segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Fazenda do Fidalgo e os Candogueiros / Candombe - Capela de Santana - Sumidouro - Lagoa Santa - MG




Frequentei a “Fazenda do Fidalgo” no sumidouro desde inicio da década de 1970.

Quando eu conheci a "Fazenda do Fidalgo" ela se parecia com qualquer casa de fazenda mineira, antiga e precisando de conservação. Simples, com suas janelas de madeira e grandes portas. O piso de madeira estava em péssimo estado  e por baixo dele as vezes (muitas vezes) encontravamos cobras e escorpiões.
 Nos fundos da casa da fazenda uma outra escada dava acesso a um grande pátio. 
Foi nessa escadinha que passei horas conversando  com “Sinhaninha”, uma ex-escrava da fazenda. Segundo me contaram ela havia nascido na época da promulgação da lei do ventre livre (1871)  mas como seus pais eram escravos ela também teve de ficar na fazenda até completar maioridade. Ela ficou ali para sempre! Na época diziam que ela tinha mais de 100 anos de idade.
Foi ali, neste terreiro que aprendi com a “Moreira”, descendente de escravos, a preparar o autentico leitão a pururuca. E foi ali também que ouvi centenas de histórias entre elas a de que a fazenda fôra a casa de “Borba Gato”, e que também fôra ali , naquela cruz que avistávamos lá adiante, que “D.Rodrigo”, o Fidalgo da corte portuguesa, estaria enterrado. Borba Gato o assassinara, pois ele queria saber do paradeiro das minas de esmeralda que seu sogro “Fernão Dias” havia encontrado e escondido.
Ali ouvi histórias e estórias de tesouros enterrados, fantasmas de escravos,traiçoes, maldições e... óvnis.
Tenho diversas recordações e histórias que me contaram da fazenda. Sempre tive curiosidade de saber se todas as histórias eram verdadeiras. Anos se passaram e hoje estudiosos estão colocando suas pesquisas sobre o local na internet.
Em 1982 documentei uma festa onde o “candombe" se apresentou. Depois da cerimonia religiosa teve “arrasta pé” até a madrugada. Tudo isso em frente a “Capela de Santana” na Fazenda do Fidalgo em Lagoa Santa. Por anos achei que as fotos tivessem se perdido. Hoje eu as encontrei.
A festa era sempre no mês de julho, dia de “Santana”. Durante a semana que antecedia o dia de Santana faziam novenas, com rezas cantadas na capela. Na sexta feira começavam as barraquinhas. Em certos anos o Candombe apareceu por lá. Não sei de onde veio mas sei que foi animado. Depois das rezas sempre tinha o leilão onde reram disputados os “frangos recheados”, leitoas assadas, e os famosos  cartucho (canudos” cheios de amendoim glaceados) ou quadradinhos de doce de leite.
As fotos abaixo são de um Candombe que veio homenagear Santana!
Lembro me de alguém comentar que naquela época já era difícil eles se apresentarem... Imediatamente corri e peguei uma máquina fotográfica e documentei a festa

Eles vinham pela estrada...cantando e dançando. Andaram um bom pedaço em terra batida, tocando seus tambores e seus “guizos”.A bandeira de Santana vinha na frente, os tambores atrás juntamente com o “Mestre” e uma procissão os seguia. Alguem abriu a porteira da fazenda e se dirigiram para o portão da Capela de Santanna. A festeira os aguardava na entrada, e lá mesmo beijou a bandeira. Todos entraram para a Capela onde teve inicios as rezas. No fim todos se dirigiram para uma construção nos fundos da Capela e lá todos podiam dançar e cantar.
Não me esqueço dos sons estridentes das cantigas... Moreira cantava a “pleno pulmões” assim como outras mulheres das redondezas.

Na Capela até aquela época existia ainda uma Biblia com uma inscrição que dizia que a primeira missa rezada na capela foi em 1775 ( pelo menos é essa data que eu me lembro... será? )



A Bandeira de "N.Sra de Santana" chega na Fazenda do Fidalgo.
O Mestre



A Festeira abre o portão do adro da Capela e beija a bandeira .

