sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Um Pouco sobre a Imigração Italiana - 140 ANOS - 28/08/2015

No Tirol Italiano (Trento), no Veneto e em toda Itália, havia se espalhado a noticia que no Brasil a terra era mais generosa. 

Que no Brasil seus filhos seriam respeitados e que nas terras do Brasil o ouro escorria em pequenas pepitas de ouro.
Era a terra da fartura, a “Terra da Cucagna”!

Existem relatos de imigrantes que acharam pepitas de ouro após grandes chuvas torrenciais em algumas cidades do Brasil pôr era uma exceção. O ouro não brotava tão facilmente do chão e para que a terra desse frutos tiveram que trabalhar muito.

Os jornais da época assim noticiavam:

“Mais 171 pessoas estão em Trento para partirem desta vez para o Brasil. O jornal suspeita que o futuro de todos eles não seja fácil como estão prometendo.”

E no dia seguinte,

“Continua a emigração do Trentino para o Brasil apesar das noticias pessimistas que chegam daquela terra distante. De Trento partiram mais de 800 pessoas de Fornace. Outra centena de emigrantes partiram alguns dias depois.”

Hoje, 28/08 fazem exatos 140 anos que a primeira leva partiu de Trento para uma aventura de vida ou morte.

Logo em seguida vieram também os bisavós de minha mãe.

Fugindo da pobreza ou da miséria, da exploração, das doenças e das guerras eles venderam o “quase nada” que tinham e partiram para o desconhecido e exótico Brasil.

Não foi a Terra da "Cucagna" que encontraram!

Durante a viagem, nos navios sujos e abarrotados de gente, dos piolhos, das doenças, as pessoas morriam. Mães perdiam filhos. Filhos perdiam seus pais e eles viam seus entes queridos serem jogados ao mar!

Sofrendo mas não podendo desistir da aventura na qual haviam entrado, eles recobravam as esperança quando a noite olhavam para o alto do céu:
  
- Uma terra que tem uma Cruz desenhada no seu céu só pode ser uma terra abençoada! E é para lá que estamos indo.

(Eles se referiam à constelação do "Cruzeiro do Sul" que só pode ser vista no hemisfério sul do nosso planeta.).

Apesar de todo o sofrimento eles mantinham sua esperança e fé na nova terra.

Não era só a viagem e a despedida dos entes queridos que os faria sofrer. O que os aguardava no desembarque também não seria fácil.

Após a chegada, trocavam de navio para chegarem a Itajaí. De lá eram transferidos em carroças para um paiol sujo, infecto e lotado na Colônia de Blumenau.

Amontoadas as famílias aguardavam que o governo imperial apontasse qual porção de terra lhes seria designada para trabalharem e pagarem por ela.

Sim, Eles pagaram pelas terras!
O programa contemplava os estrangeiros, mas também os brasileiros que quisessem se aventurar naquelas terras.

As terras não eram caras como também não eram boas e tiveram muitas dificuldades.  Eles iam desbravaram terras que não eram "habitadas", onde a vegetação imperava soberba e soberana e onde habitavam livres as feras... E os índios, os donos da terra.

Em 1875, enquanto ainda estavam no paiol aguardando uma resposta das autoridades, uma certa noite, eles viram encantados uma grande estrela que viajava no céu.

Seria um sinal? Só podia ser!

E mais uma vez a esperança foi renovada.

Quando finalmente fizeram a demarcação das terras eles perceberam que teriam de desbravar uma floresta onde habitavam os índios, que eram os moradores da região e que estes não a entregariam sem luta.

Nenhum deles podia perder essa guerra!

Nenhum deles podia voltar atrás!

Foi uma luta de vida e morte para ambos!

Lutas, guerra, sofrimento, morte! Para ambos!

Os homens foram na frente para abrirem as estradas e construírem as primeiras cabanas feitas de madeira com teto de folhas de palmito que iriam abrigar essas famílias nos primeiros anos.

Assim começaram meus antepassados neste pais!

