segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Fazenda do Fidalgo e os Candogueiros / Candombe - Capela de Santana - Sumidouro - Lagoa Santa - MG




Frequentei a “Fazenda do Fidalgo” no sumidouro desde inicio da década de 1970.

Quando eu conheci a "Fazenda do Fidalgo" ela se parecia com qualquer casa de fazenda mineira, antiga e precisando de conservação. Simples, com suas janelas de madeira e grandes portas. O piso de madeira estava em péssimo estado  e por baixo dele as vezes (muitas vezes) encontravamos cobras e escorpiões.
 Nos fundos da casa da fazenda uma outra escada dava acesso a um grande pátio. 
Foi nessa escadinha que passei horas conversando  com “Sinhaninha”, uma ex-escrava da fazenda. Segundo me contaram ela havia nascido na época da promulgação da lei do ventre livre (1871)  mas como seus pais eram escravos ela também teve de ficar na fazenda até completar maioridade. Ela ficou ali para sempre! Na época diziam que ela tinha mais de 100 anos de idade.
Foi ali, neste terreiro que aprendi com a “Moreira”, descendente de escravos, a preparar o autentico leitão a pururuca. E foi ali também que ouvi centenas de histórias entre elas a de que a fazenda fôra a casa de “Borba Gato”, e que também fôra ali , naquela cruz que avistávamos lá adiante, que “D.Rodrigo”, o Fidalgo da corte portuguesa, estaria enterrado. Borba Gato o assassinara, pois ele queria saber do paradeiro das minas de esmeralda que seu sogro “Fernão Dias” havia encontrado e escondido.
Ali ouvi histórias e estórias de tesouros enterrados, fantasmas de escravos,traiçoes, maldições e... óvnis.
Tenho diversas recordações e histórias que me contaram da fazenda. Sempre tive curiosidade de saber se todas as histórias eram verdadeiras. Anos se passaram e hoje estudiosos estão colocando suas pesquisas sobre o local na internet.
Em 1982 documentei uma festa onde o “candombe" se apresentou. Depois da cerimonia religiosa teve “arrasta pé” até a madrugada. Tudo isso em frente a “Capela de Santana” na Fazenda do Fidalgo em Lagoa Santa. Por anos achei que as fotos tivessem se perdido. Hoje eu as encontrei.
A festa era sempre no mês de julho, dia de “Santana”. Durante a semana que antecedia o dia de Santana faziam novenas, com rezas cantadas na capela. Na sexta feira começavam as barraquinhas. Em certos anos o Candombe apareceu por lá. Não sei de onde veio mas sei que foi animado. Depois das rezas sempre tinha o leilão onde reram disputados os “frangos recheados”, leitoas assadas, e os famosos  cartucho (canudos” cheios de amendoim glaceados) ou quadradinhos de doce de leite.
As fotos abaixo são de um Candombe que veio homenagear Santana!
Lembro me de alguém comentar que naquela época já era difícil eles se apresentarem... Imediatamente corri e peguei uma máquina fotográfica e documentei a festa

Eles vinham pela estrada...cantando e dançando. Andaram um bom pedaço em terra batida, tocando seus tambores e seus “guizos”.A bandeira de Santana vinha na frente, os tambores atrás juntamente com o “Mestre” e uma procissão os seguia. Alguem abriu a porteira da fazenda e se dirigiram para o portão da Capela de Santanna. A festeira os aguardava na entrada, e lá mesmo beijou a bandeira. Todos entraram para a Capela onde teve inicios as rezas. No fim todos se dirigiram para uma construção nos fundos da Capela e lá todos podiam dançar e cantar.
Não me esqueço dos sons estridentes das cantigas... Moreira cantava a “pleno pulmões” assim como outras mulheres das redondezas.

Na Capela até aquela época existia ainda uma Biblia com uma inscrição que dizia que a primeira missa rezada na capela foi em 1775 ( pelo menos é essa data que eu me lembro... será? )



A Bandeira de "N.Sra de Santana" chega na Fazenda do Fidalgo.
O Mestre



A Festeira abre o portão do adro da Capela e beija a bandeira .

Depois da reza, num galpão ao lado
 da Capela a festa continua por toda
 a noite.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE RODEIO

A Escritora Iracema Moser Cani em seu livro “Histórias e Memórias de Rodeio” relata muitos dos costumes dos imigrantes italianos vindo da região de Trento que chegaram na cidade de Rodeio - SC

As casas dos imigrantes estavam sempre limpas porem existiam ocasiões onde se caprichava mais nesta limpeza como na  véspera da Páscoa e no  Natal.

 Nestas ocasiões se fazia “o dia da bugada”. Era uma faxina que se fazia em toda a casa. Lavavam e ferviam todas as  talheres, as cortinas eram lavadas, panos eram fervidos. Os móveis eram todos desencostados de seu lugar habitual e eram encerados. Era uma faxina geral!