Depois da reza, num galpão ao lado
 da Capela a festa continua por toda
 a noite.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE RODEIO

A Escritora Iracema Moser Cani em seu livro “Histórias e Memórias de Rodeio” relata muitos dos costumes dos imigrantes italianos vindo da região de Trento que chegaram na cidade de Rodeio - SC

As casas dos imigrantes estavam sempre limpas porem existiam ocasiões onde se caprichava mais nesta limpeza como na  véspera da Páscoa e no  Natal.

 Nestas ocasiões se fazia “o dia da bugada”. Era uma faxina que se fazia em toda a casa. Lavavam e ferviam todas as  talheres, as cortinas eram lavadas, panos eram fervidos. Os móveis eram todos desencostados de seu lugar habitual e eram encerados. Era uma faxina geral!

“era um trabalho gigantesco... tudo era lavado ou exposto ao sol: roupas, cobertores, colchoes, travesseiros.  A louça era fervida numa composição de água, cinza e soda, a chamada “lìscia”...
 Os talheres, as panelas de alumínio eram esfregados à base de sabão, cinza e areia.
A mesma  “lìscia” era depois reutilizada pra esfregar o fogão ( de lenha), as mesas e as tábuas de madeira do chão da cozinha...”

As tradições italianas eram passadas  oralmente de pai para filho e durante uma época permaneceram invioláveis. 
As escolas da época possuíam poucos livros didáticos da antiga escola italiana porem na época da campanha nacionalizadora que aconteceu no Brasil muitos livros escritos em “Lingua italiana” foram queimados e somente alguns deles foram escondidos.


“Atualmente, em Rodeio, o dialeto é falado regularmente em locais públicos, na rua, nos bares, no mercado, mas sobremaneira na intimidade dos lares”.

Lembranças do Natal : Panetones, Peru e Surpresa Michelon

Ainda não era um costume mito difundido  aqui no Brasil mas na casa de meus pais não me lembro de um Natal ou Ano Novo sem os    “Panetones Bauduco  “ e o ” Peru do Evaristo”.



Na época do Natal já estávamos acostumados a ganhar todos os anos o “peru do Evaristo” !
Meu pai era um bom cliente da firma de auto peças “Evaristo Comolatti” e no dia 23 de dezembro,  por anos ininterruptos,  chegava dentro de uma geladeira de isopor um grande e enorme peru!
O Peru do Evaristo!
Nem nos preocupávamos em comprar um peru para a ceia do NATAL... o Peru era garantido!











Brincávamos também  que minha irmã mais nova deveria ter nascido com cara de Panetone ou  de um  vinho, o  “Surpresa Michelon”; pois minha mãe se deliciou fartamente com a dupla no final da gravidez.









Na época do Natal os preparativos começavam no mês de julho quando os representantes passavam na firma de meu pai para pegarem as encomendas dos Panetones que ele anualmente e religiosamente encomendava para distribuir para os amigos e empregados nas festas de fim de ano.


Era um corre corre essa  época de natal. Comprávamos  as “cestas de vime” e montávamos as mesmas a fim de presentear os empregados  e amigos da família e da empresa .

 Cada cesta era personalizada e dentro dela além de vinho, panetone, nozes, amêndoas, chocolates etc... ainda ia um presente especifico para cada filho do presenteado.


Certo Natal eu e minha irmã ficamos indignadas pois ele  havia comprado vários “radinhos de pilha” e “mini bonecas” ( novidade na época) para presentear os funcionários  e não sobrou nenhum para nós duas.

Ao ver minha mãe montando as cestas e “encerrando” dentro delas as bonecas e os radinhos de ilha o meu coração doía e minha mente se revoltava... Como ele era capaz de distribuir tantos radinhos e bonecas e não me dar nenhum ?  Foi uma decepção,  mas, enfim,  na noite de Natal eu e minha irmã ganhamos também nossa “mini boneca” e nosso “radinho de pilha”.

 Além do panetone meu pai também encomendava cestas pré montadas com os produtos da “Cica”.

