sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Il Nonno Del Recin



Pouco sei sobre Luigi S.

Sei que imigrou para Rodeio – SC com seus pais, meus trisavôs, de Cognola, Província de Trento em 1875. Ele era irmão de minha bisavó: Vittória (S.) F.

Não sei se ele me conheceu... Eu não o conheci.

Em 1961, quando ele morreu eu tinha 2 anos.

Só ouvi falar dele... Il “Nonno Del Reccin”, traduzindo: O “Avô do Brinco”.

Ele chegou ao Brasil com seus 8 anos de idade. Já veio com eles e os usou durante toda a vida.  Ficou conhecido assim: Il Nonno Del Reccin!

É um mistério que ainda ninguém soube esclarecer: Porque um menino com 8 anos de idade, filho de colonos, chega ao Brasil usando um brinco em uma das orelhas e o usou até o fim de sua vida?

Meu pai contava que seu nono usava um brinco na orelha. O motivo? Bem... ele era colono. A foice era o instrumento de trabalho.  Na lida do campo a combinação “aliança x foice” podia resultar na perda de um dedo. Por este motivo ele usava um brinco em uma das orelhas ou seja : significava que ele era casado.

Piratas tambem usavam brincos, mas nenhum desses motivos cabe na historia de Luiggi.

Com mais pesquisa achei dois prováveis motivos para os brincos em Luigi:

1 – Diante de algumas situações de risco de vida algumas pessoas colocavam um brinco de ouro em uma das orelhas para o caso de morrerem. O ouro do “brinco” custearia as despesas de um enterro católico digno.
Como a família de Luigi imigrou para o Brasil e a travessia por mar era perigosa,  com risco de vida, essa poderia ser a resposta. Mas porque não colocaram brincos nas outras crianças? Descartei essa opção.

2 – Essa opção é mais plausível: Naquele tempo as superstições explicavam com certa facilidade aquilo que hoje em dia, em muitos casos, a ciência tem uma explicação.  Segundo relatos que ouvi, naquele tempo alguns médicos aconselhavam o uso do brinco para pessoas que tinham problemas de “visão’, especialmente para casos de “miopia”“. Acreditavam que um buraco lóbulo da orelha faria com que a vista não “diminuísse”.

Será que esta é a resposta para Il Reccin Del Nonno Luiggi ? Ou será que foi uma promessa ?

E agora... chi lo sá?

Você tem alguma ideia? Alguma sugestão? Conte-me!




POR UM TRIZ !

Esq  p/ direita:Carolina Fiamoncini (Moser), Vittoria Sardagna (Fiamoncini). Rosa Fiamoncini (Sardagna)

Meu trisavô “Giorgio Sardagna”, casado com Maria Cainelli, nasceu em um pequeno lugarejo chamado Cognola na província de Trento.

Em 1875 o casal imigrou para o Brasil (Rodeio) com seus filhos: Maria, Domenica, Vitória, Luigi e Tereza.

Vitoria ou a nossa “Nonna Vitória” se casou em Rodeio (Blumenau?) com Giovani Batista Fiamoncini e tiveram vários filhos entre eles a Nona Carolina e a Tia Rosa (Nona Rosa) mãe da Lili que me confirmou essa historia que passo a relatar.

Em meados do século XIX inúmeras doenças (malattie) acometiam e sacrificavam a população da “frazione di Cognola”. Segundo relato da Lili, uma das doenças que mais atemorizava os habitantes da região era a “pontura” (1) pois ela fazia inumeras vitimas.

A “história” é que um belo dia o menino Giorgio (meu trisavô) foi encontrado desfalecido e todos acreditaram que ele estava morto. (2)

Como era costume local colocaram o pequeno corpo em cima da mesa de jantar da família para o velório.  Em volta da mesa, mulheres e homens choravam, rezavam e aguardavam a hora do enterro. As velas tremulavam ao lado do pequeno corpo.