Primeiro foram convidados a vir viver uma aventura na terra da Cucagna...
Depois, tiveram que lutar muito para que pudessem sobreviver nela.  

Antônio Moser, sua mulher e seus quatro filhos estavam nesta jornada.

Também estava Bernardo Fiamoncini, Vitória Sardagna e outros que foram chegando com o passar dos anos.

Muitos brasileiros, bisnetos de imigrantes hoje se perguntam se não teria sido melhor eles terem ficado em Trento, na Itália, e não terem imigrado. Afinal a região é linda, de uma natureza exuberante. Hoje em dia, os descendentes desses imigrantes querem ir para lá morar!
Eles se esquecem, ou talvez não saibam que a cidade de Trento de hoje não é a mesma da qual nossos imigrantes saíram... Não!

As dificuldades eram enormes! Eles eram camponeses. Pobres! Explorados! A maioria deles era obrigada a lutar em guerras que não acreditavam!

Naquele tempo praticamente não existia esperança para um camponês melhorar sua vida. Seu destino era trabalhar nas terras, pastorear o gado... No inverno e no verão... E não tinham esperança de estudarem e se formarem... ! Seu destino era ser para sempre um camponês, trabalhando na terra.
Por este motivo vieram para o Brasil... Aqui esperavam que seus filhos pudessem estudar e ter um futuro melhor.
Com o passar dos anos, a cidade de Trento e região se tornou um lugar turístico, aprazível para se viver e cobiçado para se morar. Mas isso foi depois... Muito depois dos nossos italianos partirem de lá. 
Se eles não tivessem partido de lá, poderíamos não estar aqui! Seu ancestral poderia ter morrido numa guerra pelo Império Austro Húngaro, ou na Primeira guerra mundial... Ou na segunda grande guerra. 
Já pensou?

Hoje, há exatos 140 anos desta partida, eu estou aqui a rezar por todos aqueles que lutaram e perderam (e ganharam) suas vidas a fim de que eu pudesse estar aqui escrevendo.

Por aqueles que com o coração constrangido deixaram seu lugar e sua gente.

Por aqueles que superando todo o medo e a insegurança que sentiam, venderam todos os seus parcos pertences e embarcaram nos convés de navios apinhados de gente. Sem conforto! Como bichos!


Obrigada velho imigrante, obrigado Toniol de Miola, (Antônio Moser).

 Bernardo Fiamoncini,

 Sardagna...

Obrigada por todos aqueles que lutaram e venceram.

Obrigada a todos aqueles que lutaram e pereceram nesta aventura!
Meu respeito aos valorosos índios que lutaram pela posse 
de suas terras!

Em nossa memória vão ficar vivos para sempre!
  
Canção do Imigrante 

 “O imigrante italiano que na América chegou,
Com um saco sobre as costa,
Sozinho seguiu em frente.

Devagar sua família ele criou,

Dia e noite a trabalhar, mas o trabalho jamais o cansou.
E agora que o imigrante é velhinho,

com os filhos criados na América,
Ele não esquece sua pequena cidade,

Onde espera retornar um dia.

“A América é terra de liberdade,

Lá você terá seus filhos que serão respeitados.
A América se deve honrar!

Só que para a nossa bela Itália não podemos mais voltar”


Pontes, estradas, minas, ferrovias,

Conhecem o suor do imigrante italiano.
Cada filho de italiano aqui na América chegou,
Se hoje é um doutor ou  se é um advogado, tudo o que conseguiu,
Deve a ele ao Imigrante!
E você, meu velho Imigrante, bem sabes,

que o vosso nome sempre adiante irá.
A sua juventude deu frutos,
nessa terra de felicidade.


  
(tradução livre da letra O Imigrante Italiano) 
http://italiasempre.com/verpor/limmigranteita2.htm





Casa que pertenceu a Antonio Moser em Faida di Piné - Trento

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Perla e il Campanaccio





No inicio da década de 80 estive pela primeira vez na Itália e fui conhecer a cidade onde meu pai nasceu.
Foi uma emoção indescritível conhecer os lugares que ele descrevia em suas historias.