Naquele ano,  final da  década de 70, ele resolveu se antecipar à  entrega das cestas e por isso foi um dos primeiros a fazer a encomenda dos  “Panetone  Bauduco”.
Acredito que no começo do  mês de Novembro ele tenha recebido  sua encomenda e logo no inicio de dezembro começou  a distribuir as cestas de natal que exigiam uma logística muito bem planejada para serem entregues aos seus destinatários.
 As cestas eram distribuídas para Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e vários locais em Belo Horizonte.
Lembro  dele chegando em casa e dizendo que enfim naquele ano ele estava mais tranquilo pois era dia 15 de dezembro e ele já havia entregue todas as cestas.
Vã ilusão...
No dia seguinte  ao termino das entregas ele resolveu abrir um panetone e viu que estava mofado. Ele abriu outro e novamente mofado... e assim ele encontrou vários... todos mofados!
Constrangido mas sem outra alternativa ele começou a ligar para alguns amigos que tinham recebido o Panetone e pediu a eles que abrissem os panetones  e constatou que quase todos estavam  mofados.

Contrariado e com muita raiva ligou para a fábrica e fez a reclamação. A fábrica imediatamente constatou o fato e sem demora resolveu reenviar para  meu pai mais... 200 panetones de 1 kg !

Não havia mais tempo para distribuir os panetones novamente e  naquele ano comemos e distribuímos panetones até o final do mês de março!

Não aguentávamos mais ver Panetone !






Filastroche

Essa aprendi com meu pai. Me lembro de pequena sentada sobre seus joelhos ou mesmo sobre seus pés. Ele me segurava com as duas mãos e fazia como se estivesse cavalgando um cavalo. A brincadeira começava devagarinho mas depois o cavalo saia em disparada... O ritmo dos pés ou dos joelhos acompanhavam a musica.

"Trót, Trót, cavalót,
La maqueja stá sem trót,
Tróta ben, tróta, mal,
tróta, tróta il asinót "

( Não consegui descobrir nenhuma outra filastroche como essa. Talvez minha memória tenha me enganado, mas é assim que me lembro. Não sei o que significa "maqueja" mas para mim soava como se fosse "menina")

"Trota, trota, cavalinho,
A menina está sem "trotar",
Trota bem, trota mau,
trota, trota o burrinho"

domingo, 22 de dezembro de 2013

Panetone Valtellinese alla Adolfo Bonini




  Todos os Natais ele me pedia de presente que fizesse para ele o panetone da região de onde ele veio, as montanhas da Valtellina.






A Valtellina  é um vale na região da Lombardia, no nordeste italiano, na fronteira com a Suiça. Atualmente é conhecida como uma região de resortes para a prática de esqui de spas termais e por seus queijos, principalmente o Bitto, e seus vinhos. Nos séculos passados, esta área era muito importante por se tratar de um ponto de passagem estratégico entre o norte da Itália e a Alemanha, sendo muito visado principalmente durante a Guerra dos Trinta Anos. Foi de suma importância também na formação do atual cantão dos Grisões onde Georg Jenatsch teve papel fundamental. (¹)

Aprendi a fazer o “Panettone Valtellinense” com uma prima, lá mesmo na Vila onde ele nasceu, “Palú .

 Claro que a receita foi adaptada para ele pois  queria que o panettone tivesse mais sabor de “Grappa” e muito, mas muito mais “nozes”. Assim surgiu uma tradição de todos os anos fazer o “ PANETTONE VALTELLINENSE alla ADOLFO BONINI”.

Eu cultivo esta tradição principalmente depois que ele partiu lá para cima... é uma forma de te-lo presente no Natal..



PANETTONE VALTELLINESE alla ADOLFO BONINI



- 400 GRS DE MANTEIGA
- 200GRS DE AÇUCAR
- 500 GRS DE NOZES PICADAS
- 400 GRS DE FARINHA DE TRIGO
- 1 COPO (AMERICANO)  DE GRAPA  - A LEGITIMA
- 4 OVOS INTEIROS
- UMA PITADA DE SAL
- 22 GRS DE FERMENTO PARA PÃO
- ( AS VEZES COLOCAVA 200 GRS DE FRUTAS CRISTALIZADAS OU FIGOS PICADOS0

Bater a manteiga e o açúcar. Dissolver o fermento num pouco de água morna. Misturar os ovos, grappa, sal, farinha de trigo, por fim o fermento e as nozes e as frutas cristalizadas.
Misturar bem e por para assar em forno médio por mais ou menos 1 hora.
Esta receita dá para 3 panettones pequenos.
Um Feliz Natal !
     








segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Dia de Santa Luzia - 13 de dezembro

E foi em um mês de dezembro, no dia 13, na casa da Nona Carolina.