As horas se passaram e já se preparavam para enterrar a criança quando alguém pediu que se esperasse um pouco mais para dar tempo da madrinha do menino chegar e se despedir do afilhado. Era o costume !

- No dá per spetar neolim? (Não dá para esperam um pouquinho?).

Resolveram esperar até que a madrinha de Giorgio chegasse!

Por fim, quando a madrinha chegou, ela imediatamente foi se despedir do afilhado. Ao chegar perto do pequeno corpo que estava em cima da mesa ela o beijou e assustada falou:

- Ma comare, lel dreu che il tira il fiá! (Comadres! Ele esta puxando a respiração!).

Provavelmente, um pouco assustada mas cheia de esperança a madrinha pega um pequeno espelho e coloca sob o nariz da criança...

O espelho ficou embaçado.

Giorgio estava vivo!

Bem, acho que não preciso dizer que depois de um tempo "Giorgio" se recuperou; caso contrario, nós,  não estaríamos por aqui...

Tambem não sei que mal o acometeu...

Se alguém souber algo a mais sobre esta história eu peço : me contem !


(1) - Segundo me relatou a Lili, uma das doenças que mais atemorizava os habitantes da região era a “pontura”. Apesar dela não saber o que era a “pontura” na pesquisa que fiz encontrei a seguinte citação:
 “Mal mortal, “Febre mal de “pontura” – Pleurite devida a uma infecção pulmonar”.
Não tenho certeza se era isso. Pode ser que a tal pontura se refira tão somente a  temida “mordida de carrapato” e a transmissão da “febre maculosa” que ainda causam medo em pleno século XXI.
Fonte: http://www.ispf.cnr.it/system/files/download/testionline/AntropologiaeScienzeSocialiaNapoli.pdf(“... «i mali mortali»... febbre da mal di pontura [pleurite dovuta a infezione polmonare


(2) - Este relato é fruto de conversas que tive com Lili e com minha mãe, Miriam. Minha mãe contava essa historia como se tivesse acontecido com a Nonna Vitoria (filha de Giorgio). Depois, conversando com a tia Cema ela lembrou que quando a Nonna Vittória morreu não foi comentado essa passagem na vida dela.

- Doris, se esse fato tivesse acontecido com a Nonna Vittória, quando ela faleceu, nas conversas ao lado do fogão, com certeza alguém teria comentado e eu me lembraria.

Perguntei então para a Lili, pois a Nona Vittória morreu na casa da mãe dela.  Ela então lembrou que a Tia Rosa contava essa historia, mas que o fato tinha acontecido com o pai da Nonna Vittória: Giorgio Sardagna.  09/2016

terça-feira, 9 de agosto de 2016

AS DUAS PRIMAVERAS DE 1875 ( Marcelo Moser)


Familia Antonio Moser - Esta é a foto mais antiga que possuimos. Aqui o patricarca, pai  de "Toni "já havia falecido e todos os irmão estão casados
Porque duas primaveras?
Para meus bisnonos que moravam em "Faida de Piné" - (Trento - Tirol do Sul - Itália), aquele ano foi um ano decisivo: Imigraram para o Brasil e essa decisão fez com que pudessem apreciar a primavera na Itália e depois no Brasil. 

Marcelo Moser, meu primo, num belo trabalho de imaginação e pesquisa escreveu um relato precioso de como poderia ter sido as emoções e os dias que antecederam a imigração de nosso bisavô “Antônio Moser”.

Com o intuito de comemorar os 140 anos da saída desse nosso antepassado da pequena localidade de “Faida DI Piné” em Trento, ele refez os preparativos e os prováveis trajetos que estes imigrantes fizeram.

Fica aqui o link para a leitura de todos. Tenho certeza que irão gostar!

