas de milho que ainda estão presentes. O consumo excessivo destes grãos determinou o “flagelo da pelagra” somente erradica em 1930.  Na segunda metade do século XIX, a população diminuiu devido à imigração na América, Oceania e na Suíça e devido a doenças como bócio e intermitentes febres causadas pelo trabalho nos pântanos onde eles se reuniram para a colheita do cânhamo. O problema foi resolvido apenas depois de quase um século, quando a área foi recuperada e os diques foram construídos para conter o rio Adda.
Palú esta localizada na encosta de uma colina aonde em certas épocas do ano a luz do sol não chega de forma suficiente...
 O único recurso dos habitantes do Palú sempre foi a terra.




Pesquisa em:
 (1) – Wikipédia

(2)        - http://www.cellartours.com/italy/italian-wine-regions/valtellina.html


Traje Tipico da Valetllina


Eram trajes de trabalho com aventais que protegiam as roupas do dia a dia. 

Luigi Zamboni - Um Heroi Italiano


Esta não é uma postagem da família, mas como compartilhamos o mesmo sobrenome resolvi postar algo sobre Luigi Zamboni e a bandeira italiana.
Ele foi um dos primeiros mártires em nome da unificação italiana e, segundo alguns historiadores ele foi o criador da bandeira italiana e suas cores.
Foi encontrado morto no cárcere. Alguns dizem que foi executado a mando de alguém, outros, que se enforcou.
Tinha 23 anos.
Sua casa pode ser vista em Bologna na Via Strazzacappe.

Porque Coelhos e Ovos São Símbolos da Páscoa?

            ( Por: Dóris Bonini) Existem muitas explicações sobre "ovos" e "coelhos" como símbolos da Páscoa mas,  para ...