Tia Cema nos lembrou:

- Matelotti ! Oggi é il giorno di Santa Lucia (Santa Luzia) !

Corremos, eu e minha irmã e colocamos no parapeito das janelas um prato com capim, cenouras e açúcar. O cavalinho de Santa Luzia passaria durante a noite e a Santa viria montada nele. Se o cavalinho parasse na nossa janela e comesse o capim, Santa Luzia agradeceria colocando "doces coloridos" em troca!

E lá vinha a historia... de Santa Luzia  no seu cavalinho!
Para mim foram dias mágicos, pois o dia de Santa Luzia nos avisava que o "Bambinel" (Papai Noel) chegaria em breve. 

E durante a noite eu te juro que ouvi o cavalinho de Santa Luzia passando na janela... Com certeza, minha tia! 

                                   "Santa Lucia, 
Mamma mia, porta roba´in casa mia,
Se la mamma no la ghe´n mete,
Resta voide le scudelete,
Co´la tasca del papá,
Santa Lucia vegnirá"

(Santa Lucia! Minha mãe traga algo para minha casa. Se a minha mãe não colocar algo no meu pratinho ele ficará vazio, mas com o bolso do papai... Santa Luzia vai chegar)

(ou seja, se a mãe não enchesse o pratinho o pai com certeza daria um trocado e assim o dia de Santa Lucia estaria realizado para as crianças.).

Fomos dormir com um misto de medo, euforia e paura. Aquelas emoções que só as crianças conseguem ter. 

Aqui, no Vale do Paraíba e em Minas Gerais eles recitam a seguinte trovinha para tirar cisco dos olhos, afinal ela é a padroeira dos oftalmologistas e na cultura popular tambem é a protetora dos olhos. 

"Santa Luzia passou por aqui,
Com seu cavalinho comendo capim"(Dóris Bonini)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

CHEIROS DE RODEIO


Alguns cheiros e perfumes ficam gravados na alma para sempre. São uma cálida lembrança de pessoas tão queridas que de uma forma ou outra fizeram parte de minha vida.

Tenho-as guardada para sempre no meu coração.
 Há um tempo atrás, sentindo saudades de Rodeio escrevi um texto que mandei para algumas pessoas da minha família. 

O texto fala dos cheiros que sentia na minha infância quando ia de férias visitar minha Nona, meus tios (as) e primos(as),  numa pequena cidade de colonização italiana, em Santa Catarina, terra natal de minha mãe, meus nonos. Minha terra natal de coração.

Gostaria que meus filhos pudessem senti-los com toda a emoção que eu os senti e ter a mesma sensação quando me lembro deles, mas sei que jamais sentirão da mesma forma que eu... A juventude tem outro caminho.

No fim do texto existe a resposta que recebi da minha tia e de um primo ao lerem o texto.
Adorei suas respostas e por este motivo ficam agora incorporados ao texto, no final. 



Cheiros de Rodeio

Quem não lembra?

- O barulho do assoalho da antiga casa da tia Armide; quem ficava no andar de baixo ouvia o tec, tec dos que estavam em cima, caminhando.

- O cheiro de cola da sapataria do tio Tuca.

- As hortênsias da tia Armide. O barranco que tinha nos fundos  da casa dela. O cheiro da terra úmida em dias de frio e a cores da terra, em camadas, nos lembrando das diferentes eras que a região havia passado.

- A privada (patente) que ficava fora de casa  (hughh! mas me lembro!), e o medo de cair lá dentro quando se usava.

- A Tia Armide conversando com a galinha Gabriela.

- As balas de amendoim (nunca mais achei iguais de tão gostosas) que o Tio Tide distribuía para nós quando era noivo da Tia Cema... e a risada dele...