“era um trabalho gigantesco... tudo era lavado ou exposto ao sol: roupas, cobertores, colchoes, travesseiros.  A louça era fervida numa composição de água, cinza e soda, a chamada “lìscia”...
 Os talheres, as panelas de alumínio eram esfregados à base de sabão, cinza e areia.
A mesma  “lìscia” era depois reutilizada pra esfregar o fogão ( de lenha), as mesas e as tábuas de madeira do chão da cozinha...”

As tradições italianas eram passadas  oralmente de pai para filho e durante uma época permaneceram invioláveis. 
As escolas da época possuíam poucos livros didáticos da antiga escola italiana porem na época da campanha nacionalizadora que aconteceu no Brasil muitos livros escritos em “Lingua italiana” foram queimados e somente alguns deles foram escondidos.


“Atualmente, em Rodeio, o dialeto é falado regularmente em locais públicos, na rua, nos bares, no mercado, mas sobremaneira na intimidade dos lares”.

Lembranças do Natal : Panetones, Peru e Surpresa Michelon

Ainda não era um costume mito difundido  aqui no Brasil mas na casa de meus pais não me lembro de um Natal ou Ano Novo sem os    “Panetones Bauduco  “ e o ” Peru do Evaristo”.



Na época do Natal já estávamos acostumados a ganhar todos os anos o “peru do Evaristo” !
Meu pai era um bom cliente da firma de auto peças “Evaristo Comolatti” e no dia 23 de dezembro,  por anos ininterruptos,  chegava dentro de uma geladeira de isopor um grande e enorme peru!
O Peru do Evaristo!
Nem nos preocupávamos em comprar um peru para a ceia do NATAL... o Peru era garantido!











Brincávamos também  que minha irmã mais nova deveria ter nascido com cara de Panetone ou  de um  vinho, o  “Surpresa Michelon”; pois minha mãe se deliciou fartamente com a dupla no final da gravidez.









Na época do Natal os preparativos começavam no mês de julho quando os representantes passavam na firma de meu pai para pegarem as encomendas dos Panetones que ele anualmente e religiosamente encomendava para distribuir para os amigos e empregados nas festas de fim de ano.


Era um corre corre essa  época de natal. Comprávamos  as “cestas de vime” e montávamos as mesmas a fim de presentear os empregados  e amigos da família e da empresa .

 Cada cesta era personalizada e dentro dela além de vinho, panetone, nozes, amêndoas, chocolates etc... ainda ia um presente especifico para cada filho do presenteado.


Certo Natal eu e minha irmã ficamos indignadas pois ele  havia comprado vários “radinhos de pilha” e “mini bonecas” ( novidade na época) para presentear os funcionários  e não sobrou nenhum para nós duas.

Ao ver minha mãe montando as cestas e “encerrando” dentro delas as bonecas e os radinhos de ilha o meu coração doía e minha mente se revoltava... Como ele era capaz de distribuir tantos radinhos e bonecas e não me dar nenhum ?  Foi uma decepção,  mas, enfim,  na noite de Natal eu e minha irmã ganhamos também nossa “mini boneca” e nosso “radinho de pilha”.

 Além do panetone meu pai também encomendava cestas pré montadas com os produtos da “Cica”.

Naquele ano,  final da  década de 70, ele resolveu se antecipar à  entrega das cestas e por isso foi um dos primeiros a fazer a encomenda dos  “Panetone  Bauduco”.
Acredito que no começo do  mês de Novembro ele tenha recebido  sua encomenda e logo no inicio de dezembro começou  a distribuir as cestas de natal que exigiam uma logística muito bem planejada para serem entregues aos seus destinatários.
 As cestas eram distribuídas para Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e vários locais em Belo Horizonte.
Lembro  dele chegando em casa e dizendo que enfim naquele ano ele estava mais tranquilo pois era dia 15 de dezembro e ele já havia entregue todas as cestas.
Vã ilusão...
No dia seguinte  ao termino das entregas ele resolveu abrir um panetone e viu que estava mofado. Ele abriu outro e novamente mofado... e assim ele encontrou vários... todos mofados!
Constrangido mas sem outra alternativa ele começou a ligar para alguns amigos que tinham recebido o Panetone e pediu a eles que abrissem os panetones  e constatou que quase todos estavam  mofados.

Contrariado e com muita raiva ligou para a fábrica e fez a reclamação. A fábrica imediatamente constatou o fato e sem demora resolveu reenviar para  meu pai mais... 200 panetones de 1 kg !

Não havia mais tempo para distribuir os panetones novamente e  naquele ano comemos e distribuímos panetones até o final do mês de março!

Não aguentávamos mais ver Panetone !






Filastroche

Essa aprendi com meu pai. Me lembro de pequena sentada sobre seus joelhos ou mesmo sobre seus pés. Ele me segurava com as duas mãos e fazia como se estivesse cavalgando um cavalo. A brincadeira começava devagarinho mas depois o cavalo saia em disparada... O ritmo dos pés ou dos joelhos acompanhavam a musica.