Ao chegar à Itália, mesmo depois de quase 24 horas viajando sem dormir, foi impossível cochilar enquanto o trem se aproximava da cidade onde ele nasceu. A paisagem a emoção de ver aquela terra era enorme e me deixou em “transe”.

Sentia que mesmo sem nunca ter estado lá eu fazia parte de tudo aquilo. Eu conhecia aquelas montanhas, eu conhecia aquela terra, aquela gente. Eu era parte daquela terra.

O tempo que passei no pequeno “paese” do meu pai foram dias emocionantes e cheios de histórias.


Todo o tempo eu “procurava” pelos “personagens” das historias que ele contara. Conhecer os locais onde as historias aconteceram.

As pessoas estranhavam uma moça tão jovem querendo saber sobre coisas do passado.

 É... Eu sempre fui uma apaixonada por historias!




Meu pai, filho de camponês, após ter participado da segunda guerra mundial foi para a Bélgica trabalhar nas minas de carvão.
Naquela época ele não tinha muitas opções, aquele foi o destino tomado por vários amigos, pois não havia trabalho para todos na Itália e sua família havia perdido toda a “criação” e não tinham como fazer seus salames, queijos etc... Os soldados, de várias nacionalidades, diversas facções, que passaram pela minúscula propriedade haviam levado tudo o que podiam.
A guerra deixou seu rastro de fome e dificuldades para todos. A comida era contrabandeada e cara. Tinha se pouco para comer.




O primeiro salário que ele recebeu trabalhando nas minas de carvão ele enviou para seus pais que logo compraram uma “vaca” para restabelecerem o fornecimento de manteiga e queijo na família.

 Essa vaca havia sido premiada num concurso local, porem uma doença em suas “tetas” a havia deformado e ficou desvalorizada. Assim eles puderam comprar um bom animal por um preço razoável.
Essa vaca se chamava “Perla” (Perola) e foi um marco no reerguimento da família no pós-guerra.

Assim que começa o verão, é costume nas montanhas da “Valtellina” soltarem as vacas que passaram o inverno confinadas nos estábulos.  Um cuidado importante se faz necessário: amarram grandes sinos em seu pescoço a fim de localiza-las com mais facilidade. O som desses sinos é uma característica dessas montanhas, canções e poesias falam dele.

( Sons da Valtellina no verão : https://www.youtube.com/watch?v=kXfDyM5dmlI)



 Foi com muita alegria que num desses dias, meu tio Evelino me chamou e abrindo um antigo baú tirou lá de dentro uma “campana”, (sino) que se coloca nas vacas. Deu-me de presente dizendo que deveria ser meu, pois o mesmo tinha sido usado na “Perla”, a vaca comprada com o dinheiro do trabalho de meu pai.  Disse-me que o sino devia ser muito antigo. Talvez do tempo de seu avô.






O sino estava preso num grosso e largo cinturão de couro com uma grande fivela tambem feita de prata e bronze.

Deu-me o presente, mas queria tirar o “cinturão” ao qual era preso, pois segundo ele o “couro” estava com cheiro de vaca! Implorei  que não fizesse isso, pois para mim o "cheiro"  o deixava mais original!  Ele só riu e me entregou o presente

Não sei se ele conseguiu perceber o tamanho da satisfação que senti ao receber o presente.

Guardo com enorme carinho e é uma recordação de meu pai, de meus tios, de meus nonos.

Na viagem de volta para o Brasil, fiquei com medo de que pudessem perder minhas malas, afinal isto acontecia com certa frequência. Resolvi que levaria ele na mão. Coloquei o em uma sacola junto com outros objetos contrabandeados como queijos, vinhos, funghi e salames.  Tudo o que não era permitido passar na alfandega, no Brasil.

Minha viagem de volta foi: Torino/Milão/ Roma/Rio/ BH

Assim que cheguei ao aeroporto em Torino percebi que estava cheio de policiais armados com metralhadoras. Achamos aquilo estranho afinal não sabíamos de nada mais sério que estivesse acontecendo na cidade.