- Cheiro de muss, polenta, polenta brustolada, o sabão de cinzas da nona (lizzia?).

- Os tortéis de banana com canela  (ainda me arrisco a fazer e a comer...). Os tortéis me lembram a Lilia F. 

- Os cheiros da casa da nona, as madeiras...

- O armário da cozinha da casa da nona ( casolar) feito de madeira, tela de arame pieno di muss, pane, formagi, salami e pani bianchi...

- O cheiro dos ranchos.

-  Biscotti del bambinel e mal di panza .

- Os banhos de canequinha numa bacia grande de alumínio com água salobra e todo mundo reclamando da água e tentando adivinhar o porquê  a água era assim...


- O Cheiro de cravo e pêssego que sentia ao lado da nona Carolina ( será que só eu que sentia esse cheiro???)





- O cheiro dos livros da tia Cema na estante,  e as ilustrações e canções da coleção do  “Mundo da Criança”. Esta coleção foi por mim cobiçada, por anos e agora quando entro num sebo de livros e encontro uma delas jogada, empoeirada, exposta  para a venda chego a  considerar uma heresia.

 - As Tias chamando pelos “matelotti”.

 - O cheiro da venda da tia Cema e da cachaça de ervas que a tia Armide fazia.

- Tia Armide matando sapo com o tamanco e os gambás com uma vara.

- O “cheiro da dor” ao ter descido a rampa da igreja em uma  folha de coqueiro e ter ralado a bunda na terra ou ter sentado dentro do tacho de fazer sabão no fogão de lenha da nona Carolina sem saber que o fogão ainda estava quente. (só quem sentou no tacho sabe como era possível e gostoso,  nas noites frias, ficar lá dentro). E a dor de fato tem cheiro, é como uma cica de caju verde que trava a boca. Lembro até hoje.

 - O jardim lateral da casa do tio Dino cheio de flores, ele fazendo churrasco, e a casa da Tia Lena  "triscando" de tão brilhante, com seus lençóis brancos de renda que nem o "sabão Omo" consegue deixar tão branco.

 - O cheiro e o sabor dos pães de aipim e batata da Cacilda Fava. Tenho a receita, mas até hoje não consegui fazer. A manteiga e o mel que passava sobre o pão. Meu Deus! Que saudades! 

- Cheiro do açougue! Vários! Externos e
 internos. 

Os sons!

- O Arceste recolhendo os bois para o abate. As vezes uns bois se rebelavam e pulavam as cercas e nós, espectadores, subíamos o que estivesse pela frente para nos sentir a salvo e não sermos pegos por eles.

- A "mangueira" do açougue, o cheiro de chouriço, as linguiças, o torresmo sendo prensado e o cheiro rescendendo para a casa da Nona que era ali encostado, só tinha um corredor de 2 metros de terra que os separava.
Até hoje adoro um torresmo.
E tem vezes que chega a me dar vontade de chorar. É quando como um torresmo prensado, pois me vem à lembrança os cheiros da minha infância...

- O cheiro do porão da casa da tia Cema cheio de garrafões de vinho e mofo.

- O cheiro e o barulho do bar que ficava na outra esquina da casa da tia Cema. Fui lá pela primeira vez com o Tio Tide. Lembro-me de ter ficado toda orgulhosa pois pela primeira vez alguém (ele) pediu um Martini com cereja especialmente para mim, num bar.

- O ingá da tia Cema. A Ena, a Dete empoleiradas nele. Tem foto por ai desse ingazeiro.... Vou achar!

- O cheiro que ficou no fusca da tia Cema quando um dia fomos buscar vinho de colono e o vinho começou a estourar dentro do carro... Foi então que percebi o processo da fermentação do champanhe...

- O cheiro da cachaça que fui buscar com o Renato num alambique... Que saudades do Renato, do seu jeito e seu sorriso. Ele sempre dirigia encostado na porta do carro. Meio torto e com o braço para fora... Seu sorriso largo, zombeteiro!

- O cheiro das revistas que algumas vezes ajudei meu primo a separar para fazer as devoluções em Timbó. Revistas estas que eu lia, todas, na venda da tia Cema.