(autorizado pelo autor)







"Em 2015 comemoramos os 140 anos da Imigração Trentina em Rodeio(SC).
Como homenagem pessoal a esse evento, apresento, de maneira ficcional, o que teria sido um blog postado por meu bisavô (o blogger Toni Pinaitro) caso existisse a internet e suas ferramentas à época.
Com base em alguns documentos familiares preservados e informações disponíveis e verídicas (*), vou tentar construir um enredo narrando as aventuras e vicissitudes que a imaginação me sugere tenham ou possam ter acontecido. As datas dos posts tentam seguir as mesmas datas de 1875, inclusive os dias da semana, para dar uma idéia do desenrolar dos acontecimentos ao longo de 2015.
Se gostarem, divulguem. Comentários são bem-vindos, mas serão publicados apenas os que "entrarem no clima" da época.
Saluti,

Marcelo A. Moser

(*) Obras consultadas: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE RODEIO, Iracema M Moser Cani, e VINCERE O MORIRE, Renzo M Grosselli."

Uomo Carboni – Homens Carvão



Com o fim da segunda guerra mundial a Itália estava em frangalhos.

Não havia emprego, a comida era artigo raro, de luxo e contrabandeada.

Grande parte das familias,  principalmente as familias de camponeses (boscaiolos) estavam passando por muitas necessidades e precisavam do trabalho para sobreviver.

 Haviam perdido suas vacas, suas terras estavam abandonadas e viviam com muitas dificuldades. Os jovens não tinham onde trabalhar.

O carvão sempre foi produto necessário para as indústrias  e a Bélgica o possuía em grande quantidade, mas não tinha mão de obra suficiente para extrair o mineral e tambem,  não era qualquer homem que se atrevia a trabalhar no interior de uma mina, pois quando o homem desce numa mina,  dentro de uma gaiola de ferro, ele se sente como Adão se sentiu quando perdeu o Paraíso.

Em 1946 a Bélgica e a Itália fizeram um acordo. A Itália deveria mandar a cada semana para a Belgica 2000 mineiros com até 35 anos para trabalhar nas minas de carvão em contrapartida uma percentagem da produção das minas  de carvão Belgas seria destinada à Itália.

Assim milhares de italianos foram atraídos para a Bélgica para trabalhar nas minas de carvão.

Meu Tio Vitor foi trabalhar nas minas de Bruxelas em 1946 e meu pai somente em 1949, pois até 1948 servia o exercito italiano.  

Tio Vitor na realidade não é meu tio, ele é meu padrinho, mas como nasceu no mesmo “paese” de meu pai eles devem ter algum grau de parentesco.

Tio Vitor e sua família sempre estiveram presentes em nossas vidas. Primeiro na vida de meu pai na Itália, depois aqui no Brasil. Para nós eles fazem parte de nossa familia, pois além da amizade que começou na infância, ambos se casaram com mulheres de uma pequena cidade de Santa Catarina (Rodeio) e que são primas em segundo grau. Os dois sempre moraram nas mesmas cidades.

 O trabalho nas minas de carvão sempre foi um trabalho muito duro e perigoso. As condições das minas eram instáveis.

Muitos morriam soterrados ou adoeciam por causa da silicose, doença causada pelo pó que se acumula nos pulmões. 

Deve se ter coragem para descer a 400 metros de profundidade, dentro de uma gaiola de metal,  cheia de homens que levavam lamparinas de gás para iluminar a escuridão das minas.



Essas mesmas lamparinas que iluminavam o caminho podiam trazer a morte ao provocar explosões.

Acrescente a isso um calor infernal, o suor, a poeira negra do carvão, o medo e a instabilidade.

Não era qualquer homem que tinha a coragem de se aventurar a trabalhar em uma mina.

Quando os homens saiam das minas a única coisa que podia se ver neles eram os olhos. Estavam completamente impregnados da fuligem...

Por outro lado eles pagavam bem e eles precisavam de dinheiro para reconstruir suas casas e de seus pais. As escolhas eram poucas...

Assim, cheios de coragem, meu tio e mais cinco ou seis amigos foram para Bruxelas trabalhar nas minas de carvão.

Na entrada da mina, em frente ao elevador que levava os homens para as entranhas da terra, dois dos amigos de meu tio já desistiram da empreitada e foram embora.