A essa altura eu nem me lembrava do porque minha sacola de mão estava tão pesada. 10 Quilos! Na sacola de mão!

Despachei a mala, fiz o check-in e fui para o embarque onde novamente seriamos vistoriados. Ao chegar à recepção para o embarque, eu só fiquei preocupada com os vários rolos de filme que trazia na minha bolsa (sim, ainda eram aquelas películas) e me esqueci de que a “sacola de mão” deslizava pela esteira rolante e estava sendo “devassada” pelos Raio-X !

De repente uma sirene altíssima ecoou ao meu lado e imediatamente me vi cercada por uns quatro ou cinco soldados e um deles usou o cano da metralhadora par me afastar da fila!  Fazia perguntas porem eu estava tão apavorada que custei a entender que ele me perguntava sobre o que tinha dentro da sacola que havia disparado o alarme de metal.

Respondi que levava somente alimentos...  
Tornou a me perguntar...

 E eu fui abrindo a sacola para mostrar a ele que só tinha queijos, funghi, salames e... 

Oh! Meus Deus ! O sino !!!!!!

Eu havia esquecido do sino. 

Eles ficaram muito bravos comigo. Acho mesmo que ficaram decepcionados. Queriam fazer uma boa apreensão... Queriam pegar uma brasileira contrabandista... ai meu Deus !
O resto do tempo que fiquei esperando na sala de embarque eles ficaram me observando... Eu morrendo de medo! 
Foi durante essa espera que alguem na sala de embarque comentou comigo que no dia anterior haviam preso um casal de “brasileiros” que haviam tentado passar com armas. UFA!!!!

Enfim embarquei com meus salames, queijos e funghi... Agora a preocupação era só que no Brasil eu não fosse pega na alfandega com minha “matula”.
No Brasil apertei a tal campainha e ufa! Deu verde, passagem livre, não precisei passar na inspeção!

 Sim! Os queijos estavam maravilhosos...
  
Recordei toda essa historia porque hoje ao abrir uma pagina na internet me deparei com uma antiquíssima tradição da região da Valtellina, Valcamonica e Aprica.  Chama se “Suna da mars” (sons de março ou canção de março) que me trouxe muitas lembranças.

A festa é uma antiga tradição mágica, pagã que acontece no ultimo dia do mês de fevereiro quando os camponeses descem das montanhas com seus trajes típicos de inverno, em uma espécie de procissão fazendo um barulho ensurdecedor com suas campainhas, sinos, e corneta.  Todo esse barulho é para “despertar a primavera”, pois já estão cansados do inverno. Acordam a natureza para que recomece a brotar e dar o alimento que no passado, era escasso no final do inverno. Exibem e tocam com orgulho seus sinos e campanas... Foi então que eu me lembrei do meu sino!
Pensei até em ir no próximo ano para lá na época da festa... Quem sabe eu levo o meu sino?



Quando eu começo a pesquisar eu custo a parar e então continuei com minha busca pelas tradições locais de Sondrio. Acabei descobrindo que o que meu pai me contava como uma “brincadeira de crianças” é na verdade uma tradição local e é conhecida como: LE FORA L’ORS DE LA TANA (o urso esta fora da toca)

A região montanhosa da Valtellina foi no passado, infestada por ursos e lobos.  O “paese” onde meu pai nasceu não fugia a regra. Ursos e lobos vagavam com frequência nos arredores das casas e atacavam pessoas e animais.  Os camponeses para se protegerem, contruiam suas casas uma colada a outra.
Até a chegada da luz elétrica naquelas localidades, as casas eram construídas de forma que não fosse necessário sair “a rua” para se locomover de uma casa para outra. Uma porta, uma varanda ou um corredor as ligavam.