- O “gasozão” que era servido na casa da nona. Mandado comprar na horinha que sentávamos à mesa.


- Eu e a Dete indo pela primeira vez para “o caminho do Blumenau”. Ela dirigindo e eu dando força moral. As duas, gritando, ao cruzar com os caminhões da estrada.

- Os cheiros de madeira de Rodeio são capítulos a parte!
Além do cheiro da "lenha" queimando no fogão, tinha o das madeiras das casas, dos armários.
Cheiro de madeira queimando nas ruas. Talvez viesse da fabrica de madeiras que fazia potes para farinha, colheres de pau .
Também exalavam um cheiro delicioso de madeira fresca os “montes” desses objetos descartados pois tinham algum defeito.
Até os operários da serraria cheiravam a madeira. Chegavam na venda da tia Cema cheirando a sândalo e a sassafrás.

- O cheiro das ágapes no rio, à noite perfumando tudo e os sapos barulhentos, juntamente com trilhões de pernilongos. As pessoas em frente das suas casas sentadas nos bancos de madeira, "ciacolavam" com as pernas enroladas em panos para os pernilongos não picarem.
A escolha era terrível: Ou se ficava dentro de casa morrendo de calor ou se era devorado pelos pernilongos do lado de fora...

- As serenatas nas noites de Rodeio com o Isaias tocando sanfona, a cantoria até altas horas...

O tio Erico pedindo para cantar mais uma vez “Vosto venir Nineta” e pedindo para o Conde recitar. O Pelica com seu violão...

- A Gláucia com seu sorriso e a Debi com sua covinha...

- As risadas com o Chiquinho e a neblina, branca, espessa, nas madrugadas que varávamos conversando em frente a casa da Tia Armide.

-  A loja de tecido da Selma e as antiguidades do Natal.

- O café na casa da Tia Rosa, o sorriso da Lili e o cigarro de palha no Tio Ângelo! Que saudades!

- O sorvete no bar do Osmir...

- A Ena, o Didi, o Toninho, a Dete  e não me lembro de quem mais fazendo declarações de amor para as arvores de Rodeio num sábado de madrugada...

- A Dete ouvindo suas musicas preferidas de faroeste  e o tio Tuca a musica “Picola Citta”

- A tia Cema cantando “ una caseta in canadá”

- Os ensaios do teatro para a Semana Santa. Que farra!

- O Geraldino discutindo seus primeiros números do jornal “O Corujão”...

- Os tombos de bicicleta e a lama que tinha no caminho entre a casa da Tia Armide e da tia Cema.

- A Cátia correndo atrás de mim enquanto eu andava de bicicleta, pois ela não sabia andar de bicicleta.

- As cucas do nono Celso. O cheiro e o sabor da cuca que pegávamos na carroça. O cheiro doce dos paes, doces ao levantar a toalha que os cobria. A risada e a voz do Nono Celso.

- O banheiro da casa do nono Celso e da nona Ida era para mim uma curiosidade a parte! Tinha duas portas que davam para fora. Era uma tremenda insegurança usa-lo...

- O sono na missa da manha...

- O casamento da tia Cema, com farinha esparramada no chão... E eu entrando pela janela na manha seguinte a noite de núpcias...

- A “crucula”, e a cabana que o Marcos, Renato, Celi e o Ed tentaram fazer para nós no alto do morro... Destruídos pelo vento e pela correria, pois tinha touro no pasto e tivemos que descer “voando”.

- Eu, o Ed e a Cátia dando milho para as galinhas se aproximarem de nós para depois espanta- las aos ponta pés e ver as penosas voando e saindo em disparada...Risadas ! Moleques!

Enfim são tantas as recordações... Deliciosas...

Rodeio cheio de cheiros, cheio de recordações...




Respostas recebidas:

Estou mandando fotos antigas para todos vocês e nessa busca por fotos comecei a lembrar de algumas férias em Rodeio. Algumas bem antigas... Eu ainda pequena... Outras mais recentes, mas mesmo assim lá  se vão muitos anos... A lembrança surgiu porque eu mandei para todos uma foto da nona e do Tio Tuca no corredor que ficava entre a antiga casa da Nona e o açougue... Lugares que normalmente não se fotografa. Vendo com atenção a foto comecei a me lembrar de alguns cheiros, barulhos e sensações que me lembraram de Rodeio (antigo?)... Resolvi fazer uma lista.