Os outros entraram na gaiola que os levaria até as profundezas. Quando a gaiola se abriu no fundo da mina todos os amigos desistiram.

Daquele grupo de amigo, somente ele teve coragem de entrar na mina e começar a trabalhar nela.

- Eu não tinha escolha. Éramos sete irmãos, mais o pai e a mãe. Todos sem trabalho.

Ele não teve escolha.

Trabalhou nas minas de carvão por quatro anos quando finalmente em 1950 após enviar grande parte do fruto do seu trabalho para os pais e irmãos (re) construírem suas casas ele dá um novo rumo a sua vida.

Resolve então viajar para a Argentina onde viviam muitos italianos, mas faria uma escala... Brasil.

Os tempos da negra fuligem ficariam para traz...  Rumo ao dourado sol do Brasil.



Cinco anos depois que eles deixaram a Belgica um grande desastre aconteceu :

“O desastre de Marcinelle ocorreu na manhã de 08 de agosto de 1956 na mina de carvão “Bois du Cazier Marcinelle”, Bélgica. Foi de um incêndio, causado pela combustão de óleo de alta pressão provocado por uma faísca eléctrica. O fogo, que se desenvolveu inicialmente no duto de entrada de ar principal, cheio de fumaça por toda a instalação subterrânea, matando 262 das 274 pessoas presentes, em sua maioria imigrantes italianos. O incidente é o terceiro para o número de vítimas entre os italianos no exterior após o desastre Monongah e Dawson. O site Bois du Cazier, agora abandonado, faz parte do património intemporal da UNESCO [1].”




(...) No charco das galerias,
Suntuosas catacumbas
Enxofradas de pirita,
Aspiro a nuvem maldita,
Que penetra disfarçada
Levando a morte aos pulmões.

Há mil tosses abafadas,
Mil soluços sufocados,
Quando a rafa faz o corte
Entre gemidos de morte,
Que perpassam como espectros
No rumor das explosões (...)
(Monsenhor Agenor Neves Marques)




https://it.wikipedia.org/wiki/Disastro_di_Marcinelle
file:///C:/Users/User/Desktop/mina.pdf

domingo, 17 de julho de 2016

Canção Italiana Com Duplo Sentido



Nossos imigrantes trouxeram muitas músicas, algumas tristes, melancólicas e outras muito alegres e de duplo significado como essa aqui abaixo:

“Cé tantte segnorinne che sul capello gá,
 la piuma dell´uccello ma lo uccello non lo gá”.

Traduzindo:

“Tem muitas senhoritas que sobre o chapéu tem a pena do passarinho, mas o passarinho elas não tem”.

Uma clara alusão as moças que usavam os chapéus da moda com penas de passarinhos na cabeça mas não tinham namorados. 

Hoje isso poderia ser tratado como bulling, mas uma sonora gargalhada é sempre bem vinda. 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Um Pouco sobre a Imigração Italiana - 140 ANOS - 28/08/2015

No Tirol Italiano (Trento), no Veneto e em toda Itália, havia se espalhado a noticia que no Brasil a terra era mais generosa. 

Que no Brasil seus filhos seriam respeitados e que nas terras do Brasil o ouro escorria em pequenas pepitas de ouro.
Era a terra da fartura, a “Terra da Cucagna”!

Existem relatos de imigrantes que acharam pepitas de ouro após grandes chuvas torrenciais em algumas cidades do Brasil pôr era uma exceção. O ouro não brotava tão facilmente do chão e para que a terra desse frutos tiveram que trabalhar muito.

Os jornais da época assim noticiavam:

“Mais 171 pessoas estão em Trento para partirem desta vez para o Brasil. O jornal suspeita que o futuro de todos eles não seja fácil como estão prometendo.”

E no dia seguinte,

“Continua a emigração do Trentino para o Brasil apesar das noticias pessimistas que chegam daquela terra distante. De Trento partiram mais de 800 pessoas de Fornace. Outra centena de emigrantes partiram alguns dias depois.”