Casa no Palú ( Caiolo - Sondrio em 1981)

Casa no Palú ( Caiolo - Sondrio) em 2014


 (Essas casas estão muito bem retratadas num lindo filme chamado “A Árvore dos Tamancos”)


A tradição é na uma brincadeira da época e acontecia nos primeiros dias de fevereiro, época em que os ursos acordavam de sua longa hibernação. Consistia em assustar algum amigo desprevenido ou mais medroso gritando: Corre que o urso saiu da toca!



Se você fizer essa brincadeira hoje em dia, aqui no Brasil, a pessoa com certeza dirá que você é louco... Mas naquela época... As pessoas não iam correr o risco de duvidar.
Era melhor correr e conferir depois.

Lobos e ursos eram reverenciados num passado recente e esse é o motivo de muitos homens naquela região terem o nome de: Adolfo

Adolfo significa lobo nobre, uma alegoria do poder indestrutível.
Ah... É o nome de meu pai!





domingo, 26 de abril de 2015

OS QUATRO IRMÃOS ZAMBONI



Uma foto!

Quatro homens! Quatro irmãos! Tios de meu pai.

Imigraram para os EUA da América no inicio do século XX.

Esta foto sempre esteve no nosso álbum de família juntamente com outras que me intrigavam.

Quem eram eles? Onde estariam? Se eram da família porque não tínhamos contato com eles?

Quando meu pai nasceu eles já moravam na América. Eram os tios que imigraram para os EUA. Ele chegou a brincar com a prima, filha de um deles: Palmira, mas isto foi logo depois da segunda guerra da qual ele participou na turma da "marmelada".
Depois não teve mais noticias e ele também acabou entrando na longa lista de imigrantes; para o Brasil.

Anos se passaram. Meu pai morreu em 1994 sem nunca ter alguma noticia deles.

Em busca da minha historia e da historia de meus "nonos" eu acabei encontrando alguns nomes em comum nos EUA.
Mandei um email com algumas fotos e em anexo um breve relato.

Recebi logo em seguida uma resposta que me deixou eufórica:

“Estou muito feliz por ler sua mensagem. Eu reconheci a foto dos quatro irmãos incluída em sua mensagem. Meu avô é um dos que está na foto. Eu adoraria trocar informações sobre nossa família!
O mais velho dos irmãos é Pedro (Uncle Pete) que tinha um rancho na Califórnia. Todos os irmãos trabalharam para ele assim que chegaram à América.  Todos acabaram tendo seu próprio negocio, mas estavam sempre em contato.  Tio Pedro casou se com Giuletta, nascida tambem na Itália... Tiveram 12 filhos.
Uncle Bob (Giovanni) nunca se casou...              . 
Tio Attilio casou se com a sobrinha de Giulietta...
Meu pai Eugenio...
Temos muitas informações para trocar, muito para descobrir!
Estou tão feliz de encontrar mais primos no Brasil!”
Shirley

Minha "nova prima"  trouxe um mundo de novas informações: Eles ressurgissem das cinzas, das brumas do passado.

Forneceu-me certidões que eu nunca havia visto, inclusive de minha avó. Segundo ela todas guardadas pelo “Uncle Pete” que  devia ter a mesma “fixação” em guardar a memoria da família.

Por fim, ri de mim mesma, pois todo o tempo eu procurara pelo "Zio Pedro", "Zio Giovanni", "Zio Eugenio" e não me dera conta que eles haviam se transformado em "Uncle Pete", Uncle Bob, Uncle Jimmy... 

Shirley tambem me informou sobre o nosso parentesco com o famoso inventor das maquinas de limpar gelo na Italia : As Zambonis.  Contou me que um desses meus tios avôs, trabalhou com Frank  enquanto ele desenvolvia a maquina.
Descobri tambem que o mais novo deles, Attilio, só veio a falecer alguns anos depois de meu pai e, pensei que poderiam ter se encontrado e imaginei o que falarriam... O que compartilhariam sobre a diferença da imigraçao entre os EUA e o Brasil.

Meu pai lutou na guerra. Pertenceu ao exercito e tambem foi partizan. Depois trabalhou nas minas de carvão da Belgica e decidiu vir para o Brasil.