Resposta de meu Primo:
Pô, nossa prima olfativa (aliás, reminiscências sempre tem certa spuza de olf...) não deixou mais nada para ser dito...
Mas eu me lembro dela, Dóris, com uns 5 anos, subindo à minha frente naquela escada quase vertical para o sótão do rancho, deixando à mostra por baixo do vestido "la culata biànca" e em cada "banda" a marca verrrrrmeeeeelha inconfundível carimbada com as duas palmas da Tia...
 Baci
(MM)


Querida Tia...
 Bateu uma saudade danada daí  , resolvi escrever... Era para ser breve... Ficou maior... Não vou reler... Se pensar muito não mando... Então vai do jeito que está, as correções faço depois...
 Bjs (não sei se você v ai ter paciência de ler... mas mesmo assim lá vai...).

Resposta de minha Tia:
Querida,
Que memória fantástica! Que sensações nítidas você consegue transmitir. Recordei tanta coisa que nem eu mesma me lembrava. Aí se vê como Rodeio era lindo, rico de ricas inspirações. Acho que o teu texto "memorável" merece ser repassado para todos os que ainda vivem da nossa família.
Obrigada querida. Você me deu um lindo presente: um pouco do passado de todos nós, que não há nada que se compare. Lembranças que valem mais que uma joia rara. Aliás, acho que poucos tiveram uma infância assim.
Beijos.


Dóris Bonini

quarta-feira, 29 de maio de 2013

La Madonina


Che dolcezza nella voze de me mama

Quando ensieme se arrivava al capitel
La polsava en momentin, la pregava pian pianin
E ala fin la me diseva, véi che nem...
Te saludo, Madonina
Steme ben!

Do violete profumade en primavera
Qualche volta en gos de òio en del lumin
Tanti ani é zá passà, quase gnente ghe restá
Ma mi sento ancor la voze
- Véi che nem...
Te saludo Madonina
Steme ben !

É restá en tochetin de Madonina
Che la ride quando li ghe ciòca el sol
El fisceta l´oselet, propi enzima sul muret
Quela voze benedeta ancor la ven...
Te saludo, Madonina
Steme ben !

(Iracema Moser Cani)

terça-feira, 21 de maio de 2013

FRASES DA FAMILIA

Tenho uma tia que sempre gostou de passear. Tudo fazia para ficar mais tempo na rua. Aproveitava todas as situações para escapar e ficar passeando e conversando com as pessoas. Quando sua mãe lhe mandava até a venda comprar algo ela demorava muito para voltar... e diziam sobre ela:
- ma lei é un botter che non ven mai ( ela parece uma manteiga que nunca fica pronta... que não vem no ponto certo ).

- Outra frase : Chi si le tegna !

domingo, 19 de maio de 2013

SANTINHO DE MARIA SS BAMBINA

 

Ontem fui visitar um casal amigo de meus pais. Eles tambem vieram da Itália em 1953 tentar a vida no Brasil. Enquanto conversavamos vi perto de um livro as orações que a Sra L. reza. Me chamou a atenção um santinho, antigo de Nossa Senhora menina. Nunca havia visto, nem sabia que existia. A filha de D. L. falou que quando era criança ao ver o santinho sentia medo. Fica aqui somente um documento desta imagem. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