Hoje, 28/08 fazem exatos 140 anos que a primeira leva partiu de Trento para uma aventura de vida ou morte.

Logo em seguida vieram também os bisavós de minha mãe.

Fugindo da pobreza ou da miséria, da exploração, das doenças e das guerras eles venderam o “quase nada” que tinham e partiram para o desconhecido e exótico Brasil.

Não foi a Terra da "Cucagna" que encontraram!

Durante a viagem, nos navios sujos e abarrotados de gente, dos piolhos, das doenças, as pessoas morriam. Mães perdiam filhos. Filhos perdiam seus pais e eles viam seus entes queridos serem jogados ao mar!

Sofrendo mas não podendo desistir da aventura na qual haviam entrado, eles recobravam as esperança quando a noite olhavam para o alto do céu:
  
- Uma terra que tem uma Cruz desenhada no seu céu só pode ser uma terra abençoada! E é para lá que estamos indo.

(Eles se referiam à constelação do "Cruzeiro do Sul" que só pode ser vista no hemisfério sul do nosso planeta.).

Apesar de todo o sofrimento eles mantinham sua esperança e fé na nova terra.

Não era só a viagem e a despedida dos entes queridos que os faria sofrer. O que os aguardava no desembarque também não seria fácil.

Após a chegada, trocavam de navio para chegarem a Itajaí. De lá eram transferidos em carroças para um paiol sujo, infecto e lotado na Colônia de Blumenau.

Amontoadas as famílias aguardavam que o governo imperial apontasse qual porção de terra lhes seria designada para trabalharem e pagarem por ela.

Sim, Eles pagaram pelas terras!
O programa contemplava os estrangeiros, mas também os brasileiros que quisessem se aventurar naquelas terras.

As terras não eram caras como também não eram boas e tiveram muitas dificuldades.  Eles iam desbravaram terras que não eram "habitadas", onde a vegetação imperava soberba e soberana e onde habitavam livres as feras... E os índios, os donos da terra.

Em 1875, enquanto ainda estavam no paiol aguardando uma resposta das autoridades, uma certa noite, eles viram encantados uma grande estrela que viajava no céu.

Seria um sinal? Só podia ser!

E mais uma vez a esperança foi renovada.

Quando finalmente fizeram a demarcação das terras eles perceberam que teriam de desbravar uma floresta onde habitavam os índios, que eram os moradores da região e que estes não a entregariam sem luta.

Nenhum deles podia perder essa guerra!

Nenhum deles podia voltar atrás!

Foi uma luta de vida e morte para ambos!

Lutas, guerra, sofrimento, morte! Para ambos!

Os homens foram na frente para abrirem as estradas e construírem as primeiras cabanas feitas de madeira com teto de folhas de palmito que iriam abrigar essas famílias nos primeiros anos.

Assim começaram meus antepassados neste pais!

Primeiro foram convidados a vir viver uma aventura na terra da Cucagna...
Depois, tiveram que lutar muito para que pudessem sobreviver nela.  

Antônio Moser, sua mulher e seus quatro filhos estavam nesta jornada.

Também estava Bernardo Fiamoncini, Vitória Sardagna e outros que foram chegando com o passar dos anos.

Muitos brasileiros, bisnetos de imigrantes hoje se perguntam se não teria sido melhor eles terem ficado em Trento, na Itália, e não terem imigrado. Afinal a região é linda, de uma natureza exuberante. Hoje em dia, os descendentes desses imigrantes querem ir para lá morar!
Eles se esquecem, ou talvez não saibam que a cidade de Trento de hoje não é a mesma da qual nossos imigrantes saíram... Não!

As dificuldades eram enormes! Eles eram camponeses. Pobres! Explorados! A maioria deles era obrigada a lutar em guerras que não acreditavam!

