Luigina Bonini
Caiolo
- *31/12/1921
Caiolo
- 02/10/1940
Desde
que me lembro ela era somente “a irmã dele que morreu com 18 anos” e da qual
pouco se falava e eu não conhecera.
Meu interesse sobre quem ela foi crescendo na
medida em que os anos se passavam.
Primeiro eu quis saber quem eram os pais dele.
Depois a curiosidade foi para amigos, namoradas, fatos da vida interessante que
ele teve como guerra, trabalhar nas minas de carvão, imigração etc...
O nome dela não era comentado.
Foi folheando o álbum que me interessei por
essa moça.
Primeiro foi:
- Quem é Pai?
- Minha irmã
- Imã? Não sabia? Onde ela mora? É casada?
Mora na Itália?
- Não... Morreu nova
A forma como ele respondia as minhas perguntas
passava uma sensação de coisa normal. Nada dramático. Uma morte, natural,
comum... Como se tivesse morrido quando ele muito pequeno e não se lembrasse
muito dela. Então comecei a fazer as contas...
Ela era só três anos e nove meses mais velha
que ele. O irmão mais próximo, no casa, a irmã.
Conclui então que devem ter brincado juntos,
foram próximos. E, foi “velha” o bastante para tomar conta dele e brincar com
ele.
Talvez tenha sido ela que conseguiu o trenó
para ele brincar de deslizar na neve quando o inverno chegava.
Era velha o bastante para se preocupar com ele
quando ficava doente ou quando ele sumia nos pastos ou se escondia no estabulo
ao lado da casa e passava a noite deitado no feno com os bezerros que
nasciam.
E
a curiosidade aumentava.
-
De que morreu Pai?
-
Ficou doente.
-
Que doença Pai?
Quando
éramos crianças meu pai tinha um temor que transparecia quando ficávamos
gripadas e foi somente quando soube da história de Luigina que entendi a origem
do medo que sentia.
- 18 anos
- Tinha namorado?
- Tinha, era um rapaz de Caiolo.
- O senhor se lembra dela? Como ela era?
- Ela se parecia um pouco com a Cátia. Era moça alegre, sorridente.
Gostava de ajudar todo mundo.
- Pai, afinal. Conta direito à história da Luigina.
- Vou te contar. Mas depois não me pergunte nunca mais! Não gosto de
ficar lembrando isso.
Havia aprendido também a dar injeções. Talvez tenha aprendido quando ele
teve “Tifo” e quase morreu. Ou tenha herdado esse dom de cuidar dos outros de
seu pai, Daniele.
O Palú é uma “frazione” de Caiolo situado na Província de Sondrio. Norte
da Itália muito perto da fronteira da Suíça, uns 15 minutos. Lugar gelado,
afastado da cidade com montanhas com neve perene e muitas arvores. As pessoas
que ali moravam podiam ser camponeses, mas também haviam outras profissões, mas
todos também eram conhecidos como: Montanari, ou povo de montanha.
Uma das profissões comuns para a sobrevivência era ser: Lenhador.
Lembro de meu pai me contar que sua mãe perdeu um filho de nome Guilherme
Bonini, mas ele não conheceu. Hoje penso que esse “Guglielmo” deve ter sido o
primeiro filho de minha Nonna Emília. Isso porque analisando a data de
casamento dela com meu Nonno eles só tiveram o primeiro filho muitos anos
depois do casamento. Acho que na realidade o Guglielmo foi o primeiro filho.
Ele deve ter morrido quando meu pai nem era nascido. Digo isso porque Nonno
Daniele havia se casado com uma primeira esposa que morreu no parto A criança
se chamou Antônio. Ela morreu em 1908.
Nonno Daniele e Nonna Emília se casaram dois anos depois em 1910. Isso
era comum. Afinal quem tomaria conta de Antônio? O tio Romeo que é o filho mais
velho nasceu em 1916. Seis anos sem ter filhos? Isso não era comum naquela
época mesmo porque depois do tio Romeu eles tiveram Evelino em 1919, Luigina em
dezembro de 1921 e meu pai em 9/1925 quando minha Nonna tinha quase 44 anos.