Eu fui descobrindo mais informações dos Zambonis dos EUA. 

Eles nasceram na pequena cidade do Norte da Itália : Colorina - Sondrio

Na cidade, ainda hoje existe um velho moinho comandado por um descendente de Erminio Zamboni, tio de minha avó. (http://www.ilgiorno.it/sondrio/cronaca/2012/01/09/649302-mulino_colorina_macina_sempre.shtml)

Junto com o email de Shirley, veio uma nova foto com quatro homens: Agora uma foto colorida!

Eram homens mais velhos posando de forma alegre e descontraida. 

Na verdade a nova foto era o epilogo feliz daquela primeira: os quatro irmãos, sorridentes, tranquilos, com expressão de dever cumprido... Quase a nos dizer: 



Viu?   Conseguimos! Fizemos a América !







Shirley tambem me informou sobre o nosso parentesco com o famoso inventor das maquinas de limpar gele na Italia : As Zambonis.  Contou me que um desses meus tios avôs, trabalhou com Frank  enquanto ele desenvolvia a maquina.

Fui descobrindo mais informações dos Zambonis...

Eles nasceram na pequena cidade do Norte da Itália : Colorina - Sondrio

Na cidade, ainda hoje existe um velho moinho comandado por um descendente de Erminio Zamboni, tio de minha avó.

http://www.ilgiorno.it/sondrio/cronaca/2012/01/09/649302-mulino_colorina_macina_sempre.shtml
















sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Uma Faxina Diferente

Meu pai à cabeceira da mesa com amgios da familia. 


Era um tempo diferente... Pelo menos para mim e acho que para minhas irmãs tambem.
Todos os dias, tínhamos que almoçar e jantar todos juntos, reunidos em volta da mesa, e assim foi por muitos anos.

Na nossa mesa, todos os dias, no almoço e na janta, nunca faltou o azeite (virgem, de oliva), o queijo, o pão e o vinho.

Meu pai não era um homem de “luxo”, mas nos dizia que vinho se toma em taça, como o café se toma em xicaras... E ponto!

Esse luxo ele fazia questão.

Claro, ele era italiano! Legitimo!

Havia os vinhos para os dias da semana, eram vinhos mais simples, que ele comprava em garrafão de 5 litros e nos fazia engarrafar em garrafas menores. Esse vinho era consumido com moderação durante a semana.

Nunca vi meu pai bêbado... Ah! Estou mentindo... vi somente uma vez em que voltamos da festa de casamento de um primo. Ele estava um pouco alterado e na volta, já em casa foi para o quintal, deitou no banco de pedra e ficou olhando a lua... Só me lembro desta vez!

Para os fins de semana ele reservava os vinhos mais caros!

Eu sempre fui muito magra e uma das preocupações de meus pais era que eu engordasse um pouco. Para isto me fizeram tomar todos os tipos de remédios recomendados na época e nada adiantou.
Uma das estratégias para me manterem bem alimentada era bater um ovo cru com açúcar e vinho no liquidificador. Era o famoso “zambayone” e eu tinha de tomar pela manha. Tenho certeza que hoje em dia este atitude é tida como politicamente incorreta, pois eu só tinha 11 anos.
Não, não virei alcoólatra, bebo pouquíssimo, menos que o chamado socialmente.

Meu pai, já por tradição, sabia que o vinho era um ótimo alimento e me lembro de criança ainda,com meus 6 ou 7 anos, ele permitia a mim e minhas irmãs, que bebêssemos vinho misturado com água e açúcar... Refrigerantes? Nem pensar!

Uma das primeiras coisas que uma nova empregada doméstica aprendia em nossa casa era colocar a taça de vinho (de cristal) ao lado do prato. Ela logo aprendia que tambem no tempero das carnes, nos risotos etc... tínha que acrescentar um pouco de vinho.