Naquele tempo praticamente não existia esperança para um camponês melhorar sua vida. Seu destino era trabalhar nas terras, pastorear o gado... No inverno e no verão... E não tinham esperança de estudarem e se formarem... ! Seu destino era ser para sempre um camponês, trabalhando na terra.
Por este motivo vieram para o Brasil... Aqui esperavam que seus filhos pudessem estudar e ter um futuro melhor.
Com o passar dos anos, a cidade de Trento e região se tornou um lugar turístico, aprazível para se viver e cobiçado para se morar. Mas isso foi depois... Muito depois dos nossos italianos partirem de lá. 
Se eles não tivessem partido de lá, poderíamos não estar aqui! Seu ancestral poderia ter morrido numa guerra pelo Império Austro Húngaro, ou na Primeira guerra mundial... Ou na segunda grande guerra. 
Já pensou?

Hoje, há exatos 140 anos desta partida, eu estou aqui a rezar por todos aqueles que lutaram e perderam (e ganharam) suas vidas a fim de que eu pudesse estar aqui escrevendo.

Por aqueles que com o coração constrangido deixaram seu lugar e sua gente.

Por aqueles que superando todo o medo e a insegurança que sentiam, venderam todos os seus parcos pertences e embarcaram nos convés de navios apinhados de gente. Sem conforto! Como bichos!


Obrigada velho imigrante, obrigado Toniol de Miola, (Antônio Moser).

 Bernardo Fiamoncini,

 Sardagna...

Obrigada por todos aqueles que lutaram e venceram.

Obrigada a todos aqueles que lutaram e pereceram nesta aventura!
Meu respeito aos valorosos índios que lutaram pela posse 
de suas terras!

Em nossa memória vão ficar vivos para sempre!
  
Canção do Imigrante 

 “O imigrante italiano que na América chegou,
Com um saco sobre as costa,
Sozinho seguiu em frente.

Devagar sua família ele criou,

Dia e noite a trabalhar, mas o trabalho jamais o cansou.
E agora que o imigrante é velhinho,

com os filhos criados na América,
Ele não esquece sua pequena cidade,

Onde espera retornar um dia.

“A América é terra de liberdade,

Lá você terá seus filhos que serão respeitados.
A América se deve honrar!

Só que para a nossa bela Itália não podemos mais voltar”


Pontes, estradas, minas, ferrovias,

Conhecem o suor do imigrante italiano.
Cada filho de italiano aqui na América chegou,
Se hoje é um doutor ou  se é um advogado, tudo o que conseguiu,
Deve a ele ao Imigrante!
E você, meu velho Imigrante, bem sabes,

que o vosso nome sempre adiante irá.
A sua juventude deu frutos,
nessa terra de felicidade.


  
(tradução livre da letra O Imigrante Italiano) 
http://italiasempre.com/verpor/limmigranteita2.htm





Casa que pertenceu a Antonio Moser em Faida di Piné - Trento

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Perla e il Campanaccio





No inicio da década de 80 estive pela primeira vez na Itália e fui conhecer a cidade onde meu pai nasceu.
Foi uma emoção indescritível conhecer os lugares que ele descrevia em suas historias.

Ao chegar à Itália, mesmo depois de quase 24 horas viajando sem dormir, foi impossível cochilar enquanto o trem se aproximava da cidade onde ele nasceu. A paisagem a emoção de ver aquela terra era enorme e me deixou em “transe”.

Sentia que mesmo sem nunca ter estado lá eu fazia parte de tudo aquilo. Eu conhecia aquelas montanhas, eu conhecia aquela terra, aquela gente. Eu era parte daquela terra.

O tempo que passei no pequeno “paese” do meu pai foram dias emocionantes e cheios de histórias.


Todo o tempo eu “procurava” pelos “personagens” das historias que ele contara. Conhecer os locais onde as historias aconteceram.

As pessoas estranhavam uma moça tão jovem querendo saber sobre coisas do passado.

 É... Eu sempre fui uma apaixonada por historias!