D. Graciosa


Algumas pessoas têm uma grande sabedoria para nos fazer lembrar para sempre delas...
Quando eu tinha 18 anos eu tinha uma amiga cuja avó que morava no interior ia visita lá com certa frequência. O Nome da avó era: Graciosa. Sempre achei o nome dela muito apropriado para aquela senhora de delicados cabelos brancos, com mãos ágeis e firmes, sempre fazendo o seu crochê.
Sempre fazia coisas lindas e eu sempre ficava alguns minutos ao seu lado admirando suas obras.  Houve um dia em especial que a vi fazendo uma toalha de bandeja para sua neta: Era uma toalha com “rosas” tecidas em fundo branco. As rosas eram muito delicadas e eu fiquei simplesmente encantada com o trabalho.
Com sua agilidade creio que terminou a toalha no mesmo dia, mas sempre estava com agulhas e linhas nas mãos. Dias depois ela foi embora... Mas deixou-me um presente. Fez uma toalha para mim igual a que fizera para sua neta. Até hoje com filhos criados, tenho essa toalha que para mim se tornou uma “pequena preciosidade”. Sempre a uso, e sempre que a uso me lembro dela e muitas vezes rezo para ela ao menos uma Ave Maria...
Hoje limpando e organizando as gavetas encontrei de novo a toalhinha de D. Graciosa... mais uma vez rezei uma “Ave Maria” por ela...
Estou repensando os presentes que costumo dar para minhas amigas!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Benegati

Dia 6 de janeiro... dia de retribuir os presentes que se ganhou no Natal... ou seja... dia de "Benegati".

LA BEFANA


Para mim que sou descendente de italianos o dia 6 de Janeiro tem mais celebrações alem das “ Folias de Rei” e Pastorinhas! Apresento lhes : “La Befana” !
Esta velha senhora montada na sua vassoura e com um xale negro sobre os ombros  sempre sujo da fuligem das chaminés é a “Befana” do folclore italiano.
Na noite de 5 para 6 de janeiro, na Véspera da Epifania, esta velha senhora “La Befana”, sempre sorridente, com seu saco sempre cheio de doces e presentes entra dentro das casas pela chaminé e os coloca nas meias das crianças comportadas... Para aquelas que não se comportaram durante o ano ela deixa um pedaço de carvão.
Parece com o “nosso” “Papai Noel”!
Na verdade o “Papai Noel” como nós o conhecemos  no Brasil só apareceu depois da Primeira Guerra Mundial... com a propaganda que chegou dos Estados Unidos da América...
O tal de Papai Noel chegou nestas plagas depois da primeira grande guerra, invenção norte americana de 1822 que foi profanando a data do nascimento de Jesus Cristo, pela mercantilização natalina” (1)
Há evidências que sugerem que a Befana é descendente de uma deusa “Sabina”, chamada “Strina”.
Uma teoria interessante conecta a tradição de trocar presentes no Natal com uma festividade romana em honra de Ianus e Strenia (o presente de Natal na Itália é chamado “Strenna”), que era comemorado no início do ano, quando então os antigos romanos trocavam presentes.
Antes de sair da casa que visita, a Befana tem o costume de deixar a casa varrida... Com este gesto La Befana joga fora todos os nossos problemas...
As famílias tem o costume de deixar um copo de vinho e alguns doces preferidos para a Befana, típicos desta época do ano.
Existe uma lenda que nos conta que os Três Reis Magos no seu caminho até Belém bateram na porta da casa da Befana pedindo informações sobre a Estrela que haviam visto no céu. A Befana não lhes pode ajudar porem deu lhes abrigo por uma noite e por tão calorosa acolhida os Três Reis Magos a convidaram a se juntar a eles na viagem. Ela recusou o convite dizendo que estava muito ocupada com seus afazeres domésticos. Mais tarde, arrependida de não ter seguido com os reis ela os procura porem não os encontra e é por isso que na noite de 5 para 6  de janeiro a Befana visita todas as crianças do mundo... Deixando doces e presentes... Afinal todas elas são um pouco do “menino Jesus”.
A Befana não pode ser vista... Se uma criança ouve o baque de sua vassoura chegando à sua casa deve ficar quietinha na cama... Somente no outro dia pela manha poderá ir ver o que ela deixou...
La Befana vien di notte 

Con le scarpe tutte rotte Col vestito alla romana Viva, Viva La Befana!”
“A Befana vem de noite,
Com os sapatos estragados.
Vestida ao jeito romano,
Viva, Viva, La Befana !”

Bibliografia: wikipedia
Imagem de : http://bosquedasfeiticeiras.blogspot.com.br

Porque Coelhos e Ovos São Símbolos da Páscoa?

            ( Por: Dóris Bonini) Existem muitas explicações sobre "ovos" e "coelhos" como símbolos da Páscoa mas,  para ...