 Era um tempo onde o consumo do vinho não era tão comum como é hoje em dia e quando a  empregada era nova sempre ficava impressionada com a importância que dávamos ao vinho.

 Num determinado dia, minha mãe (que ainda tem sotaque de “catarinense”), antes de sair para ir à cidade, pediu a nova empregada (Judite) que esfregasse o piso da sala de jantar:

-  Judite, este piso está muito sujo. Dê uma boa esfregada nele. Jogue “vim” e dê uma caprichada no chão !

Ao voltar da cidade, assim que passou pela sala de jantar, minha mãe sentiu um forte cheiro de vinho. Olhou para o chão e viu que ele estava com uma cor avermelhada. Achou estranho e pensou que alguma garrafa de vinho havia se quebrado e que o liquido havia se esparramado pela sala. Chamou pela empregada e perguntou para ela o que havia acontecido. Judite então respondeu:

- Ué D. Miriam, fiz como a senhora pediu! Esfreguei o chão com “vinho”!

- Mas Judite, eu falei para você esfregar o chão com “vim” não com “vinho”!

- Ah D. Miriam! Bem que eu achei estranho, mas como nessa casa vocês usam vinho para tudo entendi que era para esfregar tambem o chão com vinho!

E caíram as duas na risada!

Acho que poucas pessoas tiveram o chão de suas casas esfregadas com vinho!


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Não se come ouro...

Meu pai me contou...

Ele nasceu na Italia, antes da segunda Guerra Mundial e chegou a participar dela.

Ele era filho de camponeses e  faziam seus queijos, seus vinhos, seus salames, sua manteiga com o leite que tiravam das vacas e das cabras.  Plantavam e colhiam, cardavam, teciam e tingiam a lã. Do que sobrava faziam compotas para guardar para o tempo do inverno.

 A manteiga e o salame eles vendiam na feira da cidade.

 Ele me contou que antes da guerra ele ia vender a manteiga na feira e as "senhoras mais ricas" chegavam para comprar e queriam experimentar a manteiga... Ele contou que sentia nojo, pois as "ricas senhoras", raspavam sua longa unha na manteiga e colocavam na boca para sentirem o sabor. Depois criticavam: ora insonsa, ora salgada, ora passada, ora sem gordura... Nunca estava boa.

 Na verdade era uma artimanha para baixar o preço... 

Bom, eis que chega a Segunda Guerra Munidal e com ela a dificuldade de se encontrar alimentos.

 As mesmas senhoras que antes criticavam, agora batiam na porta da casa dele para pedirem "pelo amor de Deus"  qualquer pedaço de manteiga, salame, queijo ou compota... estavam sem ter do que se alimentar... 

Como ele dizia : Não adianta ter ouro se não se tem o que comer... não se come ouro !

Não ´é ?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

KRAMPUS - UMA LENDA DO DIABO NO NATAL EUROPEU



No dia 6 de janeiro, melhor dizendo, durante todo o mês de dezembro, aqui no Brasil,  as Folias de Reis e as Pastorinhas percorrem as casas cantando e homenageando o menino Jesus que nasceu.

Acompanha a Folia de Reis os chamados : Palhaços, Marungos, Bastiões ...

Enfeitados com sua máscaras eles são sempre um figura curiosa nesta tradição.
Os  “palhaços” são os soldados romanos que se vestiram assim para despistar o Rei Herodes que queria matar o menino Jesus.

 As máscaras, segundo alguns,  representam  uma coisa demoníaca: o diabo; assassino do menino Jesus, mas Jesus os converte no decorrer da história e pelo menos aqui no Brasil elas ( as máscaras)  não tem este cunho maléfico.

Na tradição alpina, no Sul do Tirol, na Áustria, Baviera, Friuli e Venezia Giulia, Bolzano ( Itália), podemos observar uma tradição bastante similar.  Lá o nosso “ Papai Noel” é conhecido como “ São Nicolau” e ele vem acompanhado de uma figura  demoníaca e que atualmente esta ficando bem conhecida aqui no Brasil : KRAMPUS.