Meu pai, filho de camponês, após ter participado da segunda guerra mundial foi para a Bélgica trabalhar nas minas de carvão.
Naquela época ele não tinha muitas opções, aquele foi o destino tomado por vários amigos, pois não havia trabalho para todos na Itália e sua família havia perdido toda a “criação” e não tinham como fazer seus salames, queijos etc... Os soldados, de várias nacionalidades, diversas facções, que passaram pela minúscula propriedade haviam levado tudo o que podiam.
A guerra deixou seu rastro de fome e dificuldades para todos. A comida era contrabandeada e cara. Tinha se pouco para comer.




O primeiro salário que ele recebeu trabalhando nas minas de carvão ele enviou para seus pais que logo compraram uma “vaca” para restabelecerem o fornecimento de manteiga e queijo na família.

 Essa vaca havia sido premiada num concurso local, porem uma doença em suas “tetas” a havia deformado e ficou desvalorizada. Assim eles puderam comprar um bom animal por um preço razoável.
Essa vaca se chamava “Perla” (Perola) e foi um marco no reerguimento da família no pós-guerra.

Assim que começa o verão, é costume nas montanhas da “Valtellina” soltarem as vacas que passaram o inverno confinadas nos estábulos.  Um cuidado importante se faz necessário: amarram grandes sinos em seu pescoço a fim de localiza-las com mais facilidade. O som desses sinos é uma característica dessas montanhas, canções e poesias falam dele.

( Sons da Valtellina no verão : https://www.youtube.com/watch?v=kXfDyM5dmlI)



 Foi com muita alegria que num desses dias, meu tio Evelino me chamou e abrindo um antigo baú tirou lá de dentro uma “campana”, (sino) que se coloca nas vacas. Deu-me de presente dizendo que deveria ser meu, pois o mesmo tinha sido usado na “Perla”, a vaca comprada com o dinheiro do trabalho de meu pai.  Disse-me que o sino devia ser muito antigo. Talvez do tempo de seu avô.






O sino estava preso num grosso e largo cinturão de couro com uma grande fivela tambem feita de prata e bronze.

Deu-me o presente, mas queria tirar o “cinturão” ao qual era preso, pois segundo ele o “couro” estava com cheiro de vaca! Implorei  que não fizesse isso, pois para mim o "cheiro"  o deixava mais original!  Ele só riu e me entregou o presente

Não sei se ele conseguiu perceber o tamanho da satisfação que senti ao receber o presente.

Guardo com enorme carinho e é uma recordação de meu pai, de meus tios, de meus nonos.

Na viagem de volta para o Brasil, fiquei com medo de que pudessem perder minhas malas, afinal isto acontecia com certa frequência. Resolvi que levaria ele na mão. Coloquei o em uma sacola junto com outros objetos contrabandeados como queijos, vinhos, funghi e salames.  Tudo o que não era permitido passar na alfandega, no Brasil.

Minha viagem de volta foi: Torino/Milão/ Roma/Rio/ BH

Assim que cheguei ao aeroporto em Torino percebi que estava cheio de policiais armados com metralhadoras. Achamos aquilo estranho afinal não sabíamos de nada mais sério que estivesse acontecendo na cidade.

A essa altura eu nem me lembrava do porque minha sacola de mão estava tão pesada. 10 Quilos! Na sacola de mão!

Despachei a mala, fiz o check-in e fui para o embarque onde novamente seriamos vistoriados. Ao chegar à recepção para o embarque, eu só fiquei preocupada com os vários rolos de filme que trazia na minha bolsa (sim, ainda eram aquelas películas) e me esqueci de que a “sacola de mão” deslizava pela esteira rolante e estava sendo “devassada” pelos Raio-X !

De repente uma sirene altíssima ecoou ao meu lado e imediatamente me vi cercada por uns quatro ou cinco soldados e um deles usou o cano da metralhadora par me afastar da fila!  Fazia perguntas porem eu estava tão apavorada que custei a entender que ele me perguntava sobre o que tinha dentro da sacola que havia disparado o alarme de metal.

Respondi que levava somente alimentos...  
Tornou a me perguntar...