Achei estranho e minha desconfiança aumentou ainda mais quando na minha
pesquisa apareceu uma homenagem a um jovem chamado “Guglielmo Zamboni” que
morreu em 1925 (ano que meu pai nasceu) em “Colorina” devido ao corte de
arvores. Se este fosse o irmão mais velho de meu pai e fazendo as contas do
casamento de Daniele e Emília ele deveria ter seus 14 anos. As coisas se
encaixam. Se é esse o tal Guglielmo eu não sei, mas acredito ser bem provável.
Lembro de meu pai me dizer que muitos procuravam o Nonno Daniele para se
curarem de pernas quebradas, ossos partidos etc... Ele colocava os ossos no
lugar, fazia massagens e cataplasmas e benzia... Meu pai não gostava de ver
essas pessoas que sempre recorriam a ele dentro da pequena casa.
A casa deve ter se transformado quando Luigina morreu. Para ele deve ter
sido difícil.
Ele contou como foi difícil vê la sair da casa em uma maca... Nunca mais
voltou. Foi internada no “hospital”. Sempre ia visita la. Não podia chegar
perto. Ela aparecia na janela e sorria e lhe abanava com as mãos.
Quando ele ganhou a bicicleta que tanto queria foi mostrar para ela. Ela ficou muito satisfeita ao ve lo na bicicleta que tanto almejava.
Bike sempre foi um desejo de um jovem e ele tinha seus 13 ou 14 anos.
Naquele tempo a bicicleta surgia como um símbolo do esportista, mas
também foi muito usada na Primeira Guerra. Os soldados podiam andar com mais
velocidade.
Se era nova? Não sei. Era uma Bicicleta e para um jovem era um “Big
presente”. Eles não eram ricos, mas a mesa era farta por conta dos produtos que
plantavam, colhiam ou da criação: salames, queijos, manteiga, frutas,
castanhas, verduras. No verão colhiam e faziam conservas e compotas para terem
esses produtos no inverno. Tinham ovelhas que lhes dava a lã. Faziam seus
próprios colchões, edredons etc... Produziam quase tudo em casa, mas havia
coisas que lhes faltava. Um bom sapato, relógio, tecidos mais finos e os
produtos industrializados que se tornavam o desejo principalmente dos jovens.
A Primeira é de 1925. Ela com três anos meio. Meu pai estava sendo
gestado pela minha avó.
A Segunda foto é da Primeira Comunhão. Apesar de não saber ao certo qual
é ela eu tenho quase certeza que é a menina menor, toda de branca. Na primeira
fila da esquerda para a direita.
A terceira foto é dela mais velha. De ter seus 17, 18 anos?
Sua imagem forte ficou na foto, na lembrança de meu pai, nas minhas historias e seu nome esta na lapide do cemitério atrás da Igreja de São Vitorio em Caiolo.
Assim foi a breve vida de Luigina. Morreu durante a segunda guerra
mundial. Meu pai tinha 15 anos. No ano seguinte a morte de Luigina começaria outra
etapa da vida de meu pai...
Ele seria chamado para o exercito de
Mussolini com a turma de 1925, a chamada “Turma da Marmelada” assim conhecida
porque por serem menores de idade ainda tinham direito a um pedaço de
“marmelada” nos cupons de racionamento da guerra que então todos recebiam.
Fugiria do exercito, se tornaria partizan, depois da guerra faria o Exercito
regular por dois anos. Trabalharia nas Minas de Carvão... Imigraria para o
Brasil e para quem não gostava de uma casa cheia de homens bagunceiros e
barulhentos ele teria só filhas mulheres. Três ao todo... Sempre quis menino.
Não veio... Ironia. Teria quatro netos sendo três meninas e um menino que ele
conheceu e quando o pegava no colo sentia um contentamento sem fim.
Na última conversa que tive com ele um dia antes de morrer lembro dele
recomendar muito cuidado e atenção com minha filha e meu filho a fim de que tambem não engordassem pois bebe obeso se transformavam em adultos obesos e isso não era saudavel.
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