Krampus aparece no Natal, no periodo do advento e até o dia 6 de janeiro e tem a tarefa de punir as crianças que não se comportaram durante o ano. Ele é considerado a antítese do Papai Noel.

Sua origem se perde no tempo,  mas segundo os  pesquisadores esta tradição está associada  a  rituais pagão ( provavelmente celtas): a eterna luta entre o bem e o mal e, que foram adaptadas ao cristianismo  ou talvez a uma outra  tradição do “Solsticio de Inverno”.

O Nome “Kramp” quer dizer: morto, podre, passado,  mas tambem é conhecido como : diabo.

Na Europa, durante o período da Inquisição o rito do Krampus foi proibido por estar relacionando ao demônio,  porem a tradição resistiu em alguns vales remotos no Norte da Itália.

Conta a lenda que em épocas de fome alguns jovens das aldeias nas montanhas,  se vestiram com penas, chifres e peles de animais. Ficaram irreconhecíveis,  e sairam para aterrorizar os habitantes das aldeias vizinha roubando lhes a comida estocada para os rigorosos invernos.
Mascarados os  jovens não se reconheciam entre si e foi então  que o próprio diabo se aproveitou da situação para se misturar entre eles. Foi finalmente reconhecido por causa de suas “pernas de cabra”. Os jovens então, pediram ajuda ao  Bispo Nicolau:

- que ele exorcizasse tal  criatura demoníaca! 

O Diabo foi derrotado por São Nicolau e então os jovens puderam continuar a sair nas ruas fantasiados, porem não mais para roubar e saquear mas para levar presentes ou “bater nas crianças desobedientes”.


As primeiras noticias que se temos da tradição de São Nicolau visitar casas e fazendas para proteger as crianças, remontam ao século XVII. Proibido durante a inquisição, retornaram em meados do século XIX com desfiles oficiais e corridas.


Os “ Krampus” são homens-cabras, selvagens, perturbadores da ordem e  que perambulam pelas ruas em busca das crianças desobedientes.  O rosto sempre  coberto por uma mascara assustadora ,geralmente feitas de madeira e “cartapesca”. Suas roupas são rasgadas e desgastadas.  Vagando pelas ruas da cidade, Krampus faz muito barulho: urrando, gritando, ou fazendo estardalhaço com sinos e chifres.

Krampus vem sempre acompanhado do bispo, São Nicolau que o derrotou.

Somente homens podem se disfarçar de Krampus! Apesar de tambem existir o feminino de Krampus, a “Krampa” ela será com , um homem, com trajes de mulher, se fazendo passar por uma “Krampa”.

Assim como nossos palhaços da Folia de Reis, é um privilégio e uma obrigação ser um Krampus.

Só pode se tornar um Krampus quem nasceu na cidade e é solteiro.  Os homens casados não podem ser Krampus e os carros alegóricos e fantasias só podem ser enfeitados e manipulados  por homens solteiros.

Outra regra básica é que eles nunca podem ser vistos sem a mascara! Caso alguém veja seu rosto este homem ficará desonrado!



Acompanhado de São Nicolau que vem vestido de vermelho, Krampus chega vestido de preto, visitando as crianças em suas casas e em festas que  reúne diversas famílias e entidades religiosas. 

As crianças que se comportaram, recebem presentes, porem as  desobedientes recebem um pedaço de carvão. Todos tem de tomar cuidado com  a ira de Krampus, que armado com um pequeno chicote tenta açoitar as pernas daqueles que vai encontrando no caminho ou mesmo manchando seus rostos com cinzas.

 São Nicolau, sempre presente, tenta apaziguar essa ira, porem ao por do sol, São Nicolau se recolhe e Krampus fica livre para percorrer sem controle as ruas da cidade.
As cores desta festa são o preto e o vermelho !




Porque Coelhos e Ovos São Símbolos da Páscoa?

            ( Por: Dóris Bonini) Existem muitas explicações sobre "ovos" e "coelhos" como símbolos da Páscoa mas,  para ...