 E eu fui abrindo a sacola para mostrar a ele que só tinha queijos, funghi, salames e... 

Oh! Meus Deus ! O sino !!!!!!

Eu havia esquecido do sino. 

Eles ficaram muito bravos comigo. Acho mesmo que ficaram decepcionados. Queriam fazer uma boa apreensão... Queriam pegar uma brasileira contrabandista... ai meu Deus !
O resto do tempo que fiquei esperando na sala de embarque eles ficaram me observando... Eu morrendo de medo! 
Foi durante essa espera que alguem na sala de embarque comentou comigo que no dia anterior haviam preso um casal de “brasileiros” que haviam tentado passar com armas. UFA!!!!

Enfim embarquei com meus salames, queijos e funghi... Agora a preocupação era só que no Brasil eu não fosse pega na alfandega com minha “matula”.
No Brasil apertei a tal campainha e ufa! Deu verde, passagem livre, não precisei passar na inspeção!

 Sim! Os queijos estavam maravilhosos...
  
Recordei toda essa historia porque hoje ao abrir uma pagina na internet me deparei com uma antiquíssima tradição da região da Valtellina, Valcamonica e Aprica.  Chama se “Suna da mars” (sons de março ou canção de março) que me trouxe muitas lembranças.

A festa é uma antiga tradição mágica, pagã que acontece no ultimo dia do mês de fevereiro quando os camponeses descem das montanhas com seus trajes típicos de inverno, em uma espécie de procissão fazendo um barulho ensurdecedor com suas campainhas, sinos, e corneta.  Todo esse barulho é para “despertar a primavera”, pois já estão cansados do inverno. Acordam a natureza para que recomece a brotar e dar o alimento que no passado, era escasso no final do inverno. Exibem e tocam com orgulho seus sinos e campanas... Foi então que eu me lembrei do meu sino!
Pensei até em ir no próximo ano para lá na época da festa... Quem sabe eu levo o meu sino?



Quando eu começo a pesquisar eu custo a parar e então continuei com minha busca pelas tradições locais de Sondrio. Acabei descobrindo que o que meu pai me contava como uma “brincadeira de crianças” é na verdade uma tradição local e é conhecida como: LE FORA L’ORS DE LA TANA (o urso esta fora da toca)

A região montanhosa da Valtellina foi no passado, infestada por ursos e lobos.  O “paese” onde meu pai nasceu não fugia a regra. Ursos e lobos vagavam com frequência nos arredores das casas e atacavam pessoas e animais.  Os camponeses para se protegerem, contruiam suas casas uma colada a outra.
Até a chegada da luz elétrica naquelas localidades, as casas eram construídas de forma que não fosse necessário sair “a rua” para se locomover de uma casa para outra. Uma porta, uma varanda ou um corredor as ligavam.


Casa no Palú ( Caiolo - Sondrio em 1981)

Casa no Palú ( Caiolo - Sondrio) em 2014


 (Essas casas estão muito bem retratadas num lindo filme chamado “A Árvore dos Tamancos”)


A tradição é na uma brincadeira da época e acontecia nos primeiros dias de fevereiro, época em que os ursos acordavam de sua longa hibernação. Consistia em assustar algum amigo desprevenido ou mais medroso gritando: Corre que o urso saiu da toca!



Se você fizer essa brincadeira hoje em dia, aqui no Brasil, a pessoa com certeza dirá que você é louco... Mas naquela época... As pessoas não iam correr o risco de duvidar.
Era melhor correr e conferir depois.

Lobos e ursos eram reverenciados num passado recente e esse é o motivo de muitos homens naquela região terem o nome de: Adolfo

Adolfo significa lobo nobre, uma alegoria do poder indestrutível.
Ah... É o nome de meu pai!





Porque Coelhos e Ovos São Símbolos da Páscoa?

            ( Por: Dóris Bonini) Existem muitas explicações sobre "ovos" e "coelhos" como símbolos da Páscoa mas,  para ...