"Trót, Trót, cavalót,
La maqueja stá sem trót,
Tróta ben, tróta, mal,
tróta, tróta il asinót "

( Não consegui descobrir nenhuma outra filastroche como essa. Talvez minha memória tenha me enganado, mas é assim que me lembro. Não sei o que significa "maqueja" mas para mim soava como se fosse "menina")

"Trota, trota, cavalinho,
A menina está sem "trotar",
Trota bem, trota mau,
trota, trota o burrinho"

domingo, 22 de dezembro de 2013

Panetone Valtellinese alla Adolfo Bonini




  Todos os Natais ele me pedia de presente que fizesse para ele o panetone da região de onde ele veio, as montanhas da Valtellina.






A Valtellina  é um vale na região da Lombardia, no nordeste italiano, na fronteira com a Suiça. Atualmente é conhecida como uma região de resortes para a prática de esqui de spas termais e por seus queijos, principalmente o Bitto, e seus vinhos. Nos séculos passados, esta área era muito importante por se tratar de um ponto de passagem estratégico entre o norte da Itália e a Alemanha, sendo muito visado principalmente durante a Guerra dos Trinta Anos. Foi de suma importância também na formação do atual cantão dos Grisões onde Georg Jenatsch teve papel fundamental. (¹)

Aprendi a fazer o “Panettone Valtellinense” com uma prima, lá mesmo na Vila onde ele nasceu, “Palú .

 Claro que a receita foi adaptada para ele pois  queria que o panettone tivesse mais sabor de “Grappa” e muito, mas muito mais “nozes”. Assim surgiu uma tradição de todos os anos fazer o “ PANETTONE VALTELLINENSE alla ADOLFO BONINI”.

Eu cultivo esta tradição principalmente depois que ele partiu lá para cima... é uma forma de te-lo presente no Natal..



PANETTONE VALTELLINESE alla ADOLFO BONINI



- 400 GRS DE MANTEIGA
- 200GRS DE AÇUCAR
- 500 GRS DE NOZES PICADAS
- 400 GRS DE FARINHA DE TRIGO
- 1 COPO (AMERICANO)  DE GRAPA  - A LEGITIMA
- 4 OVOS INTEIROS
- UMA PITADA DE SAL
- 22 GRS DE FERMENTO PARA PÃO
- ( AS VEZES COLOCAVA 200 GRS DE FRUTAS CRISTALIZADAS OU FIGOS PICADOS0

Bater a manteiga e o açúcar. Dissolver o fermento num pouco de água morna. Misturar os ovos, grappa, sal, farinha de trigo, por fim o fermento e as nozes e as frutas cristalizadas.
Misturar bem e por para assar em forno médio por mais ou menos 1 hora.
Esta receita dá para 3 panettones pequenos.
Um Feliz Natal !
     








segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Dia de Santa Luzia - 13 de dezembro

E foi em um mês de dezembro, no dia 13, na casa da Nona Carolina.

Tia Cema nos lembrou:

- Matelotti ! Oggi é il giorno di Santa Lucia (Santa Luzia) !

Corremos, eu e minha irmã e colocamos no parapeito das janelas um prato com capim, cenouras e açúcar. O cavalinho de Santa Luzia passaria durante a noite e a Santa viria montada nele. Se o cavalinho parasse na nossa janela e comesse o capim, Santa Luzia agradeceria colocando "doces coloridos" em troca!

E lá vinha a historia... de Santa Luzia  no seu cavalinho!
Para mim foram dias mágicos, pois o dia de Santa Luzia nos avisava que o "Bambinel" (Papai Noel) chegaria em breve. 

E durante a noite eu te juro que ouvi o cavalinho de Santa Luzia passando na janela... Com certeza, minha tia! 

                                   "Santa Lucia, 
Mamma mia, porta roba´in casa mia,
Se la mamma no la ghe´n mete,
Resta voide le scudelete,
Co´la tasca del papá,
Santa Lucia vegnirá"

(Santa Lucia! Minha mãe traga algo para minha casa. Se a minha mãe não colocar algo no meu pratinho ele ficará vazio, mas com o bolso do papai... Santa Luzia vai chegar)

(ou seja, se a mãe não enchesse o pratinho o pai com certeza daria um trocado e assim o dia de Santa Lucia estaria realizado para as crianças.).

Fomos dormir com um misto de medo, euforia e paura. Aquelas emoções que só as crianças conseguem ter. 

Aqui, no Vale do Paraíba e em Minas Gerais eles recitam a seguinte trovinha para tirar cisco dos olhos, afinal ela é a padroeira dos oftalmologistas e na cultura popular tambem é a protetora dos olhos. 

"Santa Luzia passou por aqui,
Com seu cavalinho comendo capim"(Dóris Bonini)

Porque Coelhos e Ovos São Símbolos da Páscoa?

            ( Por: Dóris Bonini) Existem muitas explicações sobre "ovos" e "coelhos" como símbolos da Páscoa mas